Por Rangel Alves
da Costa*
Sem
acrescentar ou tirar, apenas transcrevo:
“Eu sabia que
a poliça tava pertim daqui. Simião avistou uns cabra da volante se apertano pru
dento dos mato. Teve inté sorte o danado de num ter caído nas mão daqueles
marvado. Se pega Simião era pa dizer o que ele num sabia. Mai o homi chegou
aqui verde e tremeno feito cipó. Assim mermo foi correno avisar a Totonho.
Sabia que ele era coitero do bando de Lampião. E assim seno os cangacero seria
logo avisado da chegada dos macaco pelos arredor.
Totonho, o
coitero, mai que acoitava sem quase ninguém saber, ficou num aperreio danado
adespoi que ouviu o relato de Simião. Bem que podia arredar o pé no mermo
instante e cortar a caatinga pa chegar até o coito e avisar Lampião. Mai corria
o risco de colocar paia no fogo sem percisão. E num era coisa decente passar
uma informação sem ter certeza da verança do causo. Entonce pensou e pensou e
arresolveu que era mió pimero se asseverar da presença da volante da região.
Num ia entrar nos matos pruque num era doido nem besta, mai cum certeza arguém
na povoação sabia informar.
Entonce
Totonho subiu no lombo de um jumentim esquipador e se danou rumo ao arruado.
Morava pertim de Poço Redondo e em coisa de dez minuto já era tempo demais pa
chegar. Mai o homi nem chegou ao lugar. Ia esquipando o jumentim quano lhe
pareceu ouvir arguma coisa. Fez o jeguim parar de repente, desceu
cuidadosamente e foi devagarzinho até detrás de um tufo de mato. Ali se
escondeu e começou a oiá derredor. Seu medo maior naquele momento era seu
jeguim ser avistado na estrada e acabar provando sua presença ali. Por isso que
oiava ora pra estrada ora pa dento da mata. E de repente viu, do outo lado da
estrada, uns vultos saindo de dento. Era a volante, a macacada, agora tinha
certeza.
Num esperou
tempo ruim diante do ocorrido. Deixou o jeguim do jeito que tava na estrada e
se virou como pôde. Fui rompendo a mataria abaixadinho feito um preá, sem fazer
quarque zoada, e quano viu que já num podia ser avistado se alevantou e começou
a correr. E tanto correu que quano viu que já era tempo de parar pa descansar
já nem sabia mai onde tava. Foi perciso percurá outa estrada pa puder saber
adonde tava. Mais num tava longe do que tinha de fazer naquele momento, que era
tomar força para chegar o mai depressa possive na gruta adonde o bando de
Lampião tava acoitada.
Pensou e
pensou como o mió a fazer e aprumou que ir até lá no lombo de animá ia acabar
perdeno mai tempo, pois tinha lugá que só mermo as perna pa passar e seguir
adiante. Oiou pru roló e dixe que daquela veiz ele se esfolava todim pela
caminhada e tudo pontudo e ispinhento que ia encrontá adiante, inté chegar
donde tava o Capitão. Seguiu, foi avançano pru riba de ispinho de todo jeito,
pru cima de pedra, se esbagaçano todo nas ponta dos pau, se lanhando de cortar
couro, passo a passo incrontano o perigo das jaraca e cascavé. Mai num podia
parar, num podia nem se assentar pa descansar um tiquim. Se fizesse isso num
tava cumprino seu crompomisso de coitero e colocano em risco a vida do bando e
de seu amigo Lampião.
Foi seguino,
seguino. Mai fartano coisa de uma légua pa chegar até adonde tava o Capitão,
eis que ouviu outa zoada da molesta. Parecia gente vino naquela direção, e um
monte de gente, aina que a zoada num fosse grande. Correu pa detrás dum lajedo
e ficou todo quietim, escondidim. Quano pôde avistar teve a maior surpesa, poi
era o bando do Capitão Virgulino. Mai o que pareceu coisa boa se tronou num
aperreio danado. Não podia sair de veiz adonde tava pa que os cangaceiro num
pensasse que ele era da volante. Coisa perigosa e difici de resovê, pensou
Totonho. Entonce se alembrou duma coisa importante, dum siná acertado entre
eles pa quano fosse chegano no coito. Entonce arremedou o canto dum passarim.
Adespoi mai de dois. E bastou ouvir pa que a cangaceirada levantasse a
caminhada. Foi o porpio Capitão que falou: Diga o seu nome e adespoi apareça
daí.
Totonho feiz
como mandado e adespoi já tava contano ao Capitão da presença da volante mai
adiante. Adespoi disso só viu Lampião levantano o braço e a cangaceirada seguir
em frente, agora pronta pa guerra. Totonho bem sabia o que ia acontecer mai na
frente, poi tinha certeza que Lampião ia fazer uma supesa das boa na macada.
Sentou numa peda pa pensar no que fazer dali em diante. E coisa de dez minuto
depoi só ouviu o fogo comeno no centro. Era grito e bala zunido pa todo lado,
num atropelo danado.
Totonho sabia
que Lampião ia enxotar num rasto de sangue aquela macacada. E se tivesse matado
tudo de uma só vez num tinha acuntecido o que acabou aconteceno. E daquela
veiz, no Angico, Totonho num pôde dar nenhum aviso. A volante tava do lado de
lá e a morte certa esperano do lado de cá”.
Poeta e
cronista
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