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sábado, 13 de agosto de 2011

Os Mistérios da trama e morte de Delmiro Gouveia

Olho no Olho...
Por Gilmar Teixeira.

Pesquisador Gilmar Teixeira

No ano de 2008 iniciei um projeto para realizar um documentário sobre a Usina Hidroelétrica do Angiquinho, encomendado pela Fundação Delmiro Gouveia, que administra o sítio histórico. Durante a organização do acervo histórico enviado de várias partes do Brasil e do mundo, como objetos, jornais, cartas, livros, vídeos e fotografias, tive acesso a algumas informações sobre o assassinato do empresário Delmiro Gouveia, que ocorreu em 1917.


Como historiador e pesquisador do cangaço deparei-me com algumas informações até então desconhecida de todos as literaturas que havia tido acesso. Não que os historiadores do cangaço e biógrafos de Delmiro Gouveia tenham se omitido aos fatos, mas diga-se que os mesmos não tiveram em seu tempo a reunião destas informações como foi a mim oportunizado. E foi destas revelações, obscurecidas pela pouca preocupação no nosso país em preservar a história, que resolvi escrever este livro, fruto da pesquisa e do amor pela cultura e memória do sertanejo.
Pois bem. Ao ler uma matéria do jornal carioca Última Hora que fez a cobertura da saída da prisão do principal acusado e sentenciado pelo assassinato de Delmiro, o pistoleiro Róseo, que concedeu entrevista ao impresso. Na entrevista destacou que quando foi a Água Branca-AL fazer o acerto para assassinar Delmiro, já estavam lá os cangaceiros

Luiz Pedro, o primeiro à direita

Luiz Pedro


e Sebastião Pereira

na casa da baronesa Dona Joana Vieira Sandes de Siqueira Torres, prontos para matar o empresário da Pedra.

Porém, antes do serviço os mesmos são mandados para Sergipe para fazer um serviço para o Coronel Neco de Propriá, mas chegando lá o serviço é suspenso e ficam por lá trabalhando na usina do coronel.
Como pesquisador do cangaço imediatamente liguei os nomes dos dois cangaceiros citados por Róseo, e através de uma foto tirada na cidade da Pedra, datada de 1917 (ano da morte de Delmiro)... eram eles Sinhô Pereira e seu primo Luiz Padre; Sinhô foi o chefe de Lampião.


A foto em questão foi a única foto destes dois cangaceiros que se tem registro.
Continuando a pesquisa, descubro que os dois cangaceiros são primos do Capitão Firmino, e estiveram hospedados em sua fazenda na Pedra-AL, que havia sido vendida a Delmiro. Não por coincidências os dois cangaceiros saem em fuga para o Estado de Goiás na companhia de Zé Gomes, cunhado de Firmino, logo após o assassinato. O compadre de Delmiro Cap. Firmino é então acusado de ser o mandante do assassinato do amigo, visto a relação com Gomes e sua fuga, e foi preso. A sua prisão e soltura rápida com a influência de Lionelo Iona, sócio de Delmiro, e membros da família Torres, revelou um grande complô, que esse livro, através de documentos, reportagens e fotos da época busca retratar quase um século depois, as motivações, encenações e tramas para o assassinato de Delmiro Gouveia.


Os fatos documentados apontam que membros da família Torres e Lionelo Iona orquestram uma trama espetacular, fazendo com que vários desafetos de Delmiro Gouveia se interessassem após uma reunião, por assassiná-lo, criando diversos álibis para os interesses escusos envolvidos neste crime. Partindo do princípio de que, realmente os assassinos foram os cangaceiros Luiz Pedro e Sebastião Pereira, a sequência dos fatos a seguir permitirão ao leitor identificar em meio aos fatos, o desenrolar deste mistério secular, tornando cada um dos leitores investigadores e, certamente, novos elementos serão revelados a cada leitura. Nesta investigação histórica deve ser observado pelos leitores as seguintes condições:

Delmiro Gouvea

1 - Lionelo Iona, sócio e administrador das empresas de Delmiro, que antes de sua morte deixa testamento, onde Iona seria o tutor da herança deixada para os filhos de Delmiro até completar a maioridade, além de um seguro onde eras beneficiários. Essa fortuna seria administrada por ele. Veja que os filhos de Delmiro eram crianças na época, então imagine quanto tempo o mesmo teria até passar o controle aos herdeiros. Quando finalmente os filhos assumem os bens, depois de anos, Iona volta rico para Itália.
2 - A família Torres tem seu poder político na região ameaçado pela presença forte de Delmiro que detém grande poder econômico e influência política. Os Torres participam e influem no julgamento dos acusados, o Juiz era membro da família e facilita para os interessados a condenação dos réus.
3 - O Capitão Firmino, amigo e compadre de Delmiro tem sua filha difamada na cidade por conta da sedução de sua filha por Delmiro, e fica responsável pela contratação dos cangaceiros já famosos no Pajéu, Sinhô Pereira que vem a ser chefe de Lampião depois dessa morte junto com seu primo Luiz Padre (pai do deputado federal Hagaus de Tocantins). Seu futuro genro falava para todo mundo que só voltava para casar com sua filha, se ele matasse Delmiro, após a morte ele retorna e se casa. O Cap. Firmino estava na hora do crime com Delmiro e usava uma camisa escura, pois Delmiro só usava branco isso facilitou o alvo, só Firmino viu os três assassinos. Por que três? Era a quantidade que interessava, mas foram cinco, pois dois davam cobertura aos executores.


4 - Herculano Soares (fazendeiro) apanhou de Delmiro no meio da rua e prometeu vingança, foi ele juntamente com seu cunhado Luiz dos Anjos que deram cobertura aos criminosos a mando do Cap. Firmino, pois eram amigos e o capitão já havia morado por muitos anos em Água Branca, terra de Herculano.
5 - Zé Gomes (cunhado do Cap. Firmino), além de adversário político de Delmiro, tinha uma grande rixa com o empresário que apoiava em Jatobá (hoje Petrolândia) seu inimigo político Lero, que veio a derrotá-lo em eleição para prefeito. Após o crime foge para Goiás na mesma data que os cangaceiros e, passa a morar na mesma cidade.
A partir dos fatos aqui relatados, onde muitas coincidências se tornam suspeitas, toda a relação entre estas famílias e a acusação recaindo sobre Rósea é possível perceber que caso esta história revelada hoje, houvesse sido na época do assassinato muitos interesses políticos econômicos, que perduram até hoje, teriam os rumos alterados. Outros nomes ainda podem ser incorporados a trama, mas ao fim se revela que Rósea não foi o único executor, nem tão pouco o Cap. Firmino o único interessado nessa morte.

Gilmar Teixeira
Pesquisador, escritor e documentarista
Feira de Santana - Bahia

NOTA CARIRI CANGAÇO: Essas e outras revelações polêmicas a cerca do assassinato do grande coronel do sertão, um dos maiores empreendedores do inicio do século XX, Delmiro Gouveia, na edição 2011 do Cariri Cangaço com o pesquisador e documentarista de Feira de Santana, Gilmar Teixeira.


Extraído do blog: "Cariri Cangaço"


Um comentário:

  1. Caro Gilmar, sem sombra de dúvida suas pesquisas nos trarão grandes revelações, pois além das inquietações comuns a todos os pesquisadores da formação cultural nordestina, fenômenos sociais como cangaço e coronelismo são assuntos intrínsecos, não sendo possível divorciá-los.

    Em síntese, seu livro terá uma grande e relevante importância para todos nós que pesquisamos cangaço e coronelismo. Parabéns!!!

    Excelente postagem, amigo Mendes.

    Saudações Cangaceiras

    Juliana Ischiara

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