Por José
Mendes Pereira
Ferreira da Gazeta
José Ferreira
Filho nasceu em Mossoró no dia 15 de Agosto de 1946. Quando criança
fez de tudo para adquirir o sustento, como por exemplos: levar feira,
mala, dar recados, vender guloseimas, bombons e outros.
Começou a
trabalhar em jornal muito jovem e no dia 10 de Junho de 2010, havia
completado cinquenta anos no ramo gráfico. Era uma das suas paixões e jamais deixou de fazer um bom trabalho; tinha interesse pelo jornalismo. Iniciou na
tipografia derretendo o chumbo para alimentar as linotype.
Na
continuidade dos seus trabalhos foi oferecido a oportunidade de
aprender a operar uma linotype, máquinas que eram muito difícil para um
principiante, mas sendo inteligente, logo passou a ser um dos operadores
profissionais de uma delas no joranl O Mossoroense, e foi um grande linotipista. Após sua saída do jornal "O Mossoroense" foi para a "GAZETA DO OESTE, a convite de seu fundador, Canindé Queiroz, em 1982.
E no
dia 30 de Abril de 1982, foi nomeado chefe das oficinas da gráfica.
Mas como ainda tinha um acordo com o jornal "O
Mossoroense", tomou posse somente no "Jornal Gazeta do Oeste",
no dia 02 de Junho de 1982. Ele foi o autor da série "Nossos
Valores". Devido ter trabalhado muitos anos na "Gazeta do Oeste,
foi alcunhado por "Ferreira da Gazeta".
Nos anos setenta ele e eu trabalhamos juntos na "Editora Comercial S/A.,
nos dias de hoje extinta. Era uma empresa que dominava duas emissora,
"Rádio Difusora de Mossoró" e "Rádio Difusora de Areia
Branca", sendo que esta última foi desativada, não sei, talvez por não
estar com a documentação legal. E uma rede de cinemas, "Cine Caiçara de
Mossoró", "Cine Jandaia de Mossoró" e "Cine Miramar de
Areia Branca".
No período em que nós trabalhávamos juntos José Ferreira já era linotipista, e
eu fazia as confecções manuais das chapas, isto é, juntando letras por letras
para fazer as composições. Posteriormente José Ferreira saiu da "Editora Comercial S/A.", e eu
que já havia aprendido operar a linotype, passei a ser o linotipista da
empresa, quando fazia as composições de orçamentos de diversas prefeituras do
Alto Oeste potiguar.
Além dessas eu fazia linotipicamente a composição dos livros da "Coleção
Mossoroense", uma Fundação criada pelo Dr. Vingt Rosado Maia, sendo que
esta dava (quase extinta) oportunidade a diversos autores de livros, tanto a profissionais como principiantes.
FERREIRA -
ARTISTA
José
Ferreira Filho não só foi jornalista como também foi um dos melhores
seresteiros de Mossoró e da região. Gostava de divertir o seu cativo público em
diversas casas de Shows. Tanto era amante do jornalismo como também da música.
Em anos remotos, na década de setenta, eu residia na "Casa de Menores
Mário Negócio", uma instituição que dava assistência a menores, e era sob o
domínio do "SAM" - Serviço de Assistência ao Menor", que
foi substituído pela "FEBEM", e José Ferreira Filho era casado com
uma senhora irmã da Vice-diretora desta instituição. Como eu ainda aos dezesseis anos tocava pouco e ruim e não podia comprar um, tomei
emprestado o seu, mas por má sorte quebrei o seu amado e zeloso violão.
Os
dias foram se passando e eu com vergonha de falar para ele o que tinha
acontecido com o seu instrumento, fiquei na moita. Mas como não havia outro jeito, contei o que tinha
acontecido. Mas ele foi compreensivo e me pediu que eu mandasse
consertá-lo, isso acontecia com qualquer um.
Procurei um marceneiro de primeira categoria e mandei consertá-lo. Dias depois
eu fui entregá-lo. Não sei se foi apenas para me agradar, mas o serviço feito
pelo carpinteiro foi elogiado por ele.
Os tempos se passaram e perdemos por completo o contato. Anos depois eu
soube que ele estava fazendo serestas por essa Mossoró e região. E
posteriormente o encontrei e lhe fiz a seguinte pergunta:
- Ferreira, quando você descobriu que é cantor?
Ele me respondeu o seguinte:
- Para te falar a verdade nem eu mesmo sei. Comecei a me apresentar por
aí, o público tem gostado e eu continuo fazendo as minhas serestas.
José Ferreira foi sem dúvida um dos melhores seresteiros de Mossoró.
José Ferreira Filho ou Ferreira da Gazeta faleceu no dia 17 de Agosto de 2010,
vítima de problemas pulmonares.
PALAVRAS DO
POETA ANTONIO FRANCISCO
"Em um
momento que quase cheguei a falecer, Ferreira fez um poema pedindo a Deus para
não me levar. Hoje tenho certeza que o céu levou meu amigo por que estava
precisando de pessoas boas por lá”.
Antônio Francisco Teixeira de Melo (Mossoró, 21 de outubro de 1949) é um
cordelista potiguar. É filho de Francisco Petronilo de Melo e Pêdra
Teixeira de Melo. Graduado em História pela Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte (UERN). Poeta popular, cordelista, xilógrafo e compositor,
ainda confecciona placas.
Aos
46 anos, muito tardiamente, começou sua carreira literária, já que era dedicado
ao esporte, fazia muitas viagens de bicicleta pelo Nordeste e não tinha tempo
para outras atividades. Muitos de seus poemas já são alvo de estudo de vários
compositores do Rio Grande do Norte e de outros Estados brasileiros,
interessados na grande musicalidade que possuem.
Em 15 de Maio de 2006, tomou posse na Academia Brasileira de Literatura de
Cordel, na cadeira de número 15, cujo patrono é o saudoso poeta cearense
Patativa do Assaré. A partir daí, já vem sendo chamado de o “novo Patativa do
Assaré”, devido à cadeira que ocupa e à qualidade de seus versos.
POESIA
DO GRANDE POETA ANTÔNIO FRANCISCO
A Casa que a Fome Mora
Eu de tanto ouvir falar
Dos danos que a fome faz,
Um dia eu sai atrás
Da casa que ela mora.
Passei mais de uma hora
Rodando numa favela
Por gueto, beco e viela,
Mas voltei desanimado,
Aborrecido e cansado.
Sem ter visto o rosto dela.
Vi a cara da miséria
Zombando da humildade,
Vi a mão da caridade
Num gesto de um mendigo
Que dividiu o abrigo,
A cama e o travesseiro,
Com um velho companheiro
Que estava desempregado,
Vi da fome o resultado,
Mas dela nem o roteiro.
Vi o orgulho ferido
Nos braços da ilusão
Vi pedaços de perdão
Pelos iníquos quebrados,
Vi sonhos despedaçados
Partidos antes da hora,
Vi o amor indo embora,
Vi o tridente da dor,
Mas nem de longe via a cor
Da casa que a fome mora.
Vi num barraco de lona
Um fio de esperança,
Nos olhos de uma criança,
De um pai abandonado,
Primo carnal do pecado,
Irmão dos raios da lua,
Com as costas seminuas
Tatuadas de caliça,
Pedindo um pão de justiça
Do outro lado da rua.
Vi a gula pendurada
No peito da precisão,
Vi a preguiça no chão
Sem ter força de vontade,
Vi o caldo da verdade
Fervendo numa panela
Dizendo: aqui ninguém come!
Ouvi os gritos da fome,
Mas não vi a boca dela.
Passei a noite acordado
Sem saber o que fazer,
Louco, louco pra saber
Onde a fome residia
E por que naquele dia
Ela não foi na favela
E qual o segredo dela,
Quando queria pisava,
Amolecia e Matava
E ninguém matava ela?
No outro dia eu saio
De novo a procura dela,
Mas não naquela favela,
Fui procurar num sobrado
Que tinha do outro lado
Onde morava um sultão.
Quando eu pulei o portão
Eu vi a fome deitada
Em uma rede estirada
No alpendre da mansão.
Eu pensava que a fome
Fosse magricela e feia,
Mas era uma sereia
De corpo espetacular
E quem iria culpar
Aquela linda princesa
De tirar o pão da mesa
Dos subúrbios da cidade
Ou pisar sem piedade
Numa criança indefesa?
Engoli três vezes nada
E perguntei o seu nome
Respondeu-me: sou a fome
Que assola a humanidade,
Ataco vila e cidade,
Deixo o campo moribundo,
Eu não descanso um segundo
Atrofiando e matando,
Me escondendo e zombando
Dos governantes do mundo.
Me alimento das obras
Que são superfaturadas,
Das verbas que são guiadas
Pro bolsos dos marajás
E me escondo por trás
Da fumaça do canhão,
Dos supérfluos da mansão,
Da soma dos desperdícios,
Da queima dos artifícios
Que cega a população
Tenho pavor da justiça
E medo da igualdade,
Me banho na vaidade
Da modelo desnutrida
Da renda mal dividida
Na mão do cheque sem fundo,
Sou pesadelo profundo
Do sonho do bóia fria
E almoço todo dia
Nos cinco estrelas do mundo.
Se vocês continuarem
Me caçando nas favelas,
Nos lamaçais das vielas,
Nunca vão me encontrar,
Eu vou continuar
Usando o terno Xadrez,
Metendo a bola da vez,
Atrofiando e matando,
Me escondendo e zombando
Da Burrice de vocês.
A Casa que a Fome Mora
Eu de tanto ouvir falar
Dos danos que a fome faz,
Um dia eu sai atrás
Da casa que ela mora.
Passei mais de uma hora
Rodando numa favela
Por gueto, beco e viela,
Mas voltei desanimado,
Aborrecido e cansado.
Sem ter visto o rosto dela.
Vi a cara da miséria
Zombando da humildade,
Vi a mão da caridade
Num gesto de um mendigo
Que dividiu o abrigo,
A cama e o travesseiro,
Com um velho companheiro
Que estava desempregado,
Vi da fome o resultado,
Mas dela nem o roteiro.
Vi o orgulho ferido
Nos braços da ilusão
Vi pedaços de perdão
Pelos iníquos quebrados,
Vi sonhos despedaçados
Partidos antes da hora,
Vi o amor indo embora,
Vi o tridente da dor,
Mas nem de longe via a cor
Da casa que a fome mora.
Vi num barraco de lona
Um fio de esperança,
Nos olhos de uma criança,
De um pai abandonado,
Primo carnal do pecado,
Irmão dos raios da lua,
Com as costas seminuas
Tatuadas de caliça,
Pedindo um pão de justiça
Do outro lado da rua.
Vi a gula pendurada
No peito da precisão,
Vi a preguiça no chão
Sem ter força de vontade,
Vi o caldo da verdade
Fervendo numa panela
Dizendo: aqui ninguém come!
Ouvi os gritos da fome,
Mas não vi a boca dela.
Passei a noite acordado
Sem saber o que fazer,
Louco, louco pra saber
Onde a fome residia
E por que naquele dia
Ela não foi na favela
E qual o segredo dela,
Quando queria pisava,
Amolecia e Matava
E ninguém matava ela?
No outro dia eu saio
De novo a procura dela,
Mas não naquela favela,
Fui procurar num sobrado
Que tinha do outro lado
Onde morava um sultão.
Quando eu pulei o portão
Eu vi a fome deitada
Em uma rede estirada
No alpendre da mansão.
Eu pensava que a fome
Fosse magricela e feia,
Mas era uma sereia
De corpo espetacular
E quem iria culpar
Aquela linda princesa
De tirar o pão da mesa
Dos subúrbios da cidade
Ou pisar sem piedade
Numa criança indefesa?
Engoli três vezes nada
E perguntei o seu nome
Respondeu-me: sou a fome
Que assola a humanidade,
Ataco vila e cidade,
Deixo o campo moribundo,
Eu não descanso um segundo
Atrofiando e matando,
Me escondendo e zombando
Dos governantes do mundo.
Me alimento das obras
Que são superfaturadas,
Das verbas que são guiadas
Pro bolsos dos marajás
E me escondo por trás
Da fumaça do canhão,
Dos supérfluos da mansão,
Da soma dos desperdícios,
Da queima dos artifícios
Que cega a população
Tenho pavor da justiça
E medo da igualdade,
Me banho na vaidade
Da modelo desnutrida
Da renda mal dividida
Na mão do cheque sem fundo,
Sou pesadelo profundo
Do sonho do bóia fria
E almoço todo dia
Nos cinco estrelas do mundo.
Se vocês continuarem
Me caçando nas favelas,
Nos lamaçais das vielas,
Nunca vão me encontrar,
Eu vou continuar
Usando o terno Xadrez,
Metendo a bola da vez,
Atrofiando e matando,
Me escondendo e zombando
Da Burrice de vocês.
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