Por Rangel Alves da Costa
Que as paredes da memória de Poço Redondo jamais releguem ao esquecimento aqueles que semearam sua história, que alicerçaram seu destino, que muito fizeram para que as raízes fossem brotadas e as gerações familiares ainda estejam tão grandiosamente presentes. E Dona Céu foi uma dessas pessoas. Maria do Céu de Jesus, nascida no dia 26 de setembro de 1906, estaria acima dos 114 anos se entre os seus ainda estivesse.
Nascida naquele arruado de Poço Redondo de antigamente, Dona Maria do Céu possuía imensa linhagem familiar, com muitos irmãos e irmãs e parentes sem fim, pois filha de Dona Constância Maria dos Santos, que trouxe ao mundo umas três proles de pais diferentes. Daí não constar na Certidão de Nascimento nem na Carteira de Identidade de Dona Céu o nome do pai, somente da mãe. Filha de pai desconhecido?
Não, filha de furtivo amor que não vingou por muito tempo. De muito parentesco porque, como dito, Dona Constância teve outros filhos de pais diferentes, a exemplo de José Francisco do Nascimento (Zé de Julião) e Maria José do Nascimento (Mazé de Anízio), frutos de seu relacionamento mais duradouro, que foi com o latifundiário Julião do Nascimento.
Dona Céu, segundo relatos, era moça bonita, de um moreno ensolarado com tez sertaneja. Sua beleza despertou a atenção de outro sertanejo de tronco e folhagem: um rapaz conhecido por Gracinha. Com este casou, porém enviuvou muito cedo, pois seu esposo foi morto por volta do ano de 38, durante um episódio de entrega de cangaceiros em Poço Redondo, enquanto cochilava debaixo de um pau pereiro, nas proximidades do centro da cidade de agora, bem defronte onde mora a lendária rendeira de bilros e rezadeira Dona Conceição de Laura. Dona Maria do Céu e Gracinha deixaram filhos, e hoje netos e bisnetos. Zezito do Bode, por exemplo, é neto de Dona Céu.
Também João, Rosilda e tantos outros. Os que ainda se recordam de Dona Céu, certamente o fazem reverenciando seu mais famoso ofício: o de parteira. Era, sim, famosa e aclamada parteira, trazendo ao mundo pela maestria das mãos dezenas ou centenas de sertanejos. Eu ainda a recordo na mesma feição da fotografia abaixo. Um amor de pessoa. Saudade grande, Dona Céu!
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