*Rangel Alves da Costa
A bela e atraente povoação ribeirinha de Bonsucesso, surgida em longínquos tempos às margens do Rio São Francisco, no atual município sergipano e sertanejo de Poço Redondo, possui uma característica peculiar na sua religiosidade. É devotada, ao mesmo tempo, a três santidades: Nossa Senhora do Rosário, padroeira oficial, São Sebastião como co-padroeiro, e ainda São Francisco, como patrono das águas e da vida do povo ribeirinho.
A escolha de Nossa Senhora do Rosário como padroeira da povoação surgiu principalmente como reconhecimento à devoção pela santa de uma importante família desbravadora da região. Contudo, muitos afirmam que também como assimilação de Bonsucesso, no Rio de Janeiro, cuja padroeira é Nossa Senhora do Rosário. Na povoação ribeirinha sergipana, a comemoração da santa ocorre no dia 07 de outubro.
Mas é São Sebastião o santo verdadeiramente enraizado na cultura popular e religiosa da população de Bonsucesso. E tanto assim que a festa em sua devoção, alongando-se pelo mês de janeiro, além dos cultos e ofícios religiosos, também transforma o Velho Chico como altar de louvor e preces, com eventos em suas águas e suas margens. Acerca do seu histórico, assim ensina o cientista religioso e cidadão ribeirinho Klaiton Santos Gomes:
“A devoção a São Sebastião, no Povoado Bonsucesso teve seu início nos idos de 1910, quando a povoação passou por um surto de doença denominada peste, pelos moradores. Segundo narram alguns moradores, um negro de nome "Culodino", vindo da cidade de Propriá, chegou a Bonsucesso com a imagem do Glorioso Mártir São Sebastião. Chegando às terras de Bonsucesso cessou tal doença, e muitas curas e milagres foram atribuídos à pequena imagem de madeira de aproximadamente 70 cm, que ao longo do tempo foi arrastando fiéis de várias partes do Estado de Sergipe e outros estados, que vêm à povoação em 20 de Janeiro para agradecer pelas graças alcançadas.
É de suma importância destacar que, provavelmente a devoção a São Sebastião, também tenha fortes indícios de estar ligada ao "Sebastianismo", onde a figura central é o rei de Portugal Dom Sebastião. Quando rei de Portugal foi Dom Sebastião quem provavelmente difundiu a devoção a São Sebastião na cidade do Rio de Janeiro, originariamente fundada com o nome de Cidade de São Sebastião, por ser o santo seu onomástico, trazendo uma imagem do mesmo ao Rio e o tornando padroeiro local. A partir daí se difundiu em todo o Brasil e principalmente no Nordeste, chegando a Bonsucesso.
Um dos marcos desta devoção em Bonsucesso foi o centenário da chegada da primeira imagem de São Sebastião. Todas as comunidades da Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Poço Redondo vieram festejar com a comunidade local o grande dia, quando todos, em fervorosa manifestação de fé, celebraram os 100 anos de devoção a São Sebastião”.
Pois bem. O entrelaçamento de fé e devoção entre o povo ribeirinho de Bonsucesso e São Sebastião foi tomando aspirações tão grandiosas que agora o seu povo, com as bênçãos da igreja e das comunidades de pescadores e dos povos do rio, agora proclamam uma luta maior: o Reconhecimento da Festa de São Sebastião como bem histórico e cultural, de natureza imaterial. Quer dizer, a busca da preservação, através de lei e da parceria entre sociedade e Estado, de tão importante manifestação religiosa.
É no sentido de dar formalização a um projeto de reconhecimento dessa potencialidade religiosa, histórica e cultural de Bonsucesso, que a comunidade está unindo forças para que a aspiração popular se transforme em lei. Como norteamentos preliminares, e sob o comando de Quitéria Gomes, Klaiton Santos Gomes, Damião Rodrigues Feitosa, Manoel Belarmino, Erionésia Correia e Rangel Alves da Costa, dentre outros da comunidade, é que reuniões preparatórias serão realizadas, tendo um primeiro encontro já tendo acontecido no último dia 4, com a próxima reunião marcada para a noite de sexta, dia 11, em Bonsucesso.
O objetivo maior será, portanto, que a Festa de São Sebastião em Bonsucesso não continue apenas como um evento de calendário, mas como manifestação religiosa legalmente preservada e mantida sob a proteção da comunidade, da igreja, do município e do Estado.
Escritor
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