Por Sálvio Siqueira
Foto cangaçonabahia.com - lampiãoaceso.com - PS// A imagem de lampião foi colorizada, digitalmente, pelo professor Rubens Antonio
Naquele tempo
os sertanejos que transporiam a barreira da ‘ilegalidade’, transformando-se em
fora-da-lei usaram, ou foram apelidados, alcunhas que, de alguma forma,
maneira, os ligavam a tais apelidos exceto as exceções, é claro.
Vejamos o caso
do cangaceiro “Vinte e Cinco”. Segundo os pesquisadores esse apelido em José
Alves de Matos foi-lhe dado por o mesmo ter entrado no cangaço em um dia 25 de
dezembro, dia que se comemora o Natal.
Já Isaías
Vieira, recebe a alcunha de Zabelê por esse ser o nome popular de uma ave de um
entoado e bonito canto, já que Isaías era o cantador do grupo. Tanto cantando
os forrós acompanhado por Balão ou mesmo Lampião com o fole, como os versos dos
poetas de cordéis em toadas.
Sabemos,
segundo as obras dos escritores, que Livino Ferreira brigava rodopiando, se
jogando de um lado para outro falando diversos impropérios diante dos
adversários ou inimigos. Acreditamos que por esse motivo recebeu a alcunha de
“Vassoura”.
E assim meus
amigos, apareceram Amoroso, Andorinha, Acuana, Alfinete, Assombro, Anjo Novo,
Alecrim, Atividade, Arvoredo, Azulão, Ameaça, Asa Branca, Ás de ouro, Balão,
Baioneta, Batoque, Boi Preto, Bronzeado, Bode velho, Labareda, Corisco,
Moderno...etc., e mais uma infinidades de alcunhas.
Segundo o
escritor João Gomes de Lira em seu livro “Lampião – Memórias de um Soldado de
Volante”, 1ª edição. 1990, são quatro as versões de como surge o apelido
“Lampeão”. Segundo o ex volante, referindo Olímpio Benedito, no pingo do meio
dia, em um descanso num coito na Lagoa dos Soares, os apelidos dos três irmãos,
Antônio, Livino e Virgolino, surgiram espontaneamente como “Esperança”,
“Vassoura” e “Lampeão”, respectivamente.
A segunda versão é citada de quando os irmãos Ferreira já estavam em terras alagoanas junto ao bando dos “Porcinos”. Cita-nos o autor que em determinado combate, Virgolino ‘pêia’ a alavanca de seu rifle. Ele tinha pegado o lenço e amarrando-o n o gatilho da arma, o amarra na alavanca. Ao manejar a alavanca para levar a bala para agulha da arma, essa já disparava, “automaticamente” quando ele retornava a alavanca. Na velocidade dos disparos forma-se um clarão, quase que constante, na boca do cano do rifle. A terceira versão que consta na obra de Lira, é que, certa feita, os “Porcinos’ sequestram um cidadão chamado Artur Pinto e família, no meio de uma estrada. Desse sequestro resulta a morte, em martírio, do Patriarca, estando fazendo parte do bando os irmãos Ferreira. Antes dos bandidos irem embora, a volante comandada pelo sargento Aniceto chega com sessenta Praças, entrando em combate no ato com os doze cangaceiros. Saindo-se um grande combatente, Virgolino ganha a alcunha de “Lampeão”. A quarta e última versão contada pelo escritor João Gomes de Lira, ele referiu que, já estando junto ao chefe cangaceiro Sinhô Pereira, e perguntado sobre uma ‘brigada’ que tinham dado contra a Força Pública, Virgolino responde que nela, “... no tiroteio da noite anterior, jamais faltou clarão. Ao ouvir estas palavras, os célebres cangaceiros Baliza e Cajazeiras, gritaram: “- Temos agora um Lampeão! Temos agora um Lampeão! Não andaremos mais no escuro! Não andaremos mais no escuro!””.
O
pesquisador/historiador José Bezerra Lima
Irmão, em sua obra, livro “Lampião – A Raposa das Caatingas”, 2ª edição.
2014 refere o seguinte:
“... o apelido “Lampeão” teria sido dado no bando de
Sinhô Pereira, quando certa noite Virgolono fez a experiência pela primeira
vez, na fazenda Quixaba (do rifle peado). Ao ver aquela luz contínua na boca da
arma, um cabra chamado Dé Araújo, entusiasmado, teria exclamado:
- Isso nun é um rife, isso é lampeão de Vila Bela!
Um cangaceiro gaiato chamado Fiapo gritou:
- Apois acenda esse lampeão de novo, pra eu acendê meu cigarro!...
A cabroeira achou graça, todo mundo queria ver como era que o novato fazia uma coisa daquelas. Fiapo vibrou:
- Eta, lampeão da gota serena!
Resultado: o inventor do “rifle peado” passou a ser chamado de “Lampeão”.”
Ainda existem outras e outras versões para que aparece-se esse apelido em Virgolino.
O blog pontodeculturacabrasdelampiao.com, em sua matéria “LAMPIÃO:
A ORIGEM DO APELIDO” refere:
“(...)Certa ocasião planejavam um ataque à fazenda Quixaba, em Queixada, atual município de Mirandiba. Na elaboração do plano, Sinhô Pereira distribuía as funções e por onde cada um deveria seguir.
“- Esses três seguem na direção que for Mão de Grelha. Baliza e Dé Araújo seguem Virgolino”, dizia mais ou menos isto.
“- Como saberemos seguir Virgolino se a peleja será na escuridão da noite?” Perguntou o jovem cangaceiro Dé, que viera da fazenda Ema e era irmão de Olímpio Cavalcanti Araújo, amigo de infância e colega de estudo de Virgolino.
Antes do chefe
responder, Virgolino profetizou seu futuro nome, que substituiria para sempre o
que recebera no primeiro sacramento.
“- Siga o lampião. Vou abrir fogo com tanta velocidade que o cano de minha arma vai iluminar feito um lampião!”
E foi censurado tenazmente:
“- Olha, que atire rápido, tudo bem. Mas deverá atirar somente o suficiente pra matar ou afugentar. É bom saber que munição de cangaceiro é adquirida a duras penas”.
Esta repreensão de Sinhô Pereira estimulou os companheiros a ficarem lhe apelidando de Lampião(...).”
Dizem até que poderia ter sido, ainda, quando o mesmo trabalhava como almocreve, levando mercadorias do industrial Delmiro Gouveia, quando um de seus animais, burro, mula, choca-se contra um lampeão que iluminava as ruas de Água Branca.
No processo movido contra alguns cangaceiros em 9 de maio de 1921, testemunhas já referiam essa alcunha para Virgolino Ferreira.
Sabe-se que o primeiro a divulgar pela rede social da época, teria sido o jornal “Correio da Pedra”, de Pedra de Delmiro. Ganhando os quatro cantos da Região quando fora mostrado em matéria do jornal “Diário de Pernambuco”. (Fonte Ob. Ct.)
Particularmente,
acredito na versão do “rifle peado”. É tanto que para se manobrar esse tipo de
arma, a pessoa é orientada a retirar o dedo do gatilho, para não correr um
disparo involuntário.
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