O professor
universitário José Romero Araújo Cardoso, do curso de Geografia da Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), foi o grande campeão do II Lembrança
do Ídolo, um concurso de crônicas realizado em São João do Rio do Peixe-PB.
Este ano o homenageado foi o multi-instrumentista Sivuca. Ele também ficou em
segundo lugar no II Concurso Prêmio A Carta, que neste ano homenageou Seu
Januário, o pai de Luiz Gonzaga.
Natural da
cidade de Pombal (PB), o professor Romero irá ao município de São João do Rio
do Peixe-PB, onde receberá sua premiação e troféu durante o IX Festival de
Músicas Gonzagueanas (FESMUZA), no dia 20 de agosto.
Crônica - “As
feiras livres nordestinas caracterizaram-se, em um passado não muito distante,
por serem verdadeiros repositórios para a comercialização da produção
artesanal, as quais personificam formas perfeitas e acabadas do trabalho
coletivo ou individual com pouco ou nenhum uso dos artefatos sofisticados
surgidos com a industrialização.
Em épocas
pretéritas havia ênfase quase absoluta nas feiras livres nordestinas para a
venda do que era produzido na região ou na própria localidade, estando hoje
visivelmente submetidas aos ditames contidos no comportamento da economia
globalizada, sendo facilmente encontrados produtos de fora, do exterior, em
consonância com a oferta de objetos e demais artes da cultura popular
genuinamente regional. Nesses espaços marcantes, a interação entre as pessoas
verifica-se notavelmente, fomentando formas variadas de contato, as quais vão
da pechincha dos fregueses com comerciantes ao bate-papo descontraído sobre
fatos e personagens locais e das redondezas, entre inúmeras outras maneiras de
tangência direta da própria sociedade.
Momento
sublime de referência às feiras livres nordestinas encontra-se em composição
musical de autorias de Severino Dias de Oliveira, mais conhecido como Sivuca
(Itabaiana/PB, 26 de Maio de 1930 – João Pessoa/PB, 14 de Dezembro de 2006) e
de Glória Gadelha (Sousa – Paraíba, 19 de Fevereiro de 1947 - ), a qual
sintetiza de forma invulgar e extraordinária a importância assumida pelas
manifestações da cultura popular enquanto marca indelével dos espaços abertos
que integram economicamente os circuitos inferiores do processo de
comercialização no Nordeste Brasileiro.
O povo sertanejo,
com suas criações, invenções, interações e maneiras como se apresenta a
culinária regional, integram os refrões marcantes de uma das mais belas canções
regionais, pois é notável o apelo à compra do que é ofertado através do
destaque dado aos produtos. Fumo de rolo, arreio, cangalha, bolo de milho,
broa, cocada, pé-de-moleque, alecrim, canela, cabresto de cavalo, rabichola,
pavio de candeeiro, panela de barro, farinha, rapadura e graviola são vendidos
há tempos imemoriais em feiras livres nordestinas, razão pela qual a
identificação espaço-tempo é realizada sem nenhum empecilho no que tange ao
entendimento por aqueles que, nordestinos de fato, escutam Feira de Mangaio,
tendo em vista que, invocando conceitos pertinentes a lugar e ao espaço vivido,
a tradução precisa acerca de pertencimento está explícita de forma clara e
objetiva, pois as representações da geografia humana contidas em uma feira
livre nordestina estão definidas com precisão, razão pela qual personagens
reais do mundo dos compositores, sobretudo ao que pertence Glorinha Gadelha,
estão imortalizados através da arte sublime de dois gênios de sensibilidade
extraordinária, aos quais o povo do Nordeste deve agradecer eternamente pelo
legado ímpar e autêntico que valoriza exponencialmente toda região.
Tudo foi
logisticamente invocado em Feira de Mangaio, desde a feira de pássaros à
vendinha localizada de forma estratégica, a qual não pode faltar em uma feira
livre nordestina, onde um mangaieiro ia se animar, tomando bicada com lambu
assado, olhando para Maria do Joá, passando pelo sanfoneiro no canto da rua,
fazendo floreio para a gente dançar, com Zefa de Purcina fazendo renda e o
ronco do fole sem parar, dando ênfase à necessidade do sertanejo de xaxar o
roçado que nem boi de carro para garantir a sobrevivência de si próprio e da
sua família, finalizando com o fomento de que alpargata de arrasto não quer lhe
levar para sua labuta, pois o forró inebriante tomava conta da feira em todos
os quadrantes.
Causa
admiração que Feira de Mangaio tenha sido composta na globalizada e cosmopolita
Nova York, quando o casal residia nos Estados Unidos. A estrutura começou a se
efetivar quando Glorinha Gadelha estava em uma aula de inglês, sendo concluída
em um fast food da McDonalds, mas foi a bucólica e sertaneja cidade-sorriso que
serviu de inspiração para um dos mais belos símbolos musicais do Nordeste
Brasileiro.
” [1] Crônica
vencedora do II Concurso Lembrança do ídolo, promovido pelo Grupo União São
Francisco – Caldeirão Político no ensejo do IX Festival de Músicas
Gonzagueanas.
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