*Rangel Alves
da Costa
O simples ato
de perguntar realmente não deveria ofender a ninguém. Ora, uma pergunta e uma
resposta, e pronto. Tem gente que tanto faz que lhe perguntem ou não, pois
também tanto faz responder com a verdade ou não. Outros respondem a tudo e
sempre com respostas que vão além do perguntado. Aproveitam a situação para
desencavar escondidos. Já outros fogem das indagações, afirmam que não sabem de
nada ou simplesmente silenciam de vez.
Não sei por
que assim, pois perguntar não ofende. A não ser que a resposta possa provocar
uma consequência devastadora, tanto para o questionado como para terceiro.
Nesta situação, o silêncio se torna garantia contra o indesejável. Contudo,
situações existem onde o silêncio se perpetua pelo simples fato de que não há
quem responda, ainda que muitos tivessem a obrigação de responder. Às vezes um
questionamento se generaliza na população e absolutamente ninguém de direito
faz o obséquio de dirimir a dúvida.
Por exemplo,
muita gente quer saber por que após serem eleitos – e geralmente durante todo o
mandato – os governantes, principalmente os prefeitos, deixam de andar pelas
ruas das cidades para conhecerem de perto seus problemas. A verdade é que após
a vitória se aboletam nas cadeiras do poder, ordenam por notas, reuniões ou
telefonemas, e simplesmente esquecem que as cidades existem. Mesmo que haja um
secretário para cada pasta, creio que seria muito mais respeitoso à população
que o os próprios mandatários procurassem conhecer as carências de sua
municipalidade.
Por todas as
cidades há problemas sérios a serem ainda resolvidos pelo prefeito municipal. O
povo quer saber por onde anda aquele candidato do povo, aquele sempre presente
junto à população, aquele que noutros idos era avistado por todo lugar. Depois
de assentado no poder, só aparece em inaugurações ou em canteiros de obras,
abdicando de vez de conhecer de vez como andam as ruas, praças e avenidas,
centros de saúde e hospitais. Acaso caminhasse pelas ruas, certamente iria
achar um absurdo que a sua administração continue condizente com a lixeira que
todo dia toma conta das vias e logradouros.
Neste aspecto,
nem o prefeito nem o secretário da limpeza urbana conhece as ruas da cidade.
Acaso conhecesse estaria praticando crime de responsabilidade por dano à
qualidade de vida da população e pelo impedimento à livre e segura locomoção
pelas calçadas da cidade, vez que a administração tem o dever de não permitir
que os proprietários façam uso abusivo e prejudicial de suas calçadas. E
permitir que o dono de um restaurante utilize a calçada como depósito de lixo,
impedindo a livre locomoção das pessoas, é negligenciar culposamente.
Após eleito,
cada administrador parece procurar para si uma redoma, um esconderijo ou coisa
parecida. Mas como perguntar não ofende, será que assim faz para não prestar
contas dos compromissos assumidos em campanha ou será simplesmente acha que não
deve mais satisfação a ninguém? Ledo engano imaginar assim, pois uma gestão
passa muito rapidamente e não dura muito para ter de novamente enfrentar a
população e o eleitor, afinal de contas precisa fazer o sucessor ou se manter
no poder através de seu grupo político.
Sim, perguntar
não ofende - ao menos não deveria - e é preciso saber por que os eleitos tanto
choram ao assumirem o poder, sempre dizendo que encontraram as prefeituras com
cofres vazios e débitos incalculáveis, mas para sentar no trono do mando e
desmando gastaram valores muito acima das somas que receberão como gestores
durante os quatro anos do exercício do mandato. Será que é para fugir das
promessas, das responsabilidades, dos compromissos com o povo e a
municipalidade?
A verdade é
que todo prefeito em fim de mandato já está com a conta bancária bem mais
polpuda, com o patrimônio bem mais abastado, enquanto que a municipalidade
quase sempre devastada, empobrecida, carente de tudo. É a velha história: secar
a fonte do povo para encher moringa própria.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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