Por Ivone Boechat
É muito
triste, sim, assistir pelos meios de comunicação, em tempo real, episódios como
esses que jornais do mundo inteiro estampam, quando pessoas, com sérios
transtornos de comportamento entram, intempestivamente, escola adentro e matam
crianças e professores, em sala de aula. É dolorida essa aula! É uma aula
salpicada de sangue, banhada em lágrimas. Ninguém sai aprovado. A humanidade
fica reprovada.
Repórteres
ficam de plantão perguntando aos sobreviventes, aos professores em estado de
choque, aos pais horrorizados, que lições podia se extrair dali. Todos dizem em
uníssono: ficamos mais unidos, estamos mais solidários, nossa dor é uma só.
Isso faz
lembrar quando o furacão “Wilma” arrasou uma cidade americana e os
repórteres faziam perguntas semelhantes. A resposta de uma senhora ficou
gravada: “Com o furacão, tive o prazer de conhecer minha vizinha de muitos
anos, quando ela me viu aflita e me ofereceu uma xícara de café”.
O brasileiro é
solidário sempre, mas a exemplo de muitos povos ao redor do mundo, vem adotando
um estilo de vida preocupante, ultimamente. Está se isolando. Será que é
preciso um furacão, um terremoto, um tufão, uma chacina para as pessoas se
unirem, se conhecerem, se amarem? E oferecerem uma xícara de café ao vizinho
desconhecido?
Muitas
atitudes contribuem para a educação equivocada. O mau uso dos meios de
comunicação tem sido um terror no universo humano. É um dragão que destrói o
equilíbrio emocional. A criança chega a algumas escolas ainda bebê, muitos
chegam de fraldas e dão de cara com uma escola atropelando os princípios que
fundamentais para ajudar a construir as emoções. A escola tem o som, todavia,
não respeita o limite da capacidade auditiva humana; o som é altíssimo. A
escola tem computadores e os supervaloriza, em detrimento das brincadeiras, das
músicas brasileiras, das histórias, das poesias, de dramatizações, do folclore,
dos jogos no recreio. Recreio? Cadê o recreio?
O Brasil é uma
potência em alguns aspectos, mas tem contrastes sociais de submundo. A educação
envergonha essa nação perante os olhos do mundo.
Não se têm
recursos para acabar com a violência, porém, pode-se educar para reduzir o
gosto por ela. Há canais de tv que estão se transformando em delegacia de
polícia, ao vivo, dentro da casa daqueles que veneram a violência. Isto adoece
o imaginário e produz transtornos de comportamento. Serve também de universidade
do crime. Forma bandidos. Faz escola.
Andrew Oitke,
professor da Universidade de Harvard, publicou o livro Mental Obsety, e
denuncia que “A nossa sociedade está mais sobrecarregada de preconceitos do que
de proteínas”. E afirma que “É hora de refletir sobre os nossos abusos no campo
da informação e do conhecimento, que parecem estar dando origem a problemas tão
ou mais sérios do que a barriga proeminente. ‘Profissionais da informação’
vendem gordura trans em excesso”.
Oitke
demonstra preocupação com essa ‘alimentação intelectual’ tão carregada de
adrenalina, romance, violência e emoção. “É possível supor que esses
jovens jamais conseguirão viver uma vida saudável e regular. O homem moderno
está adiposo no raciocínio, nos gostos e nos sentimentos. O mundo não
precisa de reformas, desenvolvimento, progressos. Precisa, sobretudo, de uma
dieta mental”.
Mãe, lute para
reduzir a comunicação da desgraça dentro da sua casa. Seja uma tv a cabo
do bem e não reproduza desgraça nenhuma, hora nenhuma: na hora das
refeições, nas festas da família, nos encontros do shopping... Não
superdimensione o crime, a hecatombe, o tsuname, não se transforme numa
assombração a serviço da mídia pererê, ensinando que o mundo está no fim. Não
pegue um caso isolado e o generalize.
Não
fique martelando que as escolas agora não têm segurança, que o mundo está
perdido. Não deixe seu filho, seu neto, ninguém aterrorizado, achando que é normal
ficar o dia todo dando ibope à violência; mas, sobretudo, eduque para que se
aprenda a usar a metainformação, selecionando tudo de lindo e maravilhoso
que existe nessa Terra linda.
O mal não
vencerá o bem. Então faça a sua parte!
Seja,
você, uma tv a cabo do bem.
Enviado pela professora universitária Ivone Boechat
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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