*Rangel Alves da Costa
Há que seguir. Ou mesmo retornar. Não há voo nem rio ou mar por cima da terra firma. O único caminho é a estrada. Tão necessário o seu percurso, que impensável viver sem sair do lugar, sem conhecer outros horizontes.
De terra nua, empoeirada, estrada. Chão batido, espinhento, com ponta de pedra por todo lugar, mas estrada. Reta, de poucas curvas ou curveada, sempre uma estrada. Um ponto de partida, um destino ou não, e o fim na estrada.
Quando a porta se abre o passo quer logo seguir. Tantas vezes, sequer sabe aonde vai, mas sempre quer seguir. Nada melhor na vida que seguir pelos beirais, passar por lugares, ir adiante, até que se chegue a algum lugar. Sempre pela estrada.
Sim, eu sei o que é uma estrada. Eu vejo estradas e caminho por estradas. Mas será somente o traçado do percurso ou diz muito mais?
Apenas uma estrada. Talvez assim se imagine. Uma estrada asfaltada, uma estrada na piçarra, uma estrada de chão espinhento, uma estrada nua, uma estrada torta, uma estrada morta.
A estrada se alonga no olhar, vai se distanciando até se perder entre curvas e horizontes. Quem pisa o pé na estrada sequer imagina sua importância, até onde ela pode levar, o que ela pode modificar em sua vida.
Bastaria saber que tudo é estrada, ainda que não esteja caminhando ou seguindo por uma estrada. Ora, o que é a vida senão uma estrada?
Da porta pra dentro e da porta pra fora tudo é estrada. O rio é estrada, a nuvem é estrada, ao céu se chega por uma estrada. Todo percurso na vida é estrada. O caminho da infância, as veredas da adolescência, as curvas da existência.
Quanto caminho até chegar ao lábio da menina bela e dar o primeiro beijo. E no beijo um voo por uma estrada até a nuvem. Quanto tempo até o amor de infância se tornar companhia de mão e de lar.
Uma estrada que vai desde o primeiro choro do nascimento às lágrimas de adeus de um dia. Uma estrada que distancia os que ficam e os que partem, as chegadas e partidas, os reencontros e as tristezas.
Como é longe a estrada que leva às verdadeiras amizades, aos amados corações, às ternuras e aos afetos. Estradas distantes demais em direção à felicidade, mas que podem levar ao abismo em questão de segundos.
Estrada da memória, da nostalgia, das relembranças. Quando o pensamento aflora em busca do passado e vai abrindo janelas e portas das vidas vividas, então a estrada se enche de flores para perfumar aqueles momentos.
E quanta estrada é avistada e percorrida pelo olhar. Olhar que se encanta ao encontrar a cor da primeira manhã. Olhar que entristece perante o candeeiro do sol que vai se apagando. Um olhar que avista onde não pode chegar e que lacrimeja pelo encontro do que não se faz presença.
Dar as mãos, segurar mão na mão, e seguir pela estrada. Deixar o vento soprar e assanhar os cabelos, espanar os panos da roupa, dar vontade de correr. Dar vontade de chegar, sobre a relva se lançar e dizer: ainda não chegamos, apenas estamos aqui.
Nunca, nunca será possível chegar ao fim dessa estrada. Nem a morte será fim da estrada. A pessoa se vai, porém outras continuam com sua presença enquanto durar. E assim a vida vai, por estrada, por veredas, caminhos, por espinhos, pontas de pedras e flores.
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