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quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

TODAS AS REDES QUE O CARIRI CANGAÇO PROPORCIONOU AO LONGO DO TEMPO POR:GUERHANSBERGER TAYLLOW

Filósofa argentina Esther Díaz e Guerhansberger Tayllow

Escrever para este blog é sempre um exercício de memória: rememoro os primeiros passos, os primeiros eventos e todas as redes que o Cariri Cangaço proporcionou. Sempre acreditei na possibilidade do diálogo entre a universidade e as produções que são desenvolvidas cotidianamente para além de seus muros. Nessas produções encontrei amigos, afetos e espaços. Sonhei desde o primeiro dia na possibilidade da criação, de entregar algo assinado por mim, mas que ao mesmo tempo estivesse em conexão com outros. Foi assim que surgiu meu primeiro livro, através do encontro com o Cariri Cangaço e as orientações recebidas enquanto aluno do curso de História na UFCG/Cajazeiras.

É verdade que também contei com a sorte, pois em Cajazeiras vive um dos maiores livreiros sobre o cangaço. Trata-se do professor Pereira; Conselheiro Cariri Cangaço; homem digno, sábio e de espírito iluminador. Conversar com Pereira, sentí o clima do seu livreiro sempre foi um disparate de estímulo. Para quem gosta desse universo a companhia de Pereira é um acontecimento, momento de leitura de muitas páginas. Daí surgiram as primeiras indicações de livros, direcionamentos que me encaminhavam para a realização de projetos. Sou muito grato ao amigo e professor Pereira, obrigado!

No decorrer do tempo fui afunilando minhas reflexões em torno do cangaceiro paraibano Chico Pereira. Enquanto muitos estavam interessados na verdade histórica sobre o personagem, percebi que essa “verdade” biográfica foi construída por meio de múltiplos interesses em redes de memórias. A medida que dissecava as redes memorialísticas do passado  em torno de Chico Pereira, costurava outras no presente com pessoas incríveis. Em Nazarezinho (terra de Chico Pereira)  conheci Iris Mendes, mulher militante nas causas culturais e de um coração encantador. Iris é sertaneja que, assim como Jarda, sabe  soletrar a mensagem do perdão e do amor que o padre Pereira deixou em sua construção narrativa sobre seu pai cangaceiro.  Iris, muito mais do que amiga tornou-se uma irmã.

Guerhansberger Tayllow recebe o Diploma do Cariri Cangaço durante o Cariri Cangaço na cidade de Lastro, Paraíba. 
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Nesse mesmo momento tive a oportunidade de conhecer e estabelece amizade com o professor e escritor José Romero, que já não está entre nós, mas que nunca deixou de fazer presença nos meus escritos e nas minhas lembranças. Romero nunca se recusou em ajudar foi um dos grandes divulgadores dos meus escritos. Obrigado eterno amigo!

Vejam só quantas redes costurei. Na verdade, muitos e muitas que fazem parte dos eventos do Cariri Cangaço me ajudaram de alguma forma. Esse é o lado humano e corpóreo da pesquisa, atravessado por afetos e recordações. Não por acaso o resultado foi um livro plural desde o título: Nas redes das memórias: as múltiplas faces do cangaceiro Chico Pereira até as ultimas páginas que inconformadas com essa condição, isto é, de serem as últimas, apontaram para  novos caminhos, outros territórios.


Agora venho oferecer ao olhar crítico do leitor meu mais novo livro VIRGULINO  CARTOGRAFADO:  RELAÇÕES  DE  PODER  E TERRITORIALIZAÇÕES  DO  CANGACEIRO  LAMPIÃO. O  mesmo foi fruto  de uma pesquisa de mestrado pela qual busquei lançar reflexões sobre a primeira fase do cangaço lampiônico (1920-1928) através de conceitos espacias (como espaço e território). Espero ter conseguido lançar novas interpretações, tarefa difícil dada a quantidade de trabalhos sobre a vida do cangaceiro Lampião. Trata-se de uma conversa criativa  entre um jovem historiador com geógrafos, antropólogos e filósofos já consagrados. É um livro que não tem medo de dialogar, argumentar,  entra e sair de territórios. A tese principal é que Lampião viveu e constituiu uma multiterritorialidade. É um trabalho inspirado por autores do pensamento nômade, que em sua feitoria possibilitou o nomadismo profissional do próprio autor. É um escrito de vida diante de tantos eventos de morte. Isso porque minha vida está diretamente relacionada com os meus estudos. Foi nesse universo que encontrei amigos, respeito, admiração e conhecimento.

Guerhansberger Tayllow
Pesquiador e escritor do Cariri Cangaço
La Rioja, Argentina, 28 de novembro de 2019.

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