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segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

COISAS SIMPLES (E GRANDIOSAS)

Por Rangel Alves da Costa*

De repente, você encontra uma velha amizade e sente que a pessoa baixa a cabeça um tanto envergonhada, como se temesse não ser reconhecida nem cumprimentada. Geralmente acontece quando a situação de um parece estar melhor que a do outro e a pobreza faz a pessoa querer evitar reencontros.

Em instantes assim, como faz bem um olhar sincero, um abraço apertado, um punhado de palavras antigas, daquelas que se dizia em meio às alegrias de outros tempos. E logo a percepção que as amizades verdadeiras são aquelas construídas na flor dos anos e que não haverá pobreza ou riqueza que as tornem esquecidas.

Nem todos percebem, mas pessoas existem cujo sorriso no coração espera somente uma palavra ou um gesto amigo do outro. Chamar alguém pelo nome causa um efeito de chuva perante o sertão. Relembrar convívios passados causa um efeito de lua perante olhos enamorados. Perguntar por parentes, amigos e conhecidos, causa um efeito imensamente grandioso nos sentimentos.

É que as pessoas gostam de ser reconhecidas, valorizadas, consideradas pela história de vida e não apenas por situações. As pessoas - e quando mais em situação de humildade estejam - gostam de ser reencontradas, principalmente nos seus próprios lares, onde uma simples visita se torna num gesto inesquecível.

Pessoas existem que conviveram juntas a criancice, a meninice, boa parte da vida adulta. Por força do destino, cada uma segue um rumo diferente e mais tarde uma está com melhores condições de sobrevivência que a outra. Muitos sequer recordam do tempo passado, se negam sempre a relembrar os momentos iguais. A riqueza e a bonança os tornam esquecidos daqueles que sempre se mostraram verdadeiros amigos.


Lastimosos são os corações assim, vaidosos, egoístas, presunçosos. Não há maior pobreza de espírito que deixar de reconhecer o outro pelo fato de este estar economicamente fragilizado, por viver na pobreza ou não poder ostentar o mesmo anel. E se esquecem das voltas que o mundo dá e os exemplos recolhidos em cada passo da vida.

Grandiosa é a alma, primoroso é o espírito que possui a dádiva do reconhecimento, do amor incondicional, do companheirismo e da fraternidade. Imenso é o coração e potentado é o gesto daquele que convive para a vida e não para o momento, daquele que se reconhece apenas um favor divino e não uma imposição humana.

Vaidade das vaidades, tudo é vaidade, assim prega o Eclesiastes. Por que fugir ao bem e buscar a arrogância e a desnecessária altivez? O que hoje se mostra de uma forma, amanhã já terá outra feição. Quanto mais foge aos que cresceram no mesmo ninho mais perto estará da solidão do amanhã.

Gostar de quem gosta da gente é sublime reconhecimento. Sentir o que o outro sente é gesto incomparável de igualdade. E não é difícil saber quem verdadeiramente é amigo, quem nos admira, quem nos preserva no coração. Tudo na simplicidade do encontro, do olhar, do abraço, da palavra sincera.

Eis aqui as sandálias da humildade. Nenhum reinado é mais poderoso que uma boa amizade. O velho amigo - mesmo em barraco de cipó e barro - adoça o café no prazer em receber, entrega todo o contentamento do mundo porque não possui algo mais valioso para oferecer. E há muita gente assim na minha Nossa Senhora da Conceição de Poço Redondo.

Conheço o dourado, o de anel, o de riqueza e o que pensa que tem. Conheço o rico e o pobre, a arrogância e a humildade, aquele que é amigo e aquele que apenas finge, que sempre age por conveniência. Mas afirmo com sinceridade: sempre abraçar o velho amigo de chapéu de couro e roupa remendada, sempre abraçar aquela de mão calejada e feição marcada pelo sacrifício. E assim com o moço, a moça, o jovem, o menino. É que aprendi a amar os meus iguais.

Por que somos apenas o que somos. Antes de tudo a raiz. E sem sair do chão. Por que a ele retornaremos feito pó, leve, suave e com a consciência dos justos.

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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