Por Junior
Almeida
Foto da estátua do Padre Cícero, no "Museu Vivo" do Alto do Horto, Juazeiro do Norte, Ceará.
Um sujeito
vivia em Juazeiro nos tempos do Padre Cícero. Fugiu da seca em sua cidade,
fenômeno que sempre judiou do nordestino, principalmente do camponês. Foi com
mulher e filhos tentar a sorte na “Meca Sertaneja”, mas, que mesmo sendo
considerada uma cidade santa, nunca deixou de ter suas tentações mundanas.
Jogo, pistolagem, cachaça e rapariga, nunca faltaram em Juazeiro do Norte,
desde que a vila com poucos ranchos de palha pertencente ao Crato.
Pois bem, o
cidadão que fora viver em Juazeiro sob as bençãos do "Padim", com as
recomendações de que vivesse para família, plantando, colhendo e fazendo o bem,
caiu na bagaceira e meteu o pau a jogar baralho a dinheiro, beber até cair e a
se enxerir. Não podia ter um trocado no bolso que corria para as noitadas nos
cabarés da cidade, para encher o fioofó de cana, jogar e quengar.
O cabra já
vivia a um bocado de tempo nessa vida desregrada. A mulher e os filhos dele
eram quem mais sofriam com essa situação, pois faltava a presença do homem da
casa, faltava a paz do lar, e principalmente faltava o pão.
Cansada de
tanto sofrimento, a mulher resolveu se aconselhar com o Padre Cícero, a quem
contou todos os seus problemas. O religioso ouviu tudo atentamente, e só ao
final da conversa foi que falou. Mandou que a mulher arrumasse uma pessoa que
dissesse ao seu marido, que queria lhe falar. Assim foi feito, e a sofredora
criatura deu um jeito para que o marido fosse ter com o velho padre.
O sujeito foi
ligeiro ver o que o "Padim" queria. Padre Cícero foi direto ao
assunto, dizendo que sabia que ele vivia amancebado com raparigas da cidade.
Sem poder negar, o cabra admitiu as puladas de cerca, mas tentou se justificar,
dizendo que sua mulher já estava velha.
- Pois faça o
seguinte: disse o padre.
- Quando você estiver dormindo ao lado de uma dessas mulheres, se levante calado e acenda uma vela pra olhar pra ela. Concluiu o sacerdote.
O homem fez
como o Patriarca do Juazeiro recomendou, e mais ou menos à meia noite, depois
de ter farreado muito, levantou de ponta de pé, e no bolso de sua calça que
estava pendurada num prego do quarto, pegou uma vela. Acendeu e clareou pro
lado da cama. O cabra assombrou-se ao ver na cama uma enorme serpente no lugar
de onde estava deitada a mulher com quem tinha passado a noite. Sem fazer barulho,
saiu do quarto, da casa, e voltou a sua vida de trabalho e pra família.
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