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quarta-feira, 23 de novembro de 2016

MANÉ NETO NO RASTRO DE MARIA BONITA


Maria Gomes de Oliveira, a Maria de Déa, a filha do Sr. José Gomes de Oliveira e de dona Maria Joaquina Conceição de Oliveira, conhecidos como Zé Felipe e dona Déa, como muitas sertanejas da época, tinha lá suas poucas e simples fantasias. E uma delas, era, sem dúvida, sair das ‘amarras’ paternas.

José Gomes de Oliveira pai de aria Bonita

A mulher sertaneja, naquele tempo, era ‘programada’ pelos pais para ser só, e somente só, dona de casa. Sempre servir, seja como for, o seu companheiro, seu amado, seu esposo. A vida dessas mulheres não era fácil desde o momento em que eram paridas, quando o sexo, do feto vivo, era conhecido. Para o sertanejo, a sua cria, sendo do sexo masculino, eram mais dois braços para ajudar na lida pesada, sofrida e bruta da roça. Já a mulher não. Recebia de imediato a tutela quase que exclusiva materna.

Maria Joaquina Conceição Oliveira mãe de Maria Bonita

Maria casa-se muito jovem, relatam alguns pesquisadores que ela beirava uns quinze anos de idade, mais ou menos, com um de seus primos, o Sr. José Miguel da Silva, conhecido na região por Zé de Neném. Zé de Neném era natural, e morava na Malhada da Caiçara, tendo seu ponto de trabalho, trabalhava com couro, na fazenda Boa Fé, município de santa Brígida onde exercia sua função de sapateiro. Era filho do casal Pedro Miguel da Silva, que tinha a alcunha de “Pedro Brabo”, e dona Maria Conceição Oliveira, chamada de “Neném”.

 Zé de Neném primeiro esposo de Maria Bonita e irmão do esposo de Amália Gomes de Oliveira que era irmã de Maria Bonita 

Maria de Déa bastante jovem e Zé de Neném já de meia idade. Zé muito boêmio gostava de estar sempre nos sambas e forrós que aconteciam, além da bebedeira em demasia. Maria não engravidava. O ciúme atingiu os dois e o casamento começa a desmoronar. Maria, certa feita encontra um objeto em um dos bolsos de Zé, com um nome de uma mocinha da região, conhecida inclusive por Maria, que tinha apenas quinze anos de idade. Esse ‘achado’ deu o maior ‘arranca rabo’ e, mais uma vez, deu-se uma separação. Assim, aquela convivência, como era de se esperar, acaba-se.

Foto colorida pelo professor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio

Após a separação, Maria, segundos alguns escritores, volta a dar umas namoradas findando conhecendo, namorando e indo morar com Virgolino Ferreira da Silva, o já famoso “Capitão Lampião”, “Rei do Cangaço”, que nos serões baianos era conhecido por todos como “O Homem”. Esse namoro, fuga e união em busca de uma ‘liberdade’ imaginária, contaremos em outra oportunidade.

Foto colorida pelo professor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio

Lampião faz do Raso da Catarina, e a região em sua volta, seu maior e mais seguro refúgio. Tendo que ir conversar com o coiteiro Pedro Gomes de Sá, Pedro Gomes que era pai da cangaceira Durvalina, na fazenda Arrastapé, Lampião segue para fazenda Canoas, onde o administrador era o Sr. Odilon Café, e deixa sua amada, Maria de Déa, aos cuidados de um dos filhos do mesmo conhecido como ‘Mané de Chiquinho, Manuel Martins de Sá. Deixando sua companheira, coloca o pé na estrada e segue viagem. 

Ruínas da casa de dona Generosa coiteira de Lampião - http://www.bahiatursa.ba.gov.br/noticias/paulo-afonso-revela-joia-da-arquitetura-popular-encravada-nos-caminhos-de-lampiao/

Atravessando o Povoado Riacho, o “Rei dos Cangaceiros” resolve fazer uma parada na casa de dona Generosa, Generosa Gomes de Sá, grande coiteira do bando, para retirarem a poeira da goela e se divertirem um pouco na casa da hospedeira.


Estando de prosa, secreta, com Pedro Gomes, Lampião ver se aproximar um cavaleiro em grande disparada. O galope arrochado da montaria desperta a sensibilidade defensiva do “Rei Vesgo”, principalmente por reconhecer que o cavaleiro era mais um de seus ‘colaboradores’.

Chegando pra perto da montaria, Lampião pergunta o que se passa:

*“- Quais são as nutiça?” – (pergunta)

*“- Capitão, uma volante comandada pelo tenente Mané Neto, passo no Tigre ( fazenda Tigre), espanco algumas pessoa e se dirigiu na direção do Xingozinho!”. (respondeu o coiteiro)

No trajeto da fazenda Tigre para o Xigozinho, ficava no meio a fazenda Canoas, onde Lampião tinha deixado Maria, sua amada. Ligeiramente ordena que a ‘cabroeira’ se apronte, e que se prepararem para um combate:

*“- Se aquipa rapaziada, vamo botar uma emboscada nesses macacos!” (grita para o bando).

Conhecendo de muito antes o comandante Manoel Neto, Lampião sabia do perigo que sua companheira estava correndo. Segue o mais rápido que pode na tentativa de ‘atalhar’ o avanço da tropa naquela direção. Sua mente, mais ligeira que suas pernas, já lhe mostra qual o local de armar uma emboscada para a volante. No trajeto para a fazenda Canoas, tinha outra chamada Baixa Fria, que também lhe servia de coito, a qual ele conhecia muito bem. E seria naquelas terras que ele tentaria barrar o avanço da volante.

A volante, depois que saiu do Tigre, segue seu caminho, rumo ao Xigozinho, e o sertanejo que encontra pelos caminhos os submetem há um ‘interrogatório’ a base de porradas, espancamentos e humilhações, fossem coiteiros ou inocentes, dava no mesmo, o pau comia. No povoação Rio do Sal, a volante chega ávida por notícias já que, apesar dos ‘interrogatórios’, nenhum roseiro nada disse. 

A meta naquela ribeira era o Sr. Divino Gomes, que era primo da “Rainha dos Cangaceiros”, Maria de Déa. Fuçando casebre por casebre, terminam por encontrarem o que servia de moradia para Divino. De imediato é preso e levado diante do comandante da volante, que começa a perguntar-lhe:

*“ – Onde é que anda os cangaceiros seu caba ruim?” (pergunta o tenente).

*“ - Eu num sei!” (responde o homem).

*“ – Num adiante negá, eu sei que você é família da mulé do Cego!” (retruca o comandante).

*“ – Nóis somo primo, mais eu num sei onde eles anda!” (diz Divino).

*“ – sabe sim e vai ter que me contar!” (insiste Mané Neto).

*“ – Pelo amor de Deus, eu num sei!” (choraminga o interrogado).

*“ – Sabe!” (enfatiza o oficial).

A partir desse momento as palavras interrogatórias calam e inicia-se a seção de espancamentos, perfurações com pontas de armas brancas, chutes, socos e cipoadas no lombo. Mas, torturar quem sabe de alguma coisa, é ter a esperança que, em algum momento, a mesma surta efeito, e o torturado abra a boca, porém, divino nada sabia, então não poderia responder o que lhe era perguntado.

“(...) Depois de bastante espancado, Divino Gomes, caiu desacordado. O Tenente seguiu a estrada que o levaria até a Baixa Fria, deixando pra trás o corpo ensanguentado e imóvel de um homem indefeso e inocente que pagou com a vida, apenas por carregar nas veias, o sangue e o parentesco com a Rainha do Cangaço (...).” (*A Trajetória Guerreira de Maria Bonita – A Rainha do Cangaço” – LIMA, João De Sousa. 2ª edição. Editora Fonte Viva. Paulo Afonso, BA. 2011).


Lampião e o bando chegam à fazenda Baixa Fria. Escolhe um local para que parte de seus homens ficassem de tocaia, seguindo com o restante para a fazenda Canoas. Já próximo à sede da fazenda escutam o som dos disparos da luta travada entre seus cangaceiros e a volante de Mané Neto. O fogo e cerrado, aguerrido, mas, dessa vez não ocorrem baixas de ambos os lados.

Lampião, já com Maria do lado, ver chagar os homens que combatiam a volante, de imediato segue por uma trilha e prepara outra emboscada para os inimigos.

Manoel Neto, vendo que estavam prestes a caírem em novas emboscadas, seus homens estavam cansados e com pouca munição, além dos víveres já estarem findando, resolve voltar para Barra, para reabastecer a tropa, fazer relatórios e receber novas ordens... Nas quebradas do Sertão baiano.

Fonte *A Trajetória Guerreira de Maria Bonita – A Rainha do Cangaço” – LIMA, João De Sousa. 2ª edição. Editora Fonte Viva. Paulo Afonso, BA. 2011

Foto Ob. Ct.
Benjamin Abrahão

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