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quinta-feira, 13 de setembro de 2018

MANOEL PEREIRA DA SILVA


Por Geraldo Júnior
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Lampião (Virgolino Ferreira da Silva) e Jurity II (Manoel Pereira de Azevedo) em fotografia registrada no ano de 1936, por Benjamin Abrahão Calil Botto.

Um fato intrigante que envolveu a figura desse cangaceiro após a morte de Lampião foi a delação à polícia sobre a existência e localização da menina Expedita Ferreira, filha do casal Lampião e Maria Bonita, que na época dos fatos estava sendo criada pelo vaqueiro Severo Mamede e sua esposa dona Aurora, moradores da Fazenda Enxu no município de Porto da Folha em Sergipe.

No ano de 1941 Jurity II foi preso por um grupo de soldados liderados pelo Sargento Deluz (Amâncio Ferreira da Silva) da polícia sergipana e assassinado. Preso e sem chances de defesa Jurity II, ainda vivo, foi jogado em meio a uma fogueira e seu corpo foi consumido pelas chamas. Uma morte trágica e impiedosa para o antigo bandoleiro do bando de Lampião.


Para quem quiser conhecer um pouco mais sobre a biografia do ex-cangaceiro Jurity II (Manoel Pereira de Azevedo) e do seu algoz o Sargento Deluz (Amâncio Ferreira da Silva), vou deixar um texto incrivelmente detalhado e rico em informações que foi escrito pelo saudoso escritor sergipano, Alcino Alves Costa.

Boa leitura.

De Luz, o matador de Juriti.
Por:Alcino Alves Costa

Em nossos livros “Lampião além da versão” e “O Sertão de Lampião”, existe em cada um deles um capítulo discorrendo sobre a vida e morte de Deluz e de Juriti, este assassinado cruelmente pelo famoso e temido sargento, então delegado de Canindé de São Francisco. No “O Sertão de Lampião”, a página 269, está o capítulo “A morte do sargento Deluz” e no “Lampião além da versão, a página 345, está o capítulo “Juriti: perverso na vida, valente na morte”.

Amâncio Ferreira da Silva era o verdadeiro nome do sargento Deluz. Nascido no dia 11 de agosto de 1905, este pernambucano ainda muito jovem arribou para o Estado de Sergipe, indo prestar os seus serviços na polícia militar sergipana. Os tempos tenebrosos do banditismo levaram Deluz para o último porto navegável do Velho Chico, o arruado do Canindé Velho de Baixo. Por ser um militar extremamente genioso, violento e perverso, ganha notoriedade em toda linha do São Francisco e pelas bibocas das caatingas do sertão. Dos tempos do cangaço ficou na história, e está registrada no livro “Lampião em Sergipe”, o espancamento injusto que ele deu no pai de Adília e Delicado, o velho João Mulatinho, deixando-o para sempre aleijado.

No pós-cangaço, sem jamais sair de Canindé, também ficaram na história aquelas versões de que os assaltantes de Propriá quando presos eram entregues a Deluz e ele ao transportá-los em canoas que faziam o trajeto Propriá/Canindé, prendia as mãos dos prisioneiros e amarrava uma pedra nos pés dos mesmos jogando-os dentro do rio. Um de seus maiores prazeres era caçar ex-cangaceiro para matá-los sem perdão e sem piedade. Foi o que fez com Juriti, prendendo-o na fazenda Pedra D`água e o assassinando de maneira vil e abjeta jogando-o em uma fogueira nas proximidades da fazenda Cuiabá. Foi em virtude de desavenças com o seu sogro, o pai de Dalva, sua esposa, que naquele dia 30 de setembro de 1952, quando viajava de sua fazenda Araticum para o Canindé Velho de Baixo, se viu tocaiado e morto com vários tiros. Morte atribuída ao velho pai de Dalva, o senhor João Marinho, proprietário da famosa fazenda Brejo, no hoje município de Canindé de São Francisco.

Diz à história que João Marinho foi o mandante, chegando até ser preso; e seu genro João Maria Valadão, casado com Mariinha, irmã de Dalva, portanto cunhado de Deluz, ainda vivo até a feitura desse artigo, com seus 96 anos de idade, completados no mês de dezembro de 2011, foi quem tocaiou e matou o célebre militar e delegado que aterrorizou Canindé e o Sertão do São Francisco.

Foi o sargento Deluz o matador de Manoel Pereira de Azevedo, o perverso e famoso Juriti.

Manoel Pereira de Azevedo era um baiano lá das bandas do Salgado do Melão. Um dia arribou de seu inóspito sertão e viajou para as terras do Sertão do São Francisco, indo ser cangaceiro de Lampião, recebendo o nome de guerra de Juriti.

Este cangaceiro possuía uma aparência física impressionante. O seu porte atlético abismava as mocinhas sertanejas que se derramavam em desejos para receber os seus carinhos e o seu amor. Contrapondo a toda essa atração que despertava nas jovens, Juriti carregava em seu sentimento e em sua alma um extremado pendor para brutais violências; cangaceiro de atitudes monstruosas sentia especial prazer em torturar e assassinar com requintes animalescos as infelizes vítimas que caiam em suas mãos, como aconteceu com José Machado Feitosa, o rapaz de Poço Redondo que ele após torturá-lo medonhamente, o assassinou com uma punhalada em seu pescoço.

Em pouco tempo Juriti angariou extraordinária fama. A fama de ser um cangaceiro que deixava as mocinhas sertanejas loucas de paixão e a fama de ser um assecla perverso ao extremo. Uma menina-moça, chamada Maria, filha de Manoel Jerônimo e Áurea, irmã de Delfina da Pedra D`água, deixou-o alucinado. Aquela ardente paixão foi recíproca. E o jamais imaginado pelos seus pais aconteceu. A menina de Mané de Aura deixou seu lar, seus pais e se jogou no mundo. Os seus sonhos e a sua ilusão era passar a viver nos braços do tão falado e comentado cabra de Lampião.

Na Grota de Angico vamos encontrar Juriti e Maria vivendo aquele instante de suprema agonia. Lampião, Maria Bonita e seus companheiros foram abraçados pela morte. Sem o grande chefe o viver cangaceiro não era possível. Os bandos espalhados pelas caatingas foram se desfazendo. Alguns fugiram e outros se entregaram as autoridades de Alagoas e Bahia.

Juriti seguiu o mesmo caminho de muitos. Após enviar a sua Maria para a proteção do pai e a ajuda do amigo Rosalvo Marinho que a levaram para Jeremoabo, onde ela foi recebida e bem tratada pelo capitão Aníbal Ferreira que deixando o papai surpreso e feliz liberou a sua filha para que com ele retornasse para sua casa e para o aconchego de sua família. Ainda mais. Solicitou a ajuda de Maria, do pai e de Rosalvo Marinho para que ambos fizessem com que Juriti e seus companheiros também viessem se entregar.

Juriti e Borboleta são convencidos pelo amigo da Pedra D`água e também seguem para Jeremoabo onde se entregam ao capitão Aníbal. Recebem o mesmo presente que Maria recebeu. São liberados. Borboleta joga-se na “lapa do mundo” e nunca mais se soube notícias dele. Talvez não esquecendo a sua Maria, Juriti se demora alguns dias no Canindé Velho de Baixo, porém no início de 1939 viaja para Salvador a capital baiana.

Em Salvador consegue trabalhar como vigia de um fábrica. Em 1941 é despedido do trabalho e retorna para o sertão de Sergipe. É seu desejo visitar os amigos da Pedra D`água, obter notícias de sua antiga companheira e seguir viagem para o Salgado do Melão, a sua terra de nascimento. Chegou ao último porto do Baixo São Francisco em uma quarta-feira e seguiu para a fazenda de Rosalvo Marinho, onde se “arranchou” e dormiu.

O sargento Deluz foi avisado da inesperada presença de Juriti na casa de seu cunhado Rosalvo Marinho. O sentimento impiedoso do militar não perdoava ex-cangaceiro. Juriti teria que pagar todos os crimes praticados durante sua vida no cangaço, e ele seria o juiz que iria condená-lo a morte.

Assim foi feito. A quinta-feira amanheceu e ainda muito cedo o café foi servido. Juriti conversa animado com seu amigo Rosalvo. Deluz e seus “rapazes” haviam cercado a casa. Surpreso, Juriti se vê na mira das armas dos atacantes e é imediatamente preso. Sorrindo, Deluz diz: “Mais qui surpresa! Nunca pensei qui Juriti fosse um pásso tom manso, tom faci de ser agarrado. Teje preso cabra. Eu num quero cangaceiro perto de mim não”.

Juriti se recompõe da surpresa e desafia Deluz, dizendo: “Deluz, você é covardi. Eu sei quem você é. Um covardi. Mostri qui é homi e mi sorte. Só assim você vai ficar sabeno quem sou eu. Vamu, mi sorti, covardi. Você é um covardi”. Amarrado a uma corda, Deluz transporta Juriti na direção de Canindé. Ao chegar a uma localidade chamada Roça da Velhinha, nas proximidades da fazenda Cuiabá, o sargento, friamente, ordena que se faça uma fogueira e quando as labaredas começam a lamber a caatinga e torrar a mataria e o chão daquele triste cenário da vida sertaneja, Juriti é jogado, sem dó e sem piedade no meio do fogaréu. Em poucos minutos o corpo do antigo cangaceiro havia se transformado em um monte de cinzas. Ficando, por várias décadas, como testemunha daquele medonho momento os botões da braguilha da calça de Juriti, além do negrume deixado pelo fogo no local do monstruoso assassinato do antigo Manoel Pereira de Azevedo, do Salgado do Melão.

Saudações cangaceiras!
Alcino Alves Costa

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