Por ( Alanderson Hudson )
Nos últimos tempos ele bebia, não por prazer e sim para disfarçar a tristeza e principalmente para enganar a dor.
Ele estava doente, porém o mundo estava muito mais.
Chegou trôpego e precisou de ajuda para entrar no elevador...
Entrou no apartamento e ainda teve forças para vestir o Pijama, afinal de contas para ele era permissivo sair na rua de Pijama, mas jamais se deitaria com a roupa da rua.
Falando em rua, naquela noite e em outras tantas, constatou tristemente que ele era apenas mais um...
Ledo engano.
Nas imediações de seu apartamento a cidade mantinha seu ritmo frenético num vai e vem de carros e pessoas que sequer supunham que a vida passava rápido demais entre a massa e o caminhão.
Falando em passar, ele pensou:
"Os homens passam e as músicas ficam".
Depois teve um sobressalto:
Será que minhas músicas também vão passar?
Seu maior medo, era ser esquecido.
Outro engano...
Colocou um VHS do Elvis, tomou a derradeira saideira, fumou um cigarro e foi dormir quase em paz. Sonhou com um caminho bonito rasgado na mata que outrora havia sido virgem. Encontrou um igarapé e se banhou nele. Raul adorava água e além de haver perdido o medo da chuva ele agora era amigo dela. Lembrou de Dias D'avila, sentiu saudade de suas lindas fontes e chorou baixinho junto com a chuva fina que insistia em lhe acompanhar sem deixar vestígios.
Estava sentindo que encontraria naquele caminho que ele mesmo havia escolhido, a dama misteriosa vestida de cetim que ele sempre havia detestado, mas que amava ao mesmo tempo... Um flashback lhe passou pela cabeça, as filhas, a família, os palcos, os amores que ele não soube viver e alguns poucos amigos verdadeiros.
Leu numa plaquinha na trilha:
" Viver é ser feliz e nada mais..."
Voltou a sorrir e no mesmo instante procurou ver as coisas como elas realmente eram, sem falsas conclusões, e compreendeu imediatamente que precisava tentar uma coisa nova. Ele já havia feito sua parte e a semente que havia ajudado a plantar já havia nascido. Estava chegando o momento de Raul encarar o Raul Seixas...
Olhou para cima e notou que aquele céu já não era o mesmo céu que ele havia conhecido, era um céu carregado e rajado, suspenso no ar. Sentiu uma dor forte no peito e o sabor de um beijo, abriu os olhos assustado e percebeu que estava novamente em seu quarto e a última coisa que viu nesse plano espiritual foi o Elvis se despedindo no palco.
Fechou os olhos outra vez e em seguida tornou a abri-los aliviado, despertando para sempre do curto sonho da vida em algum lugar do universo...
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