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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Luis Pedro em Debate no Cariri Cangaço

Por: Alcino Alves Costa
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O cangaceiro Luís Pedro era pernambucano do Triunfo, precisamente do lugar denominado Retiro.  

Nenem, seu companheiro Luis Pedro e Maria Bonita

Este cangaceiro, ao lado de Ezequiel (Ponto Fino); Virgínio (Moderno); Mariano e Mergulhão estavam com o grande chefe Lampião no instante da célebre travessia pelas águas do Velho Chico, naquele dia 21 de agosto de 1928.  Oportunidade em que deixando a sua terra natal se destinava as brenhas do vasto Raso da Catarina, na aridez das terras baianas. 
A historiografia do cangaço jamais colocou Luís Pedro no lugar de destaque que ele fez por merecer durante toda a sua trajetória no cangaço. 
Homem leal e grato a Lampião o acompanhou até os instantes finais da Grota de Angico. A sua gratidão deveu-se, segundo registros amplamente divulgados em vários livros dos mais diferentes e acreditados autores, ao perdão que recebeu de Lampião por ocasião de um trágico acidente. Aquele em que a sua arma disparou e atingiu gravemente o coração de Antônio Ferreira, um dos manos de Lampião que teve morte instantânea. Funesto acontecimento que se deu nas terras da fazenda Poço do Ferro, do coronel Ângelo da Jia.
Eis que, após tantos anos de sua morte na Grota de Angico, o nome Luís Pedro alcança uma incomum notoriedade em todo Brasil. Tudo por causa do juiz aposentado, Pedro Moraes. Este antigo magistrado, em um instante de pura infelicidade, se decidiu por atacar Lampião e Maria Bonita. Em suas descabidas afirmações disse ser o rei dos cangaceiros homossexual e sua Santinha adúltera, conforme entrevista ao jornal CINFORM de Aracaju, colocando o cangaceiro do Retiro como o principal parceiro, o parceiro ativo daquele triângulo amoroso.
 Aderbal Nogueira, Leandro Fernandes, Antônio Amaury, Paulo Britto e Alcino Costa em noite de Cariri Cangaç
E assim, Luís Pedro foi atacado em sua honra masculina. Acusado injustamente de ser também homossexual, uma vez que no dicionário está explícito “Homossexual – diz-se do indivíduo que pratica o ato sexual com pessoa do mesmo sexo”. Mesmo formando o triângulo amoroso com Lampião e Maria Bonita e sendo o ativo Luís Pedro, segundo a afirmativa horrorosa e sem nenhum sentido do juiz de Sergipe, era também homossexual. Mas, meus queridos vaqueiros da história, além da distorção que estão fazendo com Lampião, nós que vivemos a rastejar a história cangaceira;
nós, os que lutamos para pelos menos nos aproximar da verdade da história, temos que tentar extinguir de nosso meio e da própria história essas verdadeiras anomalias. 
Não é só e apenas do cangaço e de Lampião, mas de nosso sertão, de nosso povo. Portanto, não podemos aceitar as loucuras que estão sendo colocadas em livros, mentiras que se tornam verdades, e o que é lamentável, muitos acreditam.
Mesmo sendo um cangaceiro, Luís Pedro era um homem de bem. Carregava em seu sentimento caboclo a chama da honestidade, da lealdade e da gratidão. Talvez os que querem desmoralizar a sua conduta e o seu proceder não saibam que  ele tinha uma companheira; cabocla sertaneja, apelidada carinhosamente de Neném, a Neném de Luís Pedro, nascida no Raso da Catarina, no mesmo lugar de nascimento de Lídia de Zé Baiano e Naninha de Gavião, o Salgadinho, portanto na mesma região de Maria Bonita. Eu fico a me perguntar? 
Como seria possível, naqueles tempos de tantos tabus, um homem viver afundado em um triângulo amoroso, e sua esposa, ou se quiserem companheira, não perceber nada, e ainda todos os cangaceiros e cangaceiras que sobreviveram a Angico, jamais em tempo algum,
comentaram esse fato?
Acho até que poderíamos discutir as muitas versões duvidosas que cercam o cangaço, como por exemplo, o chamamento de Maria Bonita no instante do tiroteio. Existe a versão que ela gritou para Luís Pedro voltar e cumprir a palavra empenhada a Lampião que no local onde ele morresse o mesmo também morreria. É evidente que isto não aconteceu. Mas pode ser discutido. A outra versão dando conta que Luís Pedro estava retornando para se apossar do dinheiro e bens que estavam com Lampião, não passa de um delírio de alguns historiadores. Não aconteceu nada disso. Não aconteceu porque é inteiramente impossível Maria ser baleada com dois tiros e ainda “se lembrar” e ter tempo de gritar por Luís Pedro para ele vir morrer junto com Lampião.  
Alcino Alves Costa e caravana Cariri Cangaço-GECC em visita a Casa de Maria Bonita 
A segunda versão também é fantasiosa porque jamais Luís Pedro, ou cangaceiro algum, debaixo de uma chuva de balas, com o seu  notável chefe já morto, “se lembrar” de retornar para aquele inferno atrás de dinheiro ou qualquer outra coisa. A verdade, pura e cristalina, é que Luís Pedro foi um cangaceiro notável. Um dos maiores da história do cangaço. Além disso, um homem íntegro que teve a infelicidade de pertencer a uma época que o fenômeno cangaço dominava o nordeste e em especial os sertões de Pernambuco. 
O que os estudiosos deviam fazer era pesquisar com cuidado e perseverança o viver desse cangaceiro. Valente sertanejo que mesmo após tantos anos de sua morte a sua conduta é aviltada por uma versão desastrada que está maculando o seu nome. Espalhar pelo Brasil a fora ser ele um homossexual ativo, sendo aquele que satisfazia os desejos sexuais de Lampião e Maria Bonita, formando um triângulo amoroso que enfeitava as caatingas sertanejas, é aberração monstruosa. Injusta afirmativa que, não tenho dúvidas, deixa os verdadeiros vaqueiros da história tristes e desiludidos. Vamos lutar com todas as nossas forças contra tantas medonhas atitudes daqueles que não carregam em seus sentimentos o mais simples amor e consideração pela nossa história; a história de nosso povo.
Meus companheiros e confrades! Vamos aprofundarmos ainda mais sobre a história desse grande cangaceiro. Saudações cangaceiras.

Alcino Alves Costa
O Decano, Caipira de Poço Redondo



Extraído do blog: Cariri Cangaço

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