Por Jerdivan Nóbrega de Araújo
Severino
Serafim da Costa, Biíno, nasceu na Rua do Rosário no dia 06 de fevereiro de
1923, casou-se aos 33 nos de idade com Rita, mais conhecida como Mussum, então
com 14 anos.
Rita, batizada
com fumaça e cachaça nos batentes dos bares e cabarés de Pombal, era uma
morena, “moça”, muito bonita, de olhar atraente, cabelos ao vento, cobiçada
pelos muitos clientes de Noemi, cafetina e chefa do “Rói Couro de Pombal”,
quando este ainda se chama de “Frejo.”.
Ela botou em Biíno um belo par de chifres, logo no terceiro ano do casamento. Foi este par de chifres colocado pela sua Dulcinéia, que o transformou no que o povo de Pombal passou a chamar de “pau d’água”. Entregou-se, o pobre homem, de corpo e alma as ruas, por onde perambulou e bebeu cachaça, tornando-se tão popular quanto os políticos que por ali passaram.
Mussum era uma morena bonita que chegou a Pombal através do velho trem “Maria
fumaça”, vinda ninguém sabe de onde. Naquela época, graças à construção da
Brasil Oiticica era comum as mulheres procurarem a cidade para se prostituir.
A Estação do
trem era o local mais atraente para se arranjar uma namorada. Não tínhamos
ainda o Cine Lux. De forma que o passeio na “Pedra da Estação” era o programa
obrigatório dos jovens boêmios de Pombal.
Biíno era
metido a galã, e por ser um dos melhores tocadores de fole de oito baixos da
região, gozava da amizade e do respeito de outros boêmios. Andava muito bem
arrumado, roupa nova, pente e espelho redondo no bolso da camisa. Usava óleo de
ovo e lavanda Suíça, para dar mais brilho a sua cabeleireira.
Foi num desses
bailes no frejo que a morena de olhar trigueiro, se apaixonou por ele, ao vê-lo
fazendo malabarismo com seu fole, arrancando aplausos dos que assistiam ou
rodopiavam no salão.
A linda morena pergunta para Zezinho de Caboclo: “Quem é este rapaz que toca tão bem este instrumento?”.
– É um rapaz
daqui mesmo. Respondeu Zezinho Caboclo.
Minutos
depois, Zezinho contou a Biíno que a bela morena havia simpatizado por ele.·.
Fim de festa,
morto de cansado, sanfona na mochila, saiu o tocador para a sua casa, com o
fole nas costas, e o pensamento naquela morena que nunca mais saiu do seu
juízo.
No dia
seguinte, Biíno foi à casa da rapariga Noemi, que morava a uns cem metros do
Frejo, onde Mussum havia encontrado guarida. Encontrou-a numa sala, conversando
com outras mulheres. Galã e conhecido no Rói Couro que era, foi recebido por
Noemi ainda na porta, que o mandou entrar. Biíno logo a pediu Mussum em namoro.
Naquele tempo
era assim: Ia-se direto ao compromisso. Ela respondeu que queria. Biíno
perguntou qual a cidade que ela morava no Rio Grande do Norte, nome dos seus
pais, o endereço completo. Dois dias depois, escreveu para seus pais enviando
carta recomendada, pedindo os documentos como: batistério, registro de
nascimento e o motivo da sua pretensão.
Doze dias
depois teve a resposta. Recebeu uma carta onde continha todos os documentos
pessoais da sua amada. Foi o bastante. Era o que ele queria.
Marcou o
casamento e aproveitando as missões de Frei Damião, casou-se com Mussum na Igreja
Matriz de São Pedro, bairro onde morou até sua morte.
Um
frequentador de Rói e uma rapariga sendo abençoado pelo santo do povo sertanejo
era impossível que não desse certo. Mesmo com a oposição ao feito por parte das
“Filhas de Maria” que não admitiam que uma prostituta fosse abençoada por tão
santa figura casório se deu.
Talvez tenha
sido estes ‘olhos de maldades’ que fez com que aquele casamento durasse tão
pouco. Pois é: a sua convivência com Mussum foi breve. Viveu sete anos com ela.
Com apenas três anos de casado, Mussum o traiu “com um cabra sem futuro. Um
asilado do rói”.
Ferido e
magoado, só não deixou a casa porque seus filhos ainda estavam muito pequenos.
Continuou com ela, mesmo guardando no peito esta grande mágoa. Passou a beber
mais ainda, sem ter hora certa para chegar em casa. Já não tocava mais seu Fole
de Oito Baixos. Tudo mudou. Mussum também aprendeu a beber cachaça, não lhe
obedecia mais. Fazia o que tinha vontade. Seu lar se desmoronou a proporção que
os dias passavam.
Mais uma vez
entra em cena o trem que, como mostrado anteriormente, leva e tráz os sonhos do
povo de Pombal.
Foi exata no
trem que a trouxe, que certo dia Mussum inventou uma viagem para Iguatu,
contrariando a vontade de Biíno, e lá se deu mal.
Decorridos dez dias mais ou
menos, Biíno teve um mau pressentimento.
Foi exatamente
numa tarde de Sexta-feira 13, que ele recebeu um telegrama, noticiando que
Mussum havia falecido. Fora atropelada por um caminhão, tendo morte
instantânea. Foram palavras cruéis textualmente contidas naquele telegrama
entregue pelas mãos do carteiro Ribinha. Era o fim de tudo. Ficou mais
deprimido ainda.
“Iracema, eu
falava, você não escutava não. Iracema, você travessou contra mão...”.
Mussum foi
sepultada no Ceará, em razão de não poder transportá-la para a cidade de
Pombal. “Estava liso! Não tive dinheiro de vê-la pela última vez”. Disse ele.
Com a morte da
sua amada, Biíno voltou para casa da sua mãe, no Bairro dos Pereiros, onde mora
com o seu filho Titico e seu irmão Rói Couro que ganhou este nome em homenagem
ao local onde nasceu e foi criado.
Biíno nunca
mais seria nada: nem tocador, nem boêmio, só cachaceiro mesmo.
Biíno tinha
das suas. Devoto de Frei Damião que é um dia alguém mandou que ele tomasse
banho e trocasse de roupa, ele perguntou:
—Tem certeza
que frei Damião vem hoje?
Pois é, para
ele, tomar banho só se fosse para receber o santo da sua devoção.
Um dia, encontrou
o prefeito no meio da rua, conversando numa roda de amigos. Não hesitou em ir
até lá e pedir um trocado para tomar sua cachaça. O prefeito enfiou a mão no
bolso e lhe deu muito mais do que ele esperava. Feliz, aproveitou para fazer o
seguinte discurso de agradecimento:
― Isto é que é
prefeito! A gente pede um ele dá dez. Também, dinheiro roubado da prefeitura...
Ps 1. Esse
texto foi feito com base em entrevista realizada por Genival Severo com Biíno
Ps2. Obs 2 (Severino Serafim da Costa (Biíno), 06 de fevereiro de 1923 a 05 de
dezembro de 2000
Ps3 . No Livro de mina autoria “NA TELA DO CINE LUX DE POMBAL” Imrell 2001 (FICÇÃ0), Biíno é Prefeito e Mussun primeira dama de Pombal de Pombal
Ps3 . No Livro de mina autoria “NA TELA DO CINE LUX DE POMBAL” Imrell 2001 (FICÇÃ0), Biíno é Prefeito e Mussun primeira dama de Pombal de Pombal
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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