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quarta-feira, 3 de maio de 2017

MINHA CABOCLINHA SERTANEJA

*Rangel Alves da Costa

A cor cabocla é cor de jambo, de pele envernizada de sol. Cor mestiça de índia bela, de menina ribeirinha cheirando a flor, de raiar do sol na leveza do amanhecer.
Minha caboclinha sertaneja...
Sim, apenas uma mulher, mas uma mulher sertaneja. E onde se imagina a timidez tristonha se avista a pujança da vida, como a florada fascinantemente bela das craibeiras.
Minha doce sertaneja...
Há uma flor do campo onde esteja, há um lírio do mato aonde vá, há uma catingueira florida na imaginação. E um jardim sertanejo toda vez que chega toda bonita.
Minha linda sertaneja...
O jambo caiu do pé e de você apossou, e em seu corpo fez moradia morena de matiz perfumado. Daí sua pele trigueira, urucum sertanejo queimado de sol.
Ah minha linda sertaneja...
Araçá no seu lábio, araçá no seu beijo, araçá em tudo. Uma fruta do mato, uma fruta que é mel, um mel que é tão puro quanto a sua beleza.
Linda, linda sertaneja...
Mulher vestida de sol, ornada de lua, perfumada de mato, singela como o amanhecer. E a mulher assim não se encontra em revista, senão no que avista o olhar o sertanejo.
Minha bela sertaneja...
Bela Maria, a bonita. Bela Enedina, a cangaceira. Bela Adília, bela Sila, bela Rosinha, todas tão belas que nem as durezas do mundo tingiram com outra feição a beleza agrestina.
Sempre bela sertaneja...
Mire-se nas mãos e braços nus e rudes do mandacaru. Acredita-se apenas em espinhos. Mas basta se aproximar para sentir e amar, sentir e se apaixonar pela bela flor do mandacaru.
Minha linda sertaneja...
O que seria da manhã sem seu sorriso à janela? O que seria do caminho sem seu passo caminhante? O que seria da noite sem a penumbra enluarada envolvendo a sua face?
Tão linda e bela sertaneja...
Açoita o vento nas tardes sertanejas e teus cabelos esvoaçam como voo passarinho. E como passarinho voa cantando a mais bela canção que meu coração quer ouvir.
Oh minha bela sertaneja...
Recordo cirandando a ciranda nas noites de lua cheia, rodando a roda da infância, e eu passando apressado num cavalo de pau em busca de uma estrela para seus cabelos.
Minha doce mulher sertaneja...
Quando a seca chegou e tudo secou, e você passava com pote na cabeça no caminho do tanque, sabe o que eu avistava? Alguém que logo voltaria para saciar minha sede.
Minha bela sertaneja...
Um dia escrevi seu nome num pé de pau e ainda está lá. Um dia joguei uma semente debaixo de sua janela e a plantinha está lá. Um dia fiz uma promessa e ainda espero o seu beijo.
Minha linda sertaneja...
Que seja sempre a terra, o chão, o sertão. Seja como a terra que frutifica o que há de melhor, como o chão que se firma sem fraquejar, como o seu sertão ornado de lua e de sol.
Por fim, minha sertaneja...
Buscando nas palavras bíblicas, olhai os lírios dos campos, que nem fiam nem tecem, mas nem mesmo Salomão em todo seu esplendor pôde se vestir como eles. E és a flor mais bela que sobre a terra brotou.
E não deixai que as ervas daninhas se arvorem de ferir a mácula e a graciosidade do todo que há na mulher. Na mulher cabocla, linda e bela tão minha.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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