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quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

“A VINGANÇA DO CANGAÇO”

Material do acervo do pesquisador  Sálvio Siqueira

O CANGAÇO - ‘RECANTO DA HISTÓRIA’

“A derrota militar jamais capou o brilho do cangaço. Brilho de estrela em chapéu de couro, bem entendido, preservado na memória popular, setenta anos após o ocaso do movimento, com a morte de Corisco, em 1940”.

Estrelas de Aço: A estética do cangaço (Escrituras Editora, 258 páginas, 2010) é livro de arte com mais de 300 fotos. A obra, que tem fotos inéditas, prefácio de Ariano Suassuna e ilustrações do arquiteto Antônio Montenegro, é resultado de 13 anos de pesquisa e 25 anos de estudo. Historiador e advogado, Pernambucano de Mello foi procurador federal em Recife e, de 1972 a 87, integrou a equipe do sociólogo Gilberto Freyre na Fundação Joaquim Nabuco. Especializou-se nos conflitos da história nordestina, em particular os levantes populares que não se sujeitavam aos valores coloniais, como os "guerreiros do sol", como chama os cangaceiros.


Dono de um acervo com mais de 160 objetos do cangaço, Pernambucano de Mello pretende um dia criar um museu. Até lá, acredita que a vingança do cangaço à derrota militar está em sua estética, expressa em seu vestuário simbolizado pelo chapéu em meia-lua com estrela e na linguagem popular nordestina, que até hoje se instala na fala e na cultura da região.

A suntuosidade das roupas do cangaço fez Mello reiterar a análise antecipada por Língua em 2006, pelos pesquisadores Leandro Cardoso Fernandes e Antonio Amaury Corrêa de Araújo, segundo a qual a imponência da indumentária no cangaço só encontra paralelo na história dos conflitos humanos nas figuras do samurai japonês e do cavaleiro medieval europeu.

A riqueza de vestuário e linguagem forma, para o historiador, o traço arcaico do homem ligado ao místico e ao divino. Para os cangaceiros, os elementos estéticos faziam com que ultrapassassem a sua condição, criavam uma blindagem alegórica que os descolava de seus crimes.


Sua indumentária cheia de adereços era versão das roupas de vaqueiros, adaptada ao meio e ao cenário. As abas do chapéu de couro permitiam visão lateral, o que evitava emboscadas. Aberta na frente, a alpercata de rabicho protegia o pé de espinhos e do calor. Para carregar até 30 quilos de peso, o cangaceiro usava bornais na lateral, enquanto os "macacos" (soldados) eram obrigados a usar mochilas concentrando todo o peso nas costas, tirando seu ponto de equilíbrio.

A importância da palavra no cangaço integrava a imagem que os bandos queriam transmitir de si mesmos. Para Fernandes e Araújo, novos membros do bando ganhavam um "vulgo" (apelido) a que deviam honrar. Em caso de morte, quem o substituía herdava o vulgo, para perpetuar e imortalizar a reputação do cangaceiro.


Imponência
Os cangaceiros foram donos de uma riqueza vocabular própria, mais rica que os manjados termos a eles associados, como "volante" (equipe móvel de perseguição policial) e "macaco" (soldado). Para Fernandes e Araújo, muitos termos usados pelos bandos não eram conhecidos do sertanejo comum e formavam um jargão militar próprio. Com o fim do movimento, parte dos termos passou a ser usado de maneira corrente no sertão. Nem sempre de forma duradoura - algumas palavras terminaram esquecidas, como "gargulina" (enjoo), "desaprecatado" (desprevenido), "jabiraca" (lenço de pescoço).


Para Pernambucano de Mello, a estética do cangaço tornou o cangaço um mito primordial brasileiro. Em sua opinião, os cangaceiros não eram criminosos comuns, que tentam se misturar ao ambiente para não serem notados.

Não se camuflavam, nem se escondiam: faziam do estardalhaço visual, e verbal, seu cartão de visita".

Fonte Revista Língua Portuguesa (dezembro/2011)
revistalingua.uol.com.br

Fonte: facebook

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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