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quarta-feira, 9 de novembro de 2016

PERGUNTAR NÃO OFENDE

 *Rangel Alves da Costa

O simples ato de perguntar realmente não deveria ofender a ninguém. Ora, uma pergunta e uma resposta, e pronto. Tem gente que tanto faz que lhe perguntem ou não, pois também tanto faz responder com a verdade ou não. Outros respondem a tudo e sempre com respostas que vão além do perguntado. Aproveitam a situação para desencavar escondidos. Já outros fogem das indagações, afirmam que não sabem de nada ou simplesmente silenciam de vez.

Não sei por que assim, pois perguntar não ofende. A não ser que a resposta possa provocar uma consequência devastadora, tanto para o questionado como para terceiro. Nesta situação, o silêncio se torna garantia contra o indesejável. Contudo, situações existem onde o silêncio se perpetua pelo simples fato de que não há quem responda, ainda que muitos tivessem a obrigação de responder. Às vezes um questionamento se generaliza na população e absolutamente ninguém de direito faz o obséquio de dirimir a dúvida.

Por exemplo, muita gente quer saber por que após serem eleitos – e geralmente durante todo o mandato – os governantes, principalmente os prefeitos, deixam de andar pelas ruas das cidades para conhecerem de perto seus problemas. A verdade é que após a vitória se aboletam nas cadeiras do poder, ordenam por notas, reuniões ou telefonemas, e simplesmente esquecem que as cidades existem. Mesmo que haja um secretário para cada pasta, creio que seria muito mais respeitoso à população que o os próprios mandatários procurassem conhecer as carências de sua municipalidade.

Por todas as cidades há problemas sérios a serem ainda resolvidos pelo prefeito municipal. O povo quer saber por onde anda aquele candidato do povo, aquele sempre presente junto à população, aquele que noutros idos era avistado por todo lugar. Depois de assentado no poder, só aparece em inaugurações ou em canteiros de obras, abdicando de vez de conhecer de vez como andam as ruas, praças e avenidas, centros de saúde e hospitais. Acaso caminhasse pelas ruas, certamente iria achar um absurdo que a sua administração continue condizente com a lixeira que todo dia toma conta das vias e logradouros. 


Neste aspecto, nem o prefeito nem o secretário da limpeza urbana conhece as ruas da cidade. Acaso conhecesse estaria praticando crime de responsabilidade por dano à qualidade de vida da população e pelo impedimento à livre e segura locomoção pelas calçadas da cidade, vez que a administração tem o dever de não permitir que os proprietários façam uso abusivo e prejudicial de suas calçadas. E permitir que o dono de um restaurante utilize a calçada como depósito de lixo, impedindo a livre locomoção das pessoas, é negligenciar culposamente.

Após eleito, cada administrador parece procurar para si uma redoma, um esconderijo ou coisa parecida. Mas como perguntar não ofende, será que assim faz para não prestar contas dos compromissos assumidos em campanha ou será simplesmente acha que não deve mais satisfação a ninguém? Ledo engano imaginar assim, pois uma gestão passa muito rapidamente e não dura muito para ter de novamente enfrentar a população e o eleitor, afinal de contas precisa fazer o sucessor ou se manter no poder através de seu grupo político.

Sim, perguntar não ofende - ao menos não deveria - e é preciso saber por que os eleitos tanto choram ao assumirem o poder, sempre dizendo que encontraram as prefeituras com cofres vazios e débitos incalculáveis, mas para sentar no trono do mando e desmando gastaram valores muito acima das somas que receberão como gestores durante os quatro anos do exercício do mandato. Será que é para fugir das promessas, das responsabilidades, dos compromissos com o povo e a municipalidade?

A verdade é que todo prefeito em fim de mandato já está com a conta bancária bem mais polpuda, com o patrimônio bem mais abastado, enquanto que a municipalidade quase sempre devastada, empobrecida, carente de tudo. É a velha história: secar a fonte do povo para encher moringa própria.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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