Primeiros
registros indígenas têm mais de 50 mil anos e mostram a origem da humanidade na
América - GABRIELA
MARTIN ÁVILA PUBLICADO EM 22/10/2019, ÀS 10H00
- Crédito:
Wikimedia Commons
Falar sobre
a Pré-História do Brasil é escrever a história do indígena brasileiro antes da colonização portuguesa. É
narrar o processo de ocupação das terras amazônicas, do litoral, das grandes extensões
semiáridas, do cerrado e das regiões temperadas do sul.
Em 1500, em
seu estágio mais avançado de desenvolvimento, o indígena vivia em moradias multifamiliares
para até 50 indivíduos, organizadas em aldeias. Não chegou a construir cidades
ou grandes santuários, como em outras regiões das Américas.
No entanto, é
completamente errado chamar essas populações de primitivas, desde uma visão eurocêntrica de falsa
superioridade: elas souberam se adaptar e sobreviver em meios hostis como o
semiárido nordestino ou a floresta amazônica.
O indígena
brasileiro foi capaz de criar uma arte única, a exemplo das pinturas rupestres
sobre os paredões de rocha que se espalham por todo o país, especialmente nos
sertões nordestinos.
O Parque
Nacional Serra da Capivara (PI), declarado Patrimônio Histórico da Humanidade
pela Unesco, reúne mais de 800 sítios com pinturas rupestres. São cenas de
grande expressividade onde se retratam diversas atividades da vida
pré-histórica. Há também pinturas e gravuras de grande beleza na região do
Seridó (RN), na Bahia, na Paraíba e no Pará, entre outros.
No sítio do
Boqueirão da Pedra Furada (PI), Niède Guidon e outros arqueólogos acharam
vestígios dos primeiros caçadores que povoaram o Brasil desde antes de 50000
a.C. Os achados demonstraram que esses antigos habitantes conheciam o fogo e
talhavam a pedra para obter armas e vários tipos de ferramentas.
Há 10 mil
anos, grande parte das terras que hoje formam o Brasil já tinham sido ocupadas
por grupos humanos que viviam da caça e da coleta de frutos diversificados.
Nesse
contexto, uma pergunta se faz obrigatória: de onde vieram esses primeiros
habitantes?
Os indígenas
brasileiros modernos e os que entraram em contato com os portugueses são e eram
de origem asiática. A constatação desse fato levou à teoria, nunca bem
demonstrada, de que todos os nativos do Novo Mundo seriam descendentes de levas
chegadas às Américas através do estreito de Bering, principalmente na época em
que a glaciação Wisconsin fez descer o nível dos mares, criando-se um istmo
entre a Sibéria e o Alasca.
Esse istmo
teria permitido a passagem por terra de animais e dos caçadores que os
perseguiram. Pesquisadores também defenderam que aportaram nas Américas, a
partir de 3000 a.C., levas originárias das ilhas do Pacífico Sul. Grupos teriam
navegado de ilha em ilha até as costas da América do Sul e seriam já portadores
de conhecimentos, além da navegação, de agricultura e de cerâmica.
Na década de
1970, o estudo de um crânio escavado pela arqueóloga Annette Laming Emperaire
mudou o panorama sobre os primeiros colonizadores. As pesquisas indicaram que
se tratava de uma mulher cujas características apontavam uma origem africana em
vez de asiática.
Esse crânio de
11 mil anos foi chamado Luzia. O achado levantou, de novo, a teoria já antiga,
embora adormecida por falta de provas sólidas, da chegada às costas brasileiras
de grupos vindos através do Atlântico navegando desde a África.
Essas levas
africanas seriam pouco numerosas e podem ter-se extinguido antes da chegada dos
grupos asiáticos, maiores, os quais vieram por caminhos múltiplos durante
milênios.
A agricultura
nas Américas é muito antiga. No nordeste do Brasil e na Amazônia, pequenas
roças de subsistência podem ter começado em 3000 a.C. Acompanhando o
desenvolvimento da agricultura, os indígenas fabricaram, também, cerâmica
utilitária e cerimonial de grande beleza e apurada técnica.
A arqueologia
pré-histórica está revelando, cada vez com maiores detalhes, que a História
nacional não começou em 1500 com a chegada de Cabral e que as raízes indígenas
são, sem dúvida, um dos pilares da nacionalidade brasileira.
Por Gabriela
Martin Ávila: Professora do curso de pós-graduação em Arqueologia da UFPE e
autora de Pré-História do Nordeste do Brasil.
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