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segunda-feira, 10 de outubro de 2016

AS ENCHENTES DO RIO MOSSORÓ - 09 DE OUTUBRO DE 2016

Por Geraldo Maia do Nascimento


Quem olha hoje para o Rio Mossoró, de águas mortas e cobertas de vegetação, preso em suas barragens, cortado por pontes e dividido em três braços, dificilmente pode imaginar o que foi esse rio no passado, correndo livre em seu leito, calmo e navegável durante o nas secas, mas extremamente violento nas enchentes, arrancando árvores e arrastando-as perigosamente ao longo do seu curso, ilhando comunidades, causando transtorno a população, fenômeno esse observado pelos índios que habitaram primitivamente a sua ribeira, e que por isso o chamaram de Mossoró, que em Tupi significa “rio furioso, que rompe e rasga o terreno”.



Tive acesso a um depoimento do Dr. Raul Fernandes, médico, filho do ex-prefeito Rodolfo Fernandes, que retrata bem essa época.
               
A família do Dr. Raul morava, estava no Sítio Boa Vista, vizinho ao dos Pintos, a meia légua de Mossoró. A casa ficava no centro da propriedade, a um quilômetro do rio, situada numa pequena elevação e cercada de carnaubais.
               
Certa manhã de 1917, despertaram assustados. Estavam ilhados. A água subira no piso do alpendre, em frente à casa e espalhava-se numa grande extensão para todos os lados. Quase metade da cidade amanhecera inundada. A correnteza passava vários palmos por cima da barragem, a grande velocidade, produzindo estrondos. Choupanas cobertas de palha de carnaúba eram arrastadas pela enxurrada, assim também como animais, aves domésticas, árvores, malas, baús e objetos caseiros boiavam rio abaixo.
               
Notícias alarmantes chegavam do interior, relatando que as fortes chuvas que tinham caído na altura da nascente do rio, tinham deixados habitantes desabrigados, que vários barreiros tinham transbordado e que açudes e represas estavam arrombando. A consequência é que as águas corriam formando ondas e se espalhavam nas partes planas do solo.
               
Rodolfo Fernandes tinha dormido na cidade e pela manhã, quando viu o estrago que o rio estava fazendo, mandou uma lancha a motor buscar a família que tinha ficado no sítio, em número de seis pessoas: o Dr. Raul, que na época estava com nove anos de idade, sua irmã Isaura Fernandes, sua mãe, uma tia e um tio, além da empregada. Segundo as lembranças do Dr. Raul o batel, que era equipado com um pequeno motor, chegou cedo ao sítio, pilotada por Seu Aristides e um ajudante, portando vara e dois remos pequenos. Lembrou que a todo instante se ouvia o soar agudo dos búzios, num triste lamento, pedindo socorro. Com toda a família a bordo, navegaram entre o carnaubal, na direção da margem, quando uma forte correnteza arrastou a lancha de encontro a uma carnaubeira, enchendo-a de água e logo depois esbarrou nos galhos de uma árvore que vinha sendo arrastada pela enchente. Com o impacto o jovem Raul caiu na água, sendo resgatado por Seu Aristides, que conseguiu nadar com o garoto até uma outra carnaubeira ficando ali agarrado, enquanto o restante da família, na mesma situação, agarrava-se as carnaubeiras. O ajudante saltou da embarcação levando a ponta da grande corda presa à proa. Nadou um pouco e andou em direção a terra. Amarrou-a numa árvore e passou a puxar o barco auxiliado pelos moradores da região. Assim o batel alcançou a margem e começaram, então, a esvaziá-lo. Em pouco tempo voltava a flutuar. Foi puxado mais para cima, contra a correnteza e a corda amarrada em terra. O rapaz com a vara empurrava a lancha para fora, seguindo o curso das águas até alcançar as pessoas. Assim foram resgatadas todas. Mas ainda estavam longe da cidade. Foi preciso mandar um portador, que saiu a pé margeando o rio até Mossoró, com um recado para Rodolfo Fernandes, que enviou um barco maior, com motor mais potente e foi nesse barco que conseguiram chegar a cidade, depois de muito sacrifício e risco de morte. No outro dia as águas começaram a baixar com rapidez.
               
Essa narrativa ilustra bem a força do rio quando cortava livre a cidade. Hoje praticamente não se vê mais as suas águas, apenas um verde campo florido, de uma vegetação que cobre o seu leito, sufocando-o, tornando-o sem vida e mau cheiroso. Sua força permanece apenas no nome “Mossoró – rio furioso, que rompe e rasga o terreno”. E nada mais. 

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Autor:
Jornalista Geraldo Maia do Nascimento
Fontes:

http://www.blogdogemaia.com

http://josemendespereirapotiguar.blogspot.com.br
http://blogdomendesemendes.blogspot.com 

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