Por Jose Bezerra Lima Irmão
As pendengas entre os Monte e os Feitosa decorreram de questões de honra e disputas
por terras e poder, nos sertões dos Inhamuns, Cariri e Icó. Essas duas
famílias haviam-se ligado pelo casamento de Francisco Alves Feitosa com Isabel
do Monte, resultando mais tarde uma rixa familiar de cunhado contra cunhado,
acrescida de disputa por terras e poder, no período da colonização. Foram
tantas as mortes que o rei de Portugal teve de intervir, ordenando represálias
contra os dois clãs.
Em virtude das
lutas dessas famílias por anos a fio, muitos de seus membros fugiram do Ceará e
foram morar em outros lugares. A cidade sergipana de Porto da Folha foi fundada
por gente da família Feitosa, dali se espalhando por localidades vizinhas, em
Sergipe e Alagoas. Por sua vez, muitos indivíduos dos Montes se instalaram em
Penedo, Propriá Aquidabã e Carira. Um valentão chamado Manoel Monte, da fazenda
Baixa do Gado, em Carira, entrou em luta com os Guedes e terminou se tornando
cangaceiro, embora tivesse morada fixa em Monte Alegre e vivesse sossegado em
sua fazenda Albano, na beira do Riacho do Cachorro.
A mãe do
cangaceiro Antônio Silvino descendia dos Feitosa.
Os ancestrais
de Virgulino, o Lampião, pelo lado paterno – família Ferreira Lima – eram
também descendentes dos Alves Feitosa, da povoação de Inhamuns, à época
município de Tauá, no Ceará, família antiga, dos primeiros povoadores do
sudoeste do Ceará. A sesmaria de um dos patriarcas da família, Lourenço Alves
Feitosa, ficava onde hoje é Cococi, atual distrito de Parambu. Seu irmão
Francisco Alves Feitosa era dono da fazenda Barra do Jucá, no Vale do
Jaguaribe. Vários membros da família Alves Feitosa debandaram do sertão dos
Inhamuns em virtude de questões com a família Monte. Para não serem localizados
pelos inimigos, muitos mudaram de nome, trocando o “Feitosa” por “Ferreira”,
acrescido ora de “Barros”, ora de “Lima”. O padrinho de Anália, irmã de
Lampião, foi Terto Alves Feitosa (Terto Baião, das fazendas Enforcado e Lagoa
Cercada), um dos que não mudaram de nome, continuando com o “Alves Feitosa”.
O bisavô
paterno de Lampião, José Alves Feitosa, passou a identificar-se como José
Ambrósio Ferreira Lima. Tinha dois filhos: Antônio Ferreira Lima e João
Ferreira Lima.
Antônio
Ferreira Lima é o avô de Lampião. Seu nome antes era Antônio Alves Feitosa,
porém passou a se identificar ora como Antônio Ferreira Lima, ora como Antônio
Ferreira de Barros, ora como Antônio Ferreira da Silva, ora como Antônio
Ferreira de Magalhães. Casou com uma moça do lugar Peru, na ribeira do São
Domingos, chamada Maria Francisca da Chaga (dona Maria Chaga). Tiveram três
filhos e duas filhas. O filho mais velho de Antônio Ferreira e Maria Chaga
chamava-se João Ferreira Sobrinho, alcunhado de João Rola. O segundo filho
foi José Ferreira (pai de Lampião). O terceiro chamava-se Venâncio
Ferreira. Este, já adulto, se mudou para Juazeiro do Norte, onde botou uma
venda (mercearia). Por motivos de doença, gastou tudo o que tinha no tratamento
e foi para Picos, no Piauí.
Além desses
três filhos legítimos, Antônio Ferreira Lima teve ainda um filho bastardo com
uma bela jovem de olhos azuis e cabelos ruivos chamada Matilde. O filho recebeu
o nome de Antônio José Ferreira e ficaria conhecido como Antônio de Matilde, ou
simplesmente Antônio Matilde. Esse personagem viria a ter enorme influência na
vida de Virgulino, seu sobrinho. Aí está uma síntese apertada de resultado
de pesquisas que exponho no meu Lampião – a Raposa das Caatingas.
José Bezerra Lima Irmão
Pesquisador e Escritor
José Bezerra Lima Irmão
Pesquisador e Escritor
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