Por Manoel Belarmino
Eu já postei
diversos textos de minha autoria aqui no face sobre lendas, sobre política,
sobre religião, sobre tudo. Poesia, ficção e fatos reais. E este que agora
escrevo não é lenda, é mais um texto sobre um fato real. O fato realmente
aconteceu no ano de 1937. Nessa época, nessa quadra (como dizem os mais
antigos), Lampião estava no auge da fama. Naqueles dias, a volante havia matado
o cangaceiro Pau Ferro no Riacho das Quiribas, perto das Areias. E Lampião
havia decidido e anunciado que vingaria a morte do cangaceiro, matando todos os
soldados do quartel do Poço Redondo. E naqueles dias, também por vingança da
morte de Pau Ferro, os cangaceiros já tinham matado, no caminho de Curralinho,
os soldados Tonho Vicente e Sisi. Depois da morte dos soldados, Lampião mandou
um recado para o quartel dizendo que não estava satisfeito só com as mortes dos
dois soldados e que, em breve, invadiria o povoado para destruir o quartel,
matando todos os soldados. A população de Poço Redondo tremia de medo. E com
mais medo ainda estavam os soldados no quartel.
A noite
chegou. E não tinha lua. Tudo estava escuro e em silencio. Os soldados no
quartel, tremendo de medo, estavam calados e com as lamparinas apagadas. Todos
os moradores já estavam, desde que a noite chegou, com os candeeiros apagados,
trancados em casa. Mas o medo não deixava ninguém dormir. O silêncio tomou
conta da cidade. Ouvia-se apenas alguns poucos barulhos de chocalhos de cabras,
latidos de alguns cachorros e as corujas rasga-mortalha. E mais nada. As poucas
casas do povoado parecia que já tinham, de medo, adormecido antes dos seus
moradores.
De repente,
inesperadamente, um grande barulho como se fosse de cavalos acontece na praça
da igreja, no centro do povoado Poço Redondo, ali onde hoje é a Praça da Matriz.
Os soldados e o povo todo se assustam. Pelos fundos das casas, assustados,
tremendo de medo, todos correm para o mato. Correm homens, mulheres, meninos. Os
soldados também correm, abandonam o quartel, e se escondem, amoitados, na
parede do Tanque Velho. Alguns soldados esquecem até de levar as armas.
Aí o barulho
parou. Tudo fica em silêncio naquela noite escura, sem lua e parcialmente
nublada. Nem latido de cachorros. Nem um disparo. Nem um tiro. Somente alguns
rasgos de corujas rasga-mortalha angorando algumas mortes que viriam acontecer
na região. Nem um grito de alvoroço. Nada...
Depois de
alguns minutos, meia hora aproximadamente em silêncio, alguns moradores, aos
poucos, vão retornando para as suas casas. Depois todos os moradores retornam.
Por último, os soldados retornam para o quartel. Não era nada. Não era um
ataque dos cangaceiros. Era um burro (equus mulus mulus) cabriolando no centro
da Praça de Poço Redondo.
Os soldados
ficaram envergonhados. As pessoas, apesar de assustadas e morrendo de medo,
ainda riam. Riam da carreira deles e da carreira dos soldados do quartel.
Essa foi a
noite em que um burro cabriolador botou toda a polícia e todo o povo de Poço
Redondo para correr.
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