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terça-feira, 8 de março de 2022

O VINGATIVO LAMPIÃO

 Por:José Mendes Pereira

Em 1927, mesmo após sete anos da morte do seu pai, Lampião resolveu tirar a tranquilidade do Estado de Alagoas, fazendo invasões constantes, usando o seu poder de vingança, e eliminando sertanejos, alegando que era protestando contra Zé Lucena, por ter assassinado o seu patriarca, o José Ferreira da Silva, no momento em que debulhava grãos em sua residência. 

Dizia ele que o que haviam feito com o seu generoso pai, jamais ficaria impune, ou no esquecimento, pois o velho não tinha nada a ver com os seus problemas de bandidagem. Se Zé Lucena o procurava para eliminá-lo do solo sertanejo, que tivesse enfrentado os cerrados, as caatingas por todos os recantos dos Estados do Nordeste, pois, era naqueles lugares que ele se encontrava,  e não tivesse exterminado a vida de um homem honrado, amante da tranquilidade, da paz, amigo dos amigos, bom esposo, bom pai, e era considerado um grande homem no meio de toda vizinhança. 

O outro motivo, era denegrir a imagem de Zé Saturnino, mesmo sendo lá da sua terra Vila Bela, no Estado de Pernambuco, que segundo ele, tinha sido o causador das declinações da família Ferreira, privando o direito deles serem felizes onde moravam, obrigando-os a fugirem do amado berço Pernambuco, e os empurrando para as desconhecidas terras alagoanas. 

Casa dos pais de Lampião

Lá no Estado de Pernambuco, onde nasceu a família, ele e os seus familiares deixaram para trás, tudo que haviam adquiridos com muito esforço: propriedade, agricultura, criações de gado e bodes, e o que mais lhe doía em toda família, eram os sonhos, e muitos sonhos que pretendiam realizar. Que infelicidade!

Tenente José Lucena

Já residindo no novo Estado que por pressão haviam ganhado, Alagoas, passaram por dois grandes desgostos invencíveis. O primeiro foi quando eles viram a mãe, dona Maria Sulena da Purificação cair em depressão. Ela ainda se sentindo magoada e desgostosa com os desrespeitos do Zé Saturnino, por ter afetado o caráter do esposo José Ferreira da Silva, seu coração não aguentando as maldades, faleceu no ano de 1920, na Fazenda Engenho Velho, de propriedade de um senhor chamado Luiz Fragoso. 

O segundo e mais doloroso, foi quando eles viram o pai envolvido em um horroroso lençol de sangue, todo crivado de balas pelas armas do tenente Zé Lucena.  Os desrespeitos que surgiram contra a sua família, alcançaram o topo do pico, deixando ele e seus irmãos sem rumo e sem decisões próprias, para enfrentarem as maldades dos poderosos perseguidores.

Dizia o rei no silêncio do seu “EU”, que não tinha dúvida, que o principal culpado das suas desventuras, era o Zé Saturnino, por não ter assumido a sua desonestidade, quando o assecla viu peles dos seus animais na casa de um dos moradores da Fazenda Pedreiras. Se o fazendeiro tivesse assumido o feito, não teria sido necessário ele e seus irmãos viverem embrenhados às matas, escondendo-se de policiais que os perseguiam. 

José Saturnino, primeiro inimigo de Virgulino

O rei ainda se lastimava que todos os seus antes amigos, viviam passeando pelas redondezas do lugar, livres de perseguições, e diariamente aconchegados às mocinhas do povoado, frequentando festas e bailes. E enquanto os outros gozavam da liberdade, ele e seus irmãos eram privados de participarem dos divertimentos que o povoado oferecia, devido às perseguições das volantes. Infelizmente, teriam que passar a vida inteira se amparando às árvores, castigados pela chuva, sol, poeira, dormindo no chão, misturados com caranguejas, lacraias, cobras e mais outros insetos venenosos, no meio de combates cerrados, tentando se livrarem dos estilhaços de balas. E na maioria das vezes, fome, fome, e muita fome, vivendo um horroroso sofrimento. 

Lampião assumia o seu feito, dizendo que antes da morte do seu patriarca, já havia praticado crimes. E em um desses, findou a vida de um sujeito que lhe roubara uma das suas cabras. Mas que todos que o julgavam como um bandido cruel, entendessem o porquê da sua prática criminosa. Fizera, simplesmente para defender o que lhe pertencia, e em prol de sua própria honra. Se ele e seus irmãos não defendessem o que lhes pertenciam, com o passar dos tempos, todos iriam querer pisá-los como se eles nada valessem na vida.

Lampião enquanto descansava sobre o chão, talvez imaginava,   que se o Zé Saturnino não tivesse manipulado o tenente Zé Lucena para assassinar o seu generoso pai, quem sabe, talvez ele não tivesse se tornado um bandoleiro; e sim, um fazendeiro, um engenheiro, um rábula qualquer, ou outra coisa parecida. Ou ainda teria se casado e construído uma linda e maravilhosa família. 

E agora, depois das grandes decepções que passaram, principalmente com a morte do pai, como os irmãos Ferreiras se vingariam das maldades que fizeram contra eles?

Lampião e seu mano, decepcionados e de cabisbaixas diante da vizinhança, e privados de tudo e de todos, já que não haviam como assassinarem os causadores das suas declinações, decidiram que o mais propício para amenizarem as suas dores, seria fazerem invasões constantes no Estado de Alagoas, não importando com o tipo de atrocidade, vingando-se a seu modo. Já que tinham perdido o respeito, diante da vizinhança, uma desordem a mais não influenciava nada.  

E a partir de 11 de janeiro de 1927, organizaram-se e partiram para bagunçarem o Estado de Alagoas, onde destruíam tudo que viam pela frente, não dando tranquilidade aos moradores sertanejos, e geralmente rios de sangue ficavam escorrendo por onde os vingadores passavam. 

Informação: 

O Livino Ferreira da Silva foi assassinado no ano de 1925, e o Antonio Ferreira da Silva foi morto no início de Janeiro de 1927. Possivelmente, neste período ele ainda estava vivo.

Fonte de Pesquisa: Lampião Além da Versão - Alcino Costa 

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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