*Rangel Alves
da Costa
E se de
repente a montanha mais alta, mais larga e mais robusta, despenca de sua altura
e cai por cima de um mísero grão de areia que por acaso repousava numa beira
qualquer de estrada?
Logo vem uma
clara imaginação: nada mais restará ao grão de areia. Mas será assim mesmo?
Certamente que outra ideia não se faz senão a de que o grão de areia logo
deixará de existir. Ora, o que é um mísero grão perante a maior das montanhas?
Supõe-se algo
assim como uma formiga pisada por uma bota, como uma folha seca pisoteada pelo
caminhante, como uma pequena poça d’água ante um largo pneu. Um quase nada
sendo esmagado por uma imensidão que se desprende voraz.
E não é fácil
pensar diferente. Se uma imensidão de pedra, rocha, granito, calcário, areia e
outros minerais, desabam uniformemente sobre um grão ou qualquer outra coisa,
não há mesmo que se imaginar qualquer sobrevida ao que foi vorazmente esmagado.
É a lei da
destruição pelo peso, pelo impacto ou pelo esmagamento. Neste sentido, o
impacto será tal sobre o grão de areia que este jamais sequer será avistado ou
recordado. Apenas o que sobre ele caiu de forma destruidora.
Contudo, há
uma revelação que tudo pode modificar: ao desabar e cair, também a montanha se
descompacta, deixa de ser o todo para se tornar em partes. E partes que também
se diluem em partes menores, até mesmo esfarelando.
Ora, se a
montanha ao cair tende a se dividir no seu todo, certamente que o que cai sobre
o grão logo se estilhaça. E ao se estilhaçar pelo impacto da queda, serão
pedaços que ficarão por cima do grão. E tais pedaços também transformados em
grãos de areia.
Considerando-se
que grão de areia é uma partícula de rocha degradada, muito do que estará por
cima após a queda igualmente já estará na condição de grão de areia. Então,
será um amontoado de grãos por cima daquele tão pequenino grão.
Então, como se
observa, aquele grão não se findou quando a montanha caiu sobre si. Pelo
contrário, se misturou aos outros grãos de areia que se formaram após o
estilhaçamento da montanha sobre o chão.
Contudo,
necessário dizer que os novos grãos muito se diferenciam daquele preexistente
no lugar. Ao serem abruptamente transformados, os novos grãos não passam de
amontoados de areia, inermes, sem vida.
E
diferentemente ocorre com o outro grão. Dentro dele uma minúscula partícula de
vida que logo rebentaria. Daquele pequeno grão surgiria um broto, um caule, uma
folha, um fruto. Prenhe na natureza, porém premido quando já ia brotar, guardou
dentre si aquela vida.
Enquanto os
outros grãos estavam acima de si apenas como grãos, aquele pequenino ainda
respirava e suspirava. E mesmo no calor e na escuridão, mesmo sem qualquer
força para se mover, sentiu quando a vida nova irrompeu para fora de si.
E uma árvore
foi subindo, rompendo passagens, buscando caminhos, até que um dia, muito tempo
depois, já podia ser avistada imponente em meio e muito acima daquele amontoado
de terra, daquele monte de grãos.
Significa
dizer que nem a montanha vence o grão. E não porque o amontoado caído por cima
foi formando uma junção apenas de areia sobre areia. Não. Simplesmente por que
o pequenino grão soube vencer a destruição pelo compromisso que guardava dentro
de si.
Mesmo tendo
por cima milhões ou bilhões de outros grãos, ainda assim esperou seu momento
chegar. Certamente que não subiu acima dos outros grãos, mas sentiu seu fruto a
tudo vencer.
Os outros
grãos novamente em montanha se transformaram. Mas aquele pequenino grão de
areia em raiz se transformou. E de dentro de si a árvore mais bela e imponente
que já beijou as nuvens, que já chegou pertinho do céu.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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