Por Clerisvaldo B.
Chagas, 16 de novembro de 2016 - Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano - Crônica 1.592
(CONTO PARA
QUEM GOSTA DE LEITURA)
Passando na
frente da casa de Chico Dunga, Maria, aquela morena bonita, cheirosa e fofa:
gritou: “Vai pra festa, Zé?” Oxente! Aquilo era comigo? “Ô meu fio, me leve com
você que pai só confia em gente conhecida. Eu! Tá doido! Um cabra feio que nem
eu com uma flor dessas na festa... Homem, eu estava sonhando e ainda nem tinha
acordado.
Mas era de verdade, rapaz, e lá vai eu pela primeira vez na vida de
parelha com uma rosa. E você pensa que foi só isso? Maria não quis saber de
ninguém e só dançava o forró comigo, parando de vez em quando para esquentar a
goela. Diga pelo amor de Deus se São João não era santo forte! Mas também,
tantos foguetes que já fiz pra ele... E a fogueirona prometida, maior do que as
outras... Estava lá queimando na porta de casa, estalando angico e aroeira.Espiei para
cima espiei para baixo, mas o danado do espelho não mentia: o homem era feio
mesmo. Todo mundo casando e eu ficando no barricão. Olhe, acho que nos dezoito
anos, bruguelo solteiro ali por perto somente eu. Quem diabo queria se casar
com um homem desses! Namorada, não arranjava uma para remédio. Eita diabo!
Estou cansado de chegar dos forrós, sozinho em casa. Mas São João é forte! Ora,
se não é! No começo da madrugada fiz a minha promessa. Derrubei tronco,
carreguei lenha e fiz a maior fogueira da redondeza. Agora sim, agora vou para
o forró da Rua. Bem vestido, penteado, barbinha de rato... Ô homem feio da gota
serena! Vou para o forró ou não vou? O Sim dizia: “vá”. O Não dava cada
beliscão na popa da bunda que eu voltava da porta acabrunhado. Mas eu vou, eu
vou. Peguei o chapéu quebrado pra cima, de meu pai. Fui à quartinha d’água,
passei a mão no fundo e botei aquele dinheiro bom, novo e guardado no bolso. Já
visse festa sem dinheiro? Atravessei o punhal comprado na terra de meu padrinho
Ciço, no cinto de feira e parti. Não, não senhor, eu não queria furar
ninguém... Todavia... Quanto mais mole mais o cão atenta.
O Sol queria
passar nos garranchos dos paus quando voltamos para casa. Não vou contar outras
coisas para você porque é proibido, entende? Mas com feiura e tudo eu me casei
com a fia de Chico Dunga. Todo ano é um menino. No meio-dia de ontem Maria
estava na rede e eu perguntei: “Tá pensando o que, mulher?” Ela respondeu: “Ah!
Eu estava pensando como é que uma mulher feia e horrorosa que nem eu tem a
sorte de casar com um homem gostoso que nem tu?!”
Eita, peste!
Foi um parapapá danado por dentro da casa que nem galo atrás da galinha, já
visse!?
Nada pesado
que um santo prestigioso não pudesse resolver. Toda vez que nasce gente lá em
casa eu boto outra fogueira em cima da grandona nas festas de São João.
E a fogosa da
Maria grita do quarto: “Demore não, Zé!”.
Fim
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