No dia 13 de
junho de 1927, Lampião (1897 ou 1898 - 1938), que havia dias assediava a cidade
de Mossoró, no Rio Grande do Norte, enviou uma carta ao seu prefeito, Rodolfo
Fernandes, exigindo quatrocentos contos de réis para não atacar a cidade. Tendo
o prefeito recusado a proposta, igualmente por carta, Lampião e seu bando
invadiram a cidade. O objetivo era receber o resgate ou saquear a
indústria, o comércio, as residências e as instalações do Banco do Brasil.
Carta de Lampião ao prefeito
“Coronel Rodolfo:
Estando eu aqui, o que pretendo é dinheiro. Já foi um aviso para o senhor aí.
Se por acaso resolver mandar-me a importância que nós pedimos, evito a entrada
aí; não vindo essa importância, eu entrarei até aí. Penso que, a Deus querer,
eu entro, e vai haver muito estrago. Por isso, se vier o dinheiro, eu não entro
aí. Mas mande resposta logo. Virgulino Ferreira, Capitão Lampião.”
Resposta do Prefeito a Lampião
“Virgulino Lampião:
Recebi o seu bilhete e respondo que não tenho a importância que pede; o
comércio também não tem. O banco está fechado, pois os seus funcionários se retiraram
daqui. Estamos dispostos a suportar tudo que o senhor quiser fazer contra nós.
A cidade confia na defesa que organizou. Rodolfo Fernandes, prefeito.”
O ataque
Nesse mesmo 13 de junho deu-se o ataque de Lampião a Mossoró, de acordo com um
plano idealizado pelo cangaceiro potiguar Massilon Leite Benevides,
conhecedor da região. Massilon confiou na negligência da população, que não
acreditava num ataque de Lampião. Ele não sabia, porém, da determinação do
prefeito e dos cidadãos que se dispuseram a defender a cidade contra os
marginais, que foram rechaçados e bateram em retirada, deixando para trás um
companheiro morto e outro ferido.
Nunca mais Lampião se atreveu contra nenhuma cidade do Rio Grande do Norte, ele
que, referindo-se à resistência de Mossoró, chegou a fazer o seguinte
comentário: “da torre da igreja, até o santo atirava na gente.”
O epílogo
Lampião continuou sua carreira de invasões e arruaças até ser morto por um
grupamento da Polícia Militar alagoana em 28 de julho de 1938, na fazenda
de Angicos, no município de Poço Redondo, Sergipe. Com ele morreram sua
mulher, Maria Bonita, e os cangaceiros Luís Pedro, Mergulhão, Elétrico,
Quinta-Feira, Caixa de Fósforo, Enedina, Cajarana e Diferente, e outros 23
cangaceiros se entregaram à volante comandada pelo tenente João Bezerra. Os
mortos foram decapitados e suas cabeças ficaram expostas nas escadarias da
igreja matriz de Santana do Ipanema, no sertão de Alagoas. De lá foram
conduzidas para Maceió e depois para Salvador, onde foram mantidas como
"objetos de pesquisa científica", no Instituto Médico Legal de
Salvador (Instituto Nina Rodrigues), até a década de 1970.
Uma semana depois do massacre da fazenda de Angicos, o cangaceiro Corisco, que carregava o apelido de "Diabo Louro", amigo de Lampião e ex-integrante do seu bando, desfechou violentos ataques retaliatórios contra cidades à margem do Rio São Francisco. Chegou a enviar algumas cabeças cortadas ao prefeito do povoado de Piranhas, Alagoas, com um bilhete audacioso: "se o negócio é de cabeças, vou mandar em quantidade".
Corisco foi morto pela polícia em julho de 1940, na região de Brotas de
Macaúbas, no Estado da Bahia.
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