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quarta-feira, 28 de setembro de 2016

CARTA DE LAMPIÃO AO GOVERNADOR DE PERNAMBUCO

Por Analucia Gomes

Lampião dirige carta ao então governador do estado de Pernambuco, Júlio de Melo, que lhe fora entregue pelas mãos de Antônio Guimarães, chefe de polícia do estado num momento qualquer de sua trajetória. O conteúdo do texto escrito por Lampião rezava os motivos da partilha do estado entre o litoral e o sertão. Ficaria o mar por conta do governador e o sertão segundo o mando do chefe cangaceiro.


Senhor governador de Pernambuco,

Faço-lhe esta devido a uma proposta que desejo fazer ao senhor para evitar guerra no sertão e acabar de vez com as brigas. Se o senhor estiver no acordo, devemos dividir os nossos territórios. Eu que sou capitão Virgulino Ferreira Lampião, Governador do Sertão, fico governando esta zona de cá por inteiro, até as pontas dos trilhos em Rio Branco. 


E o senhor, do seu lado, governa do Rio Branco até a pancada do mar no Recife. Isso mesmo. Fica cada um no que é seu. Pois então é o que convém. Assim ficamos os dois em paz, nem o senhor manda seus macacos me emboscar, nem eu com os meninos atravessamos à extrema, cada um governando o que é seu sem haver questão. Faço esta por amor à Paz que eu tenho e para que não se diga que sou bandido, que não mereço. 

Aguardo a sua resposta e confio sempre. 
Capitão Virgulino Ferreira Lampião, Governador do Sertão (MACIEL, 1988, p. 38). 

A atitude de Lampião (se de deboche, se irônica, se verdadeira, embora pelo tom pareça verdadeira) é de caráter universal entre os bandidos. 

* Pesquisa de Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro/Simão Pedro dos Santos.

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