Por Raul Meneleu Mascarenhas
Depois de
morto, Lampião foi decantado em versos e prosas e foram inventadas estórias
sobrenaturais misturando-o com demônios, bodes e fogo do inferno. Era um prato
cheio para os versejadores nas feiras do nordeste.
A veia
sobrenatural escorria célere das gargantas dos cantadores e emboladores.
Lampião tinha o corpo fechado e era cheio de maldade e ódio. Por está perto de
águas, seu corpo abriu para as balas dos “macacos”.
Lampião chegou ao inferno e destruiu um exército de negros, segundo José Pacheco, que em seu cordel “A Chegada de Lampião ao Inferno” que nos diz:
Lampião chegou ao inferno e destruiu um exército de negros, segundo José Pacheco, que em seu cordel “A Chegada de Lampião ao Inferno” que nos diz:
Morreram cem
negros velhos,
Que não
trabalhavam mais,
Um cão chamado
Traz-Cá,
Vira-Volta e
Capataz,
Tromba-suja e
Bigodeira,
Um cão chamado
Goteira,
Cunhado de
Satanás.
O Cordelista Guaipuan Vieira, também nos fala da tentativa de Lampião entrar no céu:
Foi numa
Semana Santa
Tava o céu em
oração
São Pedro
estava na porta
Refazendo
anotação
Daqueles
santos faltosos
Quando chegou
Lampião.
Mas Rodolfo Coelho Cavalcante diz que Lampião tentou ir para o céu mas
ganhou o purgatório e está lá até hoje para ser julgado.
Sobre sua maldade e valentia, muitas lendas correram de boca em boca nas esquinas das feiras e nas bodegas nordestinas. Pereira Sobrinho descreve o cangaceiro com toques de misticismo:
Sobre sua maldade e valentia, muitas lendas correram de boca em boca nas esquinas das feiras e nas bodegas nordestinas. Pereira Sobrinho descreve o cangaceiro com toques de misticismo:
Tinha todas as
qualidades,
Que pode ter
um vivente,
Era enfermeiro
e Parteiro,
Falso, covarde
e valente,
Fraco
Igualmente ao sendeiro,
Astuto como
serpente,
Matava por
brincadeira!
Com pura
perversidade,
Dava comida
aos famintos,
Com amor e
caridade,
Foi sanfoneiro
e poeta,
De primeira
qualidade.
Também sua maldade era lenda, contada por muitos poetas. Cordelistas e
cantadores chegaram a contar que um dia o cangaceiro tentou matar seu filho por
a criança chorar. Sabemos que Lampião não teve filhos, apenas uma filha que
mora em Aracaju.
“Às vezes,
Lampião pedia a um companheiro para ler em voz alta os jornais ou os folhetos
de cordel. O cangaceiro Gitirana, além de saber ler, era poeta e compositor,
cantor — barítono — e dançarino renomado do bando. No sertão, nas noites de lua
cheia, o céu eclode numa festa de estrelas. Excitados, os cangaceiros
festejavam, através do canto e da poesia, o acordar dos sentidos energizado
pela força da caatinga. Quando no silêncio da noite uma nostalgia de eternidade
e uma vontade de amar atravessavam os corpos meio adormecidos dos cangaceiros,
o Capitão, emocionado, ordenava ao poeta Gitirana que declamasse e cantasse,
enchendo de uma alegria infantil o coração rude de homens e mulheres habituados
a conviver com a morte que rondava apressada os recônditos da caatinga:
Amor remexe
com a gente
Chegando de
supetão
Pior do que
dor de dente
É sentir
palpitação
Cabrocha pra
ser bonita
Bonita como o
amor
Basta um
vestido de chita
E na cabeça
uma flor!"
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