Por José Mendes Pereira
Vulcão era um cangaceiro diferente dos outros. Estava sempre sozinho, vivendo o seu “eu” da maneira que ele bem pensava. Não gostava de conversa e sempre procurava não se entrosar com ninguém. Levava a sua vida isolada e pensativa, e até mesmo, a sua aparência física não se assemelhava com ninguém. Diz Alcino Alves em seu “Lampião Além da Versão - Mentiras e Mistérios de Angico” que Vulcão tinha uma cor morena, de corpo meio atlético, alto, corpulento e não e era obeso, de cabelos lisos...
Como bom estrategista e observador o rei Lampião estava de olho nele, e fazia tudo para o Vulcão não perceber que ele estava prestando a atenção no seu comportamento. O rei precisava conversar com alguém sobre o comportamento daquele seu comandado. E chamando o compadre Luiz Pedro, participou sobre o que vinha tentando descobrir com urgência, o porquê do cangaceiro Vulcão estava tão quieto, num lugar sem querer conversar com ninguém: E olhando para o Luiz Pedro diz:
- Compadre Luiz Pedro, eu não sei o que Vulcão está imaginando. Ele não fala com ninguém, não se entrosa com os outros, está sempre sozinho e pensativo.
- Eu vou ficar sempre de olho nele, compadre Lampião. E logo direi o porquê do Vulcão não querer se relacionar com os outros.
- Certo! Não desgruda o olho. Quero uma confirmação sem muita demora! – disse o compadre Lampião ao Luiz Pedro.
Neném do Ouro e Luiz Pedro
Assim que saiu da barraca do capitão Luiz Pedro foi tentar vê-lo, mas foi inútil. O cangaceiro não estava ali por perto. Saiu procurando-o por todos os aglomerados de cangaceiros que se divertiam jogando cartas, palestrando, brincando, mas infelizmente, o cangaceiro Vulcão não se encontra por ali. Depois de percorrer todos os grupos, Luiz Pedro foi até a barraca do cangaceiro Pancada, e perguntou se por acaso, tinha visto o Vulcão. A resposta foi negativa. Luiz Pedro voltou à barraca do rei e diz que o cangaceiro Vulcão havia desaparecido do coito. Por último, o que o rei deveria fazer, era ordenar que alguns cangaceiros fossem à procura do fugitivo. Rapidamente, Lampião ordenou que Luiz Pedro e outros fossem atrás do Vulcão humano.
O motivo do desaparecimento do cangaceiro Vulcão foi porque ele imaginava outra maneira de viver no cangaço, e de repente viu que não tão bom quanto ele imaginava. Estava enganado. Uma situação terrível de viver, sempre fugindo da polícia, matando, roubando, e isto não era para ele. Ia deixar aquela vida e voltar para a companhia dos seus pais, irmãos, parentes e amigos. Só tinha que enfrentar a suçuarana humana, quando ele dissesse que não mais iria participar do cangaço.
E vendo que o Vulcão não estava mais ali, o certo seria o capitão mandar cangaceiros à sua procura. De repente, Luiz Pedro, Zé Sereno e outros facínoras partiram em busca do desconfiado com ordem do capitão. Luiz Pedro tinha plena certeza para onde ele fora, e depois de andarem bastante, chegaram à casa de um conhecido, e lá, perguntam se ele viu o cangaceiro Vulcão. Mas a resposta foi negativa, que ninguém passou por ali antes deles. E logo adiante, ao encontrarem um viajante, esse afirmou ter passado por um indivíduo assim, assim, assado, muito diferente, e que ia entrando em Canindé Velho de Cima. Sem se demorarem, os cangaceiros partiram rumo ao local indicado pelo homem desconhecido. A viagem tinha que ser rápida, porque caso eles se demorassem o Vulcão iria pegar transporte (balsa ou canoa), e não mais eles o alcançaria.
Vulcão continuava fugindo ao destino que ele havia escolhido, e depois de muito andar, finalmente chegou a Canindé Velho de China, e foi para o porto. Lá, aguardava uma embarcação. Mas por sua infelicidade, o barco não apareceu, e ele passou a sentir medo, coisa que fazia tempo que não tinha medo de nada. O Vulcão sabia muito bem, do seu destino, e se por acaso ele caísse nas mãos dos perversos de Lampião, que não são mais seus amigos, e sim inimigos, estava lascado.
A noite chegou e o Vulcão não estava bem. Sentiu medo e põe-se a pensar o que seria dele se os seus ex-comparsas o encontrassem por ali. Sabia muito bem que o seu final seria devastador. Estava impaciente, com receio de um possível encontro com os facínoras. Nenhum barco aparece para fugir o mais rápido possível dali. O seu destino negou-lhe a presença da sorte ali por perto.
Uma voz conhecida disse com autoridade que ele estava preso. O Vulcão tentou reagir de todas as maneiras, mas não conseguiu, porque eram cangaceiros de sobra que o seguravam. Em seguida, o Vulcão humano foi amarrado. A ponta de uma corda os cangaceiros amarraram o fugitivo, e a outra ponta foi amarrada em um dos seus cavalos. Vulcão não tinha mais chance de se livrar daquela desgraça. A viagem até a presença do capitão Lampião foi sofredora, porque os cangaceiros não tiveram um tico de dó do ex-companheiro.
Como o Vulcão já estava cansado, caiu. Mesmo assim, o cavalo foi ordenado que seguisse. É a partir dalí que o sofrimento do Vulcão começou. O corpo do miserável já estava todo rasgado, sangue vivo saía pelas aberturas do corpo. Na caminhada foi ficando pedaços de pele do infeliz nos bicos das pedras, paus...
Lá mais adiante, os malfeitores chegaram a uma casa, a mesma que tinha passado antes e receberam respostas negativas. Lá estava havendo um forró, e os facínoras beberam e dançaram. O infeliz Vulcão já quase morto foi amarrado pelos cangaceiros com os braços para cima, porque eles temiam uma possível fugida, e em seguida, voltaram ao forró. Vez por outra, alguns saíam do forró e com a ponta do punhal furavam o quase falecido. Vulcão não tem mais resistência nem para pedir que não o maltratassem mais. Estava com cheiro de velório.
A noite para o Vulcão foi terrível. Mas ele não iria ser morto ali. O capitão Lampião precisava do cabra em sua frente. Pela manhã, já todos cheios de pingas, chegaram ao coito com o miserável ainda vivo. Lampião estava ali, aguardando a sua chegada. Mas ele ordenou que o matassem sem nem fazer uma revista no miserável.
Vulcão amarrado a uma corda ao cavalo, os facínoras chicotearam o animal que saiu sem rumo, arrastando aquele infeliz pelas terras do sertão sofrido. O estado que o Vulcão ficou, era triste se ver, porque o sangue saía por todas as partes do corpo. O cangaceiro Luiz Pedro observava, e quando percebeu que o animal havia parado, mandou uma criança, "Hercílio Feitosa", que estava com eles, ir buscar o animal.
Mesmo Vulcão tendo resistido todo este sofrimento, só morreu, porque o Luiz Pedro o matou com um tiro de pistola.
Hercílio Feitosa a criança que foi buscar o cavalo que arrastava "Vulcão", por ordem de Luiz Pedro, muitos anos depois, é quem narra esse triste e cruel fato ao pesquisador Alcino Alves Costa.
Fontes de pesquisa:
“LAMPIÃO ALÉM DA VERSÃO – Mentiras e Mistérios de Angico” – COSTA, Alcino Alves. 3ª Edição. 2011
Sálvio Siqueira - http://blogdomendesemendes.blogspot.com/2017/01/a-morte-de-um-desertor.html
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