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segunda-feira, 17 de outubro de 2016

AINDA OUTRAS HISTÓRIAS DE BASTIÃO

*Rangel Alves da Costa

Bastião continuava contando seus causos e ninguém levantava para se retirar. Todo mundo se entusiasmava com os proseados sertanejos e se deleitava com uma história atrás da outra. Logicamente que algumas despertavam mais a atenção, principalmente quando envolvia coisas do outro mundo, mas todas igualmente interessantes.

Por falar em coisas do outro mundo, além daquele causo já relatado em postagem anterior, onde Bastião se deparou talvez com gente já sem vida no meio da noite, outra contação despertou muita vigilância. Disse Bastião de todo tipo de coisa estranha que aparece pelas beiradas dos rios ou mesmo dentro das águas. Todo pescador já se deparou com coisas inexplicáveis e de deixar o cabelo em pé.

O que mais se avista são luzes que vão acompanhando, na margem, o barquinho de pesca, as canoas e todos os tipos de embarcações. Quando o canoeiro está sozinho, então a coisa desanda ainda mais. Além de ter aquela luz estranha e desconhecida seguindo os passos, não é difícil que de repente o facho luminoso suba pelas águas e vá em direção à canoa, ou mesmo repentinamente aparecendo bem ao lado do já estremecido pescador. Quem não tem medo de uma aparição assim?
  
Sem falar nos ruídos terríveis, nos barulhos, nos verdadeiros batins que despontam das margens ou das pedras grandes e abrem vagas arrepiantes no meio das águas. Às vezes são bichos, cágados, capivaras e outros mais, até mesmo peixes, mas outras vezes não. Dizia Bastião que não podia dizer se tratar de nego d’água por que nunca tinha visto o tal negrinho fazendo estripulia para assustar pescador, apenas ouvido falar de sua existência. Mas que era coisa muito estranha e que somente rio sabe o que significa.

Perguntado se ele próprio já havia avistado o barquinho dos mortos, aquele mesmo tão conhecido na região ribeirinha e que passava no meio da noite levando velas acesas, a resposta foi negativa. Ele mesmo nunca havia avistado, mas também não podia dizer que era invencionice, pois sabia que tudo era possível de acontecer dentro das águas de um rio e suas margens. Conhecia muitos pescadores e todos eles sempre tinham uma história assombrosa para contar, e que não podia deixar de acreditar, pois ele próprio testemunha de muita coisa inexplicável.


Dizia Bastião que também os encantamentos são muitos, que coisas muito estranhas acontecem que deixam o pescador sem ao menos saber onde está, ainda que não tenha se afastado muito de sua margem de partida. Teve um que maluqueceu de vez. Saiu com sua canoinha de pesca e foi preciso que outros pescadores fossem recolhê-lo sem saber onde estava. E também estava desajuizado, dizendo coisa com coisa, que precisava descer às águas para atender um chamado. Nunca mais foi o mesmo, o coitado.

Sendo homem de pescaria e caçada, Bastião afirma ter muita saudade daqueles tempos onde as águas não deixavam retornar de mãos vazias. Um tempo onde embarcações navegavam levando imensos peixes presos em grandes anzóis, como uma vaqueirama puxando boiada. E certa feita, no meio da noite, ele deixou sua canoa na beirada e subiu a serra de espingarda à mão para uma caçada. Ao retornar, avistou seu barco sendo arrastado para a areia. Mas nenhuma alma viva estava por ali para desprender tanta força.

Doutra feita, também no meio do breu, ele estava perto de uma beirada quando ouviu uns passos cortando as águas. O cachorro recuou, não tinha jeito de querer saber do que se tratava mais adiante. Que peste é isso, perguntou-se assustado. De repente os passos saíram da água e começaram a roçar a mataria ao redor, bem pertinho de onde ele estava. O cachorro se mijava todo e ele sem saber o que fazer. Um único jeito que encontrou foi apontar o facho da lanterna naquela direção.

Quando a luz cortou o tufo do mato, eis que avistou uma onça preta. Então logo lembrou que era uma danada daquela cor que vinha aterrorizando aquela região, matando bezerro e todo tipo de animal, e que meio mundo de caçador já esteve em seu encalço sem conseguir derrubá-la. E agora ela ali tão perto e perigosa. Sozinho, não adiantava enfrentá-la, pois se errasse o tiro era morte certa. Ela avançaria certeira. Então resolveu não esperar o pior e se danou a fugir por cima de tudo.

Escritor
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