Por Rangel Alves
da Costa*
Quando cito
perfume de mulher que não se imagine que tenha algo a ver com frascos, fórmulas
ou perfumarias. Também não diz respeito a nomes de perfumes: Toque de Amor,
Charisma, Lavanda, Chanel n. 5, Opium, Jadore, Gabriela Sabatini, Biografia,
Floratta...
Também não
digo respeito à química industrial contida nas fragrâncias, nos aromas, nos
cheiros e nos bálsamos. Mas sempre a respeito de uma coisa bem simples e
grandiosa: o perfume natural da mulher.
Digo, pois, do
aroma do corpo, do perfume do corpo, da fragrância do corpo, do cheiro do
corpo, do bálsamo do corpo, da cosmética perfumada, deliciosa e encantadora,
sempre presente num corpo de mulher.
A mulher flor,
a mulher rosa, a mulher jasmim, a mulher gardênia, a mulher manacá, a mulher
lavanda, a mulher alfazema, a mulher camélia, a mulher lírio, a mulher
calêndula, a mulher orquídea, a mulher flor do campo... Um jardim que é mulher,
um corpo que é flor, uma flor que exala.
Mas também a
mulher cheirando a fruta gostosa, olorosa, apetitosa, da estação. Mulher que
faz exalar um perfume bom de manga madura sendo chupada, escorrendo pela boca,
pelos dedos, provocando um querer mais. Mulher cheirando a sapoti docinho, a
jabuticaba caída do pé, a araticum quando se abre em polpa macia e cheirosa.
Não é em vão que
a erotização do morango e da goiaba remete ao sexo feminino. Assim também com a
maçã e a pera. Mas não é preciso morder para sentir o perfume de cada fruta.
Menos que o paladar, importa sentir a simbologia feminina, a presença feminina,
o leve aroma feminino.
Jorge Amado
fez bem ao fazer de sua Gabriela perfumada de cravo e canela. Há perfumes mais
gostosos de sentir, mais prazerosos ao olfato e mais atraentes do que o do
cravo e da canela? Ademais, lembram perfumes morenos, trigueiros, queimados de
sol, jambeados, apetitosos, assim como um corpo de mulher. No corpo de Gabriela
e tantas outras que vivem exalando as mais perfumadas essências.
Gabriela e seu
perfume moreno, saboroso, gostoso, apetitoso de cravo e canela. Não foi sem
razão que marinheiros e mercadores tanto arriscaram a vida pelos mares e
tormentas em busca de tais especiarias. Buscados nas distâncias do mundo, o
cravo e a canela valiam ouro. E ainda valem enquanto perfume de mulher.
Em Cem Anos de
Solidão, Gabriel Garcia Márquez fala da bela Remédios que vivia envolta em
flores e borboletas. Então se imagina aquela beleza ingênua, de fragrância
floral sobre o corpo, deitada sobre um leito de pétalas. E borboletas bailando
ao redor, dançando a dança das flores, de vez em quando colhendo do doce
néctar.
Muitas
mulheres existem que basta um olhar para que perfumes sejam sentidos, ainda que
nenhuma lavanda tenha se derramado sobre o seu corpo. Mulheres que parecem
cheirar a chocolate bom, a café gostoso, a hortelã macerado, a amanhecer de
primavera, a incenso levemente queimando alfazema, erva doce e manjericão.
Tais perfumes
de mulher, por não dependerem de frascos ou de fórmulas, são mais sentidos pela
visão do que pelo olfato. Sequer depende de presença ou de aproximação. Aliás,
o verdadeiro perfume de mulher é muito mais exalado através do pensamento.
Mesmo distante, se imagina a mulher e nela um jardim, uma especiaria, uma horta
de quintal, um pomar, um aroma perfeito.
Há um cheiro
bom de suor sobre um corpo abraçado, há uma fragrância indescritível na
aproximação de quem se deseja, há um aroma que exala na saudade e nesta o
perfume que não quer mais partir. É por isso que tanto perfume há em abraçar o
outro, estar juntinho do outro, estar como flor do outro.
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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