*Rangel Alves da Costa
Conceitualmente, insensatez significa a ação de modo inconsequente, sem a observância da racionalidade nas atitudes. É a tomada de uma atitude desprovida de prudência. É uma ação irresponsável e que visa prejudicar ou maltratar. E é isto, em todos os seus termos e sentidos, que vem proliferando, e já desde muito, perante uma parte significativa da população brasileira.
Mesmo que o termo denote falta de sanidade, de plenitude de juízo, costumeiramente o insensato age pensada e premeditadamente. Na intencionalidade de transformar os fatos, dando-lhes uma feição irreal, age até com acuidade e inteligência. Ademais, nem sempre desconhece as possíveis consequências. Ora, sua ação possui por objetivo maior chamar a atenção, provocar resultados, e geralmente maldosos.
Se, por outro lado, a sensatez expressa um sentido de responsabilidade na ação, tais características afastam-se de vez daqueles que simplesmente utilizam de seus ódios, partidarismos ou descabidas indignações para macular ou tripudiar de fatos ou situações, até de tragédias, como de fato vem ocorrendo. Continuar em palanques eleitorais e não aceitar resultados das urnas, e para tal todo dia postar verdadeiras teorias conspiratórias, objetivando unicamente desqualificar o que já foi proclamado, afeiçoa-se, além da insensatez, uma evidente idiotice.
É insensatez, pois, querer forjar opinião própria apenas para desqualificar determinada realidade. É insensatez omitir a verdade perante uma inegável e contundente realidade. É insensatez brincar com a verdade apenas para ferir, magoar, contrapor. É insensatez deixar de enxergar a nitidez para se contentar com o obscuro, e do confuso semear ainda mais distorções. É insensatez agir por teimosia quando bem poderia reconhecer o que não pode ser negado.
Também é insensatez inverter os fatos na tentativa de tornar uma mentira numa verdade forjada. O problema é que sempre acaba alcançando algum proveito com tal inversão. Há quem acredite em tudo, desde a mais deslavada mentira ao que nunca existiu. Daí a proliferação de notícias sobre mortes inexistentes, de acontecimentos políticos que nunca existira, de frases ditas que jamais foram declaradas, de manchetes absurdas em jornais ou informativos que jamais existiram. Como dito, mas tem gente que ainda acredita, compartilha e até fica acreditando.
Exemplo maior da insensatez está na disseminação de notícias falsas, as famosas fake news. É a criatividade utilizada para o desserviço, para a verdadeira estupidez. Torna-se até difícil de acreditar como pessoas e até empresas se especializam em mentir, em contar lorotas, em espalhar inverdades. E o pior que sempre objetivando macular ou desonrar pessoas, políticos e governantes. Não pela descoberta e divulgação de fatos que continuavam ocultos, mas pela criação de fatos que jamais existiram. Não por serem revelações que possam abalar as estruturas de poder, mas pela invenção de coisas que abalam a própria credibilidade do mundo.
O episódio da facada no candidato Bolsonaro exemplifica bem a capacidade de pessoas para, maldosa e intencionalmente, inverter a realidade dos fatos. Logo após o ataque, pelas redes sociais, surgiram inúmeras teorias conspiratórias, cada uma mais absurda que a outra. Logo disseram que não houve facada alguma, que tudo não passou de uma invenção da cúpula do próprio candidato. Então postaram inúmeras imagens depreciativas e sempre negando a existência de tal episódio. Ainda hoje é possível encontrar tentativas de negação do episódio. Ainda há gente que diz que Bolsonaro não passou por nenhuma cirurgia e também gente que acredita e compartilha.
A tragédia de Brumadinho não ficou imune à insensatez humana. Através de compartilhamentos, logo surgiram postagens onde alguns inconsequentes afirmavam que a população atingida deveria mesmo comer lama por ter votado no presidente eleito, que se tivesse votado noutro candidato não teria acontecido aquilo, como se dissessem que na política estava a salvação ou a destruição. E sempre se utilizam das paixões políticas para encontrar culpados pela tragédia. Como se não tivessem o que fazer, logo foram buscar a culpa nas privatizações de Fernando Henrique Cardoso. Outros direcionaram a tragédia para um suposto decreto assinado pela ex-presidente Dilma. Muitos disseram que a culpa exclusiva era mesmo de Bolsonaro.
Se de um lado percebe-se esmerada criatividade na criação e disseminação dos absurdos, por outro lado há a preocupação de distanciamento da verdade dos fatos. E isso se torna de um perigo imenso. E perigoso demais pelo fato de que as pessoas, sempre alheias à busca da verdade e cada vez mais crentes no que é dito pelas redes sociais, acabam não só desatentas ao conhecimento como possuidoras de inúteis e imprestáveis informações. Acabam acreditando demais naquilo que não possui serventia alguma, pois tudo forjado na mentira e no embuste.
A falta de senso crítico e de percepção da verdade pode tornar as realidades tão ou mais mentirosas que as próprias redes sociais. Muita gente já diz que o livro está errado porque leu de modo diferente numa rede social. Diversos sites já se dedicam a mostrar o que é fake news ou não. E pelo mostrado, e se comparado ao que é postado como verdade, logo se tem que a imensa maioria não passa de inverdade. Mas é a inverdade que, infelizmente, está sendo cada vez mais sendo acreditada.
Escritor
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