Por Sálvio Siqueira
Naquele tempo,
todo sertanejo, de uma ou de outra forma, era ‘forjado’ na dureza das
intempéries climáticas e pelas ações dos que comandavam aqueles rincões.
Um ser humano
nascer dentro de uma sociedade radical, exclusiva, inclusiva e parcial tende a
pender para os dois únicos caminhos existentes. Não havia meio termo para eles.
Havia os que determinavam e os que obedeciam... aqueles que ‘açoitavam’ e quem
era açoitado somavam a população dos sertões nordestinos naqueles tempos.
Além desse ‘calvário’ constante aos sertanejos, aparecem aqueles que deram um
grito social, de uma forma que aprenderam quando as feridas cicatrizavam em
seus corpos, molestando a já aperreada vivência daquele povo, de todas as
formas cruéis e sangrentas imagináveis.
Em determinada
época, o sertanejo em si, cangaceiro, volante, coiteiro, vítima ou sujeita a
ser e/ou outro qualquer, deixa de lado toda e qualquer Lei Constitucional.
Virou a Lei de Talião, “ olho por olho”...
Após a
maravilhosa vitória da população civil armada mossoroense, infelizmente, vemos
através dos escritos, que praticaram atos, mandados ou não, atrozes, iguais ou
maiores do que aqueles daqueles praticados pelos que foram derrotados.
No dia seguinte a vitória sobre o bando de Lampião, onde, na tarde do dia anterior o cangaceiro Colchete fora abatido, ocorrem atos de violação de corpo cometido pela população daquela cidade.
O cangaceiro Colchete foi ‘derrubado’, abatido com tiros, próximo a Igreja de
São Vicente, quando um projétil de arma de fogo adentra em sua vista esquerda
saindo por trás da cabeça depois de romper os ossos de seu crânio.
Após cair sem vida, o corpo do cangaceiro fica ali, estendido naquele lugar servindo de alimento para insetos e cães andarilhos, que vagueavam pelas ruas desertas da cidade durante toda a noite. Até se entende esse ato por ainda a população temer outra tentativa de invasão por parte daqueles que colocaram para correr...
Porém, no dia seguinte ao embate, parte da população se aglomera junto ao
cadáver e começa a violá-lo. Em determinado momento, o corpo inerte do
cangaceiro é agarrado pelos cabelos e é arrastada por rua acima e rua abaixo.
(...)Durante o percurso da macabra procissão – findo na escadaria da Igreja Matriz da cidade – não faltou quem lhe violasse o corpo ou lhe batesse com uma coronha de arma no tórax ou na cabeça. Até mesmo uma orelha lhe fora cortada(...)”. (“Lampião – Entre a Espada e a Lei”. 1ª edição. DANTAS, Sérgio Augusto de Souza.)
Após esse cortejo macabro, o corpo do bandoleiro é colocado nos degraus da Igreja Matriz, para que servisse de troféu, esmo macabro, e fosse olhado por todos.
Abaixo, veremos depoimentos, em entrevista, colhidas pelo Dr° Sérgio Dantas:
“Amaro Silva contou o que havia acontecido na cidade e trouxe enrolada em uns panos, a orelha de Colchete, o cangaceiro que havia sido morto no largo da Igreja de São Vicente. Botaram-na em uma lata e esta dentro de outra e enterraram embaixo de uma árvore”. (Jerônimo Laíre Rosado que deu o depoimento a Ilná Rosado)
Nenhuma captura foi feita desse corpo violado que ficou estendido naqueles degraus. Todos foram ser fotografados nos lugares em que foram erguidas as barreiras de defesa. Ou se alguém fez um registro fotográfico guardou-o a sete chaves até os dias de hoje.
Alguns cidadãos da cidade receberam a ordem para que levassem o corpo e o sepultasse. Um, daqueles que participaram do sepultamento do corpo do cangaceiro Colchete, o Sr. João Manoel Filho, declarou ao jornal “Diário de Natal” de Natal, Capital do Estado do Rio Grande do Norte, revela:
“Amarramos seus pés e seus braços. Em seguida, conseguimos um grande pau e colocamos entre seus pés e braços, assim tipo um animal morto. E dessa maneira, ele dependurado no pau, conduzimos até o cemitério público. Ali cavamos uma cova rapidamente e enterramos o homem sem qualquer remorso”. (O Poty, julho de 1977)(Ob. Ct.)
O outro ato não civilizado, foi o que praticaram ao prisioneiro, ferido no tórax e virilha direita, Jararaca. Mas, esse, contaremos depois aos senhores(as).
Fonte Ob. Ct.
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