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segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

A “BOTIJA” DA PEDREIRA

Por José Romero Araújo Cardoso

Figura ímpar e querida da geografia humana dix-septiense, Raimundo Rosado da Costa é um verdadeiro repositório de antigas histórias da pedreira, local onde nasceu e conviveu por longos anos quando a antiga mineração de gipsita representava um dos principais suportes econômicos mossoroenses.

Impossível definir a emoção que é ouvir o fraterno primo Raimundinho contar as façanhas do passado, verdadeiro retorno às emoções de uma vida cheia de encantos que remontam aos relatos de Severino Cruz Cardoso, meu saudoso genitor, quando este trabalhava e morava na pedreira em São Sebastião, hoje município de Governador Dix-sept Rosado. 

Na simplicidade bucólica da casa alpendrada do Tirol, Raimundinho fita o horizonte lembrando um passado distante e levando o expectador às aventuras vividas em épocas passadas, como a da “botija” da pedreira.

Seguindo os passos de Lourenço Menandro da Cruz, veio de Pombal, estado da Paraíba, irmão deste de nome Jerônimo Menandro da Cruz, homem destemido e extremamente apegado às coisas materiais. Logo o primo paraibano, assim como o irmão, despertou estima e consideração dos parentes que vieram da terra de Maringá residir na antiga Sebastianópolis. 


Certa vez, contaram-lhe que haviam sonhado com uma “botija” nos arredores da cabeça do Eufrásio, abaixo do Tirol, no caminho para a Cajazeira. Jerônimo Menandro da Cruz preparou-se para ir se deleitar com os valores que estavam abaixo do solo. 

Amolou picareta e todos começaram a interpelá-lo o que estava se preparando para fazer, respondendo que aquilo era para o trabalho diário na extração de gesso. Munido de Bíblia Sagrada, saiu para o lugar indicado pelos “sonhadores da botija”, parentes que gostavam de persuadi-lo a demonstrar seu apego ao dinheiro, além de atos de bravura, como a facilidade que tinha em retirar mel dos enxames que proliferavam na pedreira.

Preparado de corpo e alma para arrancar a “botija”, Jerônimo Menandro da Cruz não percebeu a presença próxima daqueles que o induziram a buscar em recônditos ermos da mineração uma suposta soma em valores, enterrada em épocas passadas por pessoas que não tinham aonde esconder suas economias, prática comum nos sertões de outrora.

As primeiras picaretadas revelaram um “sinal” da “botija”. Era um papel que assinalava a riqueza enterrada no chão duro da pedreira.

Levando-o ao nariz, Jerônimo Menandro da Cruz logo descobriu ter sido ludibriado, pois o odor recente de fumo de rolo despertara sua desconfiança.

Em desabalada carreira, meninos astuciosos da pedreira, entre os quais estava Raimundinho Rosado, não esperaram para conferir a ira do velho parente que acabava de descobrir ter sido “vítima” das artimanhas lúdicas dos familiares, os quais buscavam apenas um pouco de diversão para amenizar o áspero cotidiano da velha pedreira que abrigava a brava gente que desafiava as intempéries a fim de disponibilizar gesso de excelente qualidade que era exportado para todo planeta.

José Romero Araújo Cardoso é geógrafo e professor da Uern.



http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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