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segunda-feira, 3 de abril de 2017

FALANDO MAL DA VIDA DOS OUTROS

*Rangel Alves da Costa

Uma cultura às avessas, mas uma cultura. Falar mal da vida dos outros é costume que se alastra desde que mundo é mundo. Até a cobra falou mal do paraíso. Os profetas falaram mal dos reis e os reis falaram mal dos profetas. Não há como mudar isso. Onde houver ciúme, ódio, raiva, desavença ou mera discórdia, sempre haverá uma exposição negativa da vida do outro.

O problema é que se fala mal sem motivo algum, por não ter o que fazer ou por maldade mesmo. Contudo, é geralmente a inveja que faz a pessoa atacar sem motivação alguma, a não ser a própria inveja. É um olho gordo que não acaba mais. Daí que a feia quer enfear todo mundo, a gorda quer balofar todo mundo, a chata que colocar chatice em todo mundo. A verdade é que acaba sendo visto e espalhado como pior aquele que é melhor que o outro em qualquer situação.

Ser trabalhador causa uma inveja danada. E por isso mesmo logo alguém vai esmiuçar uma aleivosia para lançar sobre o esforçado. Ser belo também causa uma insatisfação danada em muita gente. Daí que logo cuidam em jogar qualidades ruins naquela beleza. Ser inteligente, ter um bom emprego, andar bem vestido e de forma elegante, não se importar com a vida dos outros, viver bem com o esposo ou namorado, tudo isso causa uma desmedida inveja. E então sempre surge uma má língua para falar baboseiras.

Com o diz o ditado, quem bota defeito quer comprar. Ou ainda outro dizendo que o olho que só vê defeito não vê o defeito que o olho tem. E assim por diante, mas a verdade é que a cultura do falar mal está em todo canto e por todo lugar. A falsidade é tanta que muitas vezes um elogio oculta uma maldade, uma palavra presumidamente bondosa carrega um inverso deplorável e afrontoso. É como se alguns vivessem unicamente para desqualificar os demais e afrontar todo mundo. E tudo sai de pessoas sonsas, mesquinhas, desprezíveis.


A Velha Tibúrcia já dizia que quem se incomoda mais com a vida dos outros do que com a sua, é porque sempre tem a vida dos outros como mais importante que a sua. Deixa a sua que não vale nada num cesto de pano sujo e outra coisa não faz senão viver mentindo pelos quatro cantos que a outra fez isso ou aquilo ou que deixou de fazer o que não lhe interessa nenhum tiquinho. E o pior é que ainda chega perto da pessoa falada com a cara mais sonsa do mundo, com sorrisos falsos e gestos de cobra ruim.

Já a saudosa Leontina dava a receita a quem se comprazia em viver pelos cantos, portas ou janelas, falando da vida dos outros. Dizia ela: Deixa a calçola suja de dias pra tá inventando aleive sobre quem não tá nem aí pra sua vida. Deixa a panela queimar pra tá na vizinhança falando do brinco de uma, da roupa de outra, do namoro de uma e da finura ou gordice da outra. Deixa a casa suja e sem varrer pra dar mais valor à porta da rua e à vida de quem vai passando. Deixa de se respeitar que é pra tá desrespeitando a vida de todo mundo. Boca desgraçada da peste. E num sabe a desgrama que toda a sujeira tá nela mesma.

Por sua vez, Querência da Lagoa Grande dizia que não é só mulher que vive assim, trocando a sua pela vida dos outros, mas homem também parece não ter o que fazer e fofoca mais que zinha gaiteira. E ajuntava: Uns cabra safado bom de trabaiá e fica pelas calçada falano mal de quem passa e muito mais das fia dos outro. Cremência dava escrita e leitura: Povo mais safado. Vá pregar botão, vá varrer a casa, vá remendar, vá rezar pra Deus, bando de fi de uma égua!

Menos raivosas não eram as assertivas saídas do Velho Totonho Quixabeira: A pessoa num pode viver como pode nem do jeito que quer que vem um fi da peste pra tá falando mal. Uma gota serena que num tem o quer fazer. Outro dia, a fia do compadre Clementino saiu buchuda sem saber. Uma fia da gota sem ter o que fazer, entonce se pôs a espalhar que a mocinha tinha pegado bucho. Oia que desacerto da gota. Foi preciso dizer umas duas nas fuças da mentirosa pra ela tomar tino na vida. Fala mal dos outros e esconde as safadezas que faz. E ainda tem gente que deixa a casa sebosa e cheia de lixo e vive pelas calçadas falando mal de um e outro. Num tem jeito pra esse povo. Só cortando a língua e amarrando no pescoço.

Assim as mirabolâncias da língua e da covardia que se espalham por aí. E nem ninguém está a salvo dessa cultura peçonhenta. Sempre haverá alguém falando mal de outra pessoa. Como tem gente ávida por ouvir, então tudo se transforma em corrente injuriosa do alheio.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com


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