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quinta-feira, 13 de setembro de 2018

LAMPIÃO E A ROTA DE FUGA PELO AGRESTE DE ALAGOAS

Por Vilceia Melo
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Vila Craíbas, em 1938, quando ainda pertencia a Arapiraca.

A história de Virgulino Ferreira da Silva, o cangaceiro Lampião, provoca admiração por parte de alguns historiadores que encontra, nessa figura emblemática, um dos primeiros revolucionários sociais no Nordeste brasileiro. Outros escritores desmistificam a imagem do filho justiceiro – que queria vingar a morte do pai- em função da barbárie dos crimes cometidos. Herói ou bandido, a história de Lampião, que liderou o cangaço durante duas décadas, também teve o seu registro no Agreste de Alagoas.

Silvan Oliveira, pesquisador sobre a passagem de Lampião pelo Agreste
Silvan Oliveira, pesquisador sobre a passagem de Lampião pelo Agreste
Para saber detalhes sobre a passagem do cangaceiro e seu bando nessa região, fomos até Craíbas conversar com o funcionário público Silvan Oliveira. Há alguns anos ele vem colhendo depoimento com os familiares dos primeiros moradores da antiga Vila Craíbas, que pertencia ao município de Arapiraca, para obter informações sobre a passagem de Lampião e seu bando pelo região. O trabalho de pesquisa resultou no esboço de um livro intitulado “O dia em que Lampião assustou o Agreste alagoano”.

De acordo com o pesquisador, Lampião e 17 cangaceiros passaram por aqui em abril de 1938, cerca de três meses antes de sua morte. Segundo Silvan, nessa época o cerco estava fechado e as forças policiais estavam concentradas em Santana do Ipanema, com a criação do 2º Batalhão de Polícia Militar. “Os estados de Pernambuco e Bahia já não admitiam o trânsito de cangaço na região. Virgulino estava escondido na fazenda do coronel Antonio Caxeira, em Gararu-SE, quando resolveu ir a Piranhas-AL encontrar-se com o cangaceiro Corisco por dois motivos: tramar a morte do tenente Zé Rufino e em seguida abandonar o cangaço, refugiando-se com Maria Bonita, no estado de Goiás.

Ainda de acordo com o pesquisador, a rota de fuga foi iniciada atravessando o rio São Francisco, em Traipu. Há relatos que durante essa passagem pelo local Lampião teria encontrado uma “retreta” – pequena banda de música. “Ele pediu que os músicos tocassem uma música e teria recompensado os músicos com cinquenta mil réis”, relatou Silvan Oliveira.

Bando de Lampião

Após atravessar o rio São Francisco, o bando de lampião chegou ao povoado Capivara, e teve o primeiro combate nessa região, ao deparar-se com a volante do tenente Valdemar Goes, que naquela época era o delegado de Batalha. Lampião estava a cavalo acompanhado de 16 cangaceiros. “Durante o confronto, Lampião e seu bando fogem a pé em direção a então Vila de Girau do Ponciano.

O pesquisador relata que quando o bando de Lampião chegou em Girau do Ponciano, no local estava acontecendo uma feira livre. Os cangaceiros e seus comparsas fizeram um arrastão nas bancas e saquearam os armazéns do comerciante Eloi Maurício. Ainda em Girau, há outro confronto com a polícia e os cangaceiros se deslocam em direção a Lagoa da Canoa e o povoado Salomé, atual município de São Sebastião. “Lá eles sentiram que não estão sendo mais perseguidos e no dia posterior eles retornaram a rota de fuga pelo Agreste, em direção ao alto Sertão”, informou o pesquisador.

Em Arapiraca

Uma curiosidade relatada por quem teve contato com o cangaceiro é que ele sempre andava com uma caderneta anotando os nomes dos coronéis mais abastados da região para fazer os saques. Ao chegar no Povoado Lagoa da Pedra, próximo a Vila Fernandes, em Arapiraca, Lampião foi informado que o coronel Lino de Paula tinha muitas posses.

O bando encontrou o próprio Lino de Paula que estava em uma de suas fazendas trabalhando com uma roupa suja e desgastada. Pensando que era um trabalhador comum, o cangaceiro perguntou se ele sabia onde morava o coronel Lino de Paula e ele com medo de morrer disse que levaria o bando de lampião até a casa do militar.

Durante o percurso, Lino de Paula, com medo que Lampião descobrisse sua verdadeira identidade pediu ao chefe do cangaço para ir até o “meio do mato” defecar pois estava com dor de barriga. Lino de Paula aproveitou essa oportunidade e fugiu pela vegetação, enganando Lampião e seu bando.

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A notícia de que Lampião estava em Arapiraca se espalhou, e segundo o pesquisador, muitos moradores dos bairros Baixa Grande, Cavaco, e Baixão deixaram suas casas, e dormiram no mato com medo que Lampião chegasse durante à noite para saquear as casas.

Outros foram se abrigar nas residências de parentes no centro do município, onde o cangaceiro não chegaria com medo da ação da polícia.

“A próxima parada de Lampião e seu bando no município de Arapiraca se deu na Vila Canaã, onde cometeu alguns saques. Lá ele apreende um rapaz identificado apenas como “João Catenga”, que informou quem são os homens de posse da redondeza como “Zé Ciben”, Manoel Ireno, Possidônia. Todas as propriedades foram saqueadas e, continuando a rota, o bando chegou a Vila de Craíbas”, relatou Silvan Oliveira.

Ao chegar na Vila, Lampião com os 16 cangaceiros armados, renderam os moradores que ainda permaneciam no local. Eles entregaram dinheiro, pertences pessoais e armas. Segundo os relatos de moradores de Craíbas, um senhor que se chamava “Nicolau” negou ter armas em casa, mas quando os cangaceiros entraram na residência encontraram munições. “Por ter mentido para Lampião, Nicolau foi amarrado em um cavalo e arrastado até a lagoa da vila para ser “sangrado”.

Segundo Silvan Oliveira, nesse dia que Lampião esteve na Vila Craíbas, seria celebrado um casamento. Quando o padre Epitácio estava a caminho foi avisado que Lampião estava saqueando os moradores . Ele rapidamente retornou a Arapiraca e avisou a três volantes do tenente Porfírio sobre o bando.

No momento que Lampião e os cangaceiros iriam executar Nicolau à beira da lagoa, os policiais chegaram atirando e os disparos de armas de fogo assustaram o bando de Lampião, que fugiu sem executar ninguém.

Um fato curioso nesse dia do casamento é que a casa do sanfoneiro que iria tocar no casamento está situada na praça onde Lampião rendeu os moradores. Com medo de ter o seu principal instrumento de trabalho roubado pelos cangaceiros, Artêmio, como era conhecido o músico, escondeu a sanfona dentro de um saco de farinha. Até os dias de hoje a casa, situada no centro comercial de Craíbas, permanece com as mesmas características da década de 30. “Devido a questões de herança, o imóvel não pode ser vendido, pois está em processo judicial. Tanto a fachada quanto todo o interior permanece com a mesma estrutura de quando lampião passou pela região”, revelou Silvan Oliveira.

Casa do sanfoneiro Artêmio mantém as mesmas características da década de 30
Casa do sanfoneiro Artêmio mantém as mesmas características da década de 30
Três meses após essa passagem por Arapiraca/Craíbas, no dia 28 de julho de 1938, Lampião, Maria Bonita e seu bando sofreram uma emboscada e foram assassinados na Grota em Angicos, em Poço Redondo-Sergipe. Suas cabeças foram expostas em várias cidades como troféus.
Essa parte da história tem uma ligação muito pessoal com o pesquisador Silvan Oliveira. Após a exposição das cabeças nas escadarias do município de Piranhas-AL, os policiais seguiram para Água Branca, Mata Grande e Santana do Ipanema. “Nessa época minha mãe, Jaci Oliveira Santos, tinha 6 anos e morava em Mata Grande. A casa dos pais dela era próxima à delegacia da cidade e quando os caminhões da polícia chegaram com as cabeças dos cangaceiros foi um alvoroço só. Centenas de pessoas, entre crianças e adultos lotaram a praça para ver os “troféus” exibido pela polícia. Mesmo com apenas 6 anos de idade, minha mãe até hoje, nunca se esqueceu daquela imagem de cabeças cortadas em cima do caminhão”, finalizou Silvan Oliveira.
14 de outubro de 2017
Vilceia Melo
93 anos de Arapiraca, Notícias
agreste, alagoas, Arapiraca, cangaceiro, Cangaço, Lampião
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