*Rangel Alves da Costa
Longe daquele admirável mundo novo, onde o novo era tido como esperança de dias melhores e mais humanizados, o que se tem agora – e sem perspectiva de boas transformações – é um execrável, repugnante, desprezível mundo novo.
Há de se indagar o que o progresso humano beneficiou o próprio homem senão no seu lado materialista de conforto e facilidades. E também sobre o que os avanços científicos e tecnológicos trouxeram ao homem em si, na sua feição mais humana.
Não se pode separar o homem daquilo que ele mesmo produz. Acaso produza sem que do seu produto surja melhoria pessoal, estará apenas se robotizando em nome de um novo e impiedoso mundo, onde o ser humano também não passa de insensível objeto.
Cadê o computador instalado dentro de cada um, de modo a dissipar suas dúvidas? Cadê o chip da mente para ser ativado assim que um erro esteja prestes a ser cometido? Nada disso há. O homem criou apenas para o mundo e nada que lhe sirva como humanização.
Ademais, grande parte das invenções humanas acabou desumanizando ainda mais o homem. As ditas facilidades acabam colocando a pessoa numa situação de conforto tal que até se esquece do que é capaz de fazer sem um botão, sem um teclado, de um controle remoto.
O café está pronto na máquina, a comida está pronta no forno elétrico, os pratos estão limpos na lavadeira elétrica, as roupas já estão enxutas na secadora elétrica, o gelo está sempre pronto para o uísque. Mas e a vida humana em si, o homem está pronto para que?
A verdade é que o ser humano tende cada vez mais a desaprender que é ser humano. Daí que se diz que seria impossível viver sem as facilidades tecnológicas modernas, sem os avanços científicos em todas as áreas. Mas será que o homem nasceu perante um computador?
Num tempo de fogo e caça, num tempo de cavernas e relentos, num tempo de ameaças e temores pelo desconhecido, ainda assim o homem viveu e sobreviveu sem chorar por que um whatsapp estava inacessível por alguns instantes. Nenhum homem da caverna teve o desprazer de beber pinga ouvindo uma sofrência ou um falso sertanejo.
Mesmo com as limitações próprias de cada etapa da evolução, certamente que o homem primitivo era muito mais feliz que o homem de agora. Perante a grande fogueira as famílias se reuniam para saborear a caça do dia. E a mesa moderna já não junta famílias.
Como dito, a modernidade trouxe, infelizmente, um desprezível mundo novo. Basta observar as notícias surgidas a cada dia, onde raramente há uma informação boa e prazerosa. Tudo é ataque terrorista, é guerra, é genocídio, é tirania lançando suas armas contra populações desfavorecidas pelo credo ou religião.
Um mundo novo cruel, violento, brutal, assustador, sangrento e sanguinário. Não há mais segurança nas portas e janelas fechadas, não há a mínima segurança nas ruas, por todo lugar bravejam as arrogâncias, os medos, os gritos de pavor. Um mundo onde, verdadeiramente, o homem é cada vez mais o lobo do próprio homem.
Não se devem guardar esperanças num mundo onde as religiões são usadas para fins ilícitos, para enriquecimentos pessoais, para o ludibriamento de pessoas já fragilizadas pelos problemas pessoais e familiares que passam. Um mundo de falsos profetas, de charlatães, de espertalhões e de ladrões de Bíblia à mão.
Não há mais que se falar em política num mundo assim, ao menos em território brasileiro. Desde muito que a política e a política passaram a significar o que de mais abjeto há nas escadarias do poder. E a vida de tantos transformada em miséria pelos ladrões de graveta, pelos corruptos partidários, pelos asquerosos governantes.
O que esperar de um mundo sem famílias, sem respeito, sem costumes, sem tradições, sem perseveranças e abnegações. Absolutamente nada. Não pode ser visto como normalidade que um pai aceite um estranho dormindo no quarto de sua filha, e pelo simples fatos de que os jovens de hoje agem assim mesmo.
Está tudo errado. O ser humano vem ao mundo para cumprir uma grandiosa missão na existência, e não apenas para vestir a roupa desnuda e desavergonhada dos modismos e dos chamamentos da realidade presente. Se o próprio ser humano não cuida de si quem haverá de dignificar e respeitar sua existência?
Por isso que está tudo errado. Ou está tudo certo. Tudo depende de cada um.
Escritor
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