*Rangel Alves
da Costa
O passar dos
anos parece não ter sido proveitoso em termos musicais. Atualmente, apenas uma
ou outra música desponta com qualidade, pois o restante é tão descartável que
nem ela nem o seu cantor dura mais que uma estação. Uma musicalidade tão ruim
que nem um verso da letra é guardado para depois.
Seja qualquer
denominação que se queira dar - algo assim do tipo sertanejo universitário,
axé, sofrência, paredão, forró elétrico, etc. -, a verdade é que a musicalidade
surgida é tão comercial que não há nenhum intuito de passar pelo crivo da
crítica. Talvez reconheçam que sua valia se basta no cair do gosto da juventude
festeira e na sua exploração em shows interioranos.
Nessa onda de
busca de reconhecimento e exploração financeira, o que se observa, contudo, é o
modismo musical passageiro. Algumas bandas baianas, como Olodum, Chiclete com
Banana e Banda Reflexus, conseguiram se firmar durante anos, igualmente a
cantores como Luiz Caldas. Foram desaparecendo da mídia e também da boca e do
rebolado do povo, o que tenderá a acontecer com a safra do axé posteriormente
surgida.
Cantoras como
Cláudia Leite e Ivete Sangalo, logo terão o mesmo esquecimento experimentado
por Margaret Menezes e Sarajane (a da rodinha). Até Gerônimo, um artista de
superior qualidade, agora só é ouvido no exterior. Significa dizer que a música
baiana perdeu seu espaço no cenário musical. Assim acontece porque o apelo
comercial sempre se esvai quando o público reconhece, por exemplo, que não é
mais essa música que deseja ouvir. Então recorda de um Ederaldo Gentil e a sua
genial “O ouro e a madeira”.
Não é
diferente o que acontece com o dito sertanejo universitário e o forró
eletrizado, onde nem a sanfona é respeitada. De Chitãozinho e Chororó,
Leonardo, Zezé de Camargo e Luciano, dentre tantos outros que fizeram sucesso,
hoje somente a fama e a recordação de alguns rompantes que caíram no gosto
popular. As bandas de forró - quase todas pertencentes a empresários - por
algum tempo sobreviveram por uma estratégia peculiar: no ano seguinte os mesmos
integrantes já faziam parte de uma banda com nome diferente. Até mesmo Brasas
do Forró e Mastruz com Leite, que se sobressaíam sobre as demais em qualidade,
perderam o fôlego de palco e de mídia.
Então,
intencionalmente trabalhados para sucessos de temporadas, surgiram cantores e
bandas cujos estilos se voltam para o popularesco dançante ou com sofrência de
traição amorosa. Cantores como Pablo e Tayrone cantaram essas dores corneadas
para depois sumirem. E dificilmente retornam. E assim também acontecerá com
aqueles ainda de sucesso atual, como Wesley Safadão, Luan Santana e tantos
outros. Certamente não farão falta quando houver o esgotamento geral de suas
idiotices musicais.
Por outro, um
alento, um tipo de boa recordação, já que nem tudo está perdido. E não está
perdido pela qualidade musical de um passado que de vez em quando retoma seu
lugar. Não diz respeito aos grandes nomes do cancioneiro popular nem dos
grandes mestres da MPB, mas tão somente de artistas e músicas que pontuaram e
ainda são ouvidos com gosto e saudosismo, principalmente por haverem marcado
intensos e amorosos momentos em muitas vidas.
A verdade é
que a canção faz bem quando a alma também canta, nem que seja empurrada pela
cachaça. E todo apaixonado que toma umas e outras bem sabe o tipo de música que
melhor lhe convém. Quem no passado não já ouviu “No toca-fita do meu carro, uma
canção me faz lembrar você, acendo mais um cigarro e procuro lhe esquecer”?
Ora, Bartô Galeno dá de dez a zero no Safadão, no Esticado, no Mano Walter, em
todas as Samira, Márcia Felipe e Marília Mendonça. Todos estes não seriam capaz
de fazer corações ainda mais apaixonados com canções assim: “... Ainda ontem
chorei de saudade, relendo a carta, sentindo o perfume, mas que fazer com essa
dor que me invade, mato esse amor ou me mata o ciúme...”, “Oh meu amado! Por
que brigamos? Não posso mais viver assim sempre chorando. A minha paz estou
perdendo, a nossa vida deve ser só de alegria, pois eu te amo tanto...”.
Ou ainda o
velho e bom Fernando Mendes: “Agora, que faço eu da vida sem você? Você não me
ensinou a te esquecer, você só me ensinou a te querer, e te querendo eu vou
tentando me encontrar...”. Também um hino antigo de amor cantado por José
Ribeiro: “Tens a beleza da rosa, uma das flores mais formosas... Tenho medo que
tua beleza de rosa se transforme num espinho, quase morro só em pensar em
perder teu carinho. Tenho medo que esta paixão seja uma ilusão sem fim, tenho
medo que não sejas a flor do meu triste jardim...”.
Brega para
uns, para outros apenas saudade, mas uma musicalidade ainda viva nos corações,
e tanto de balcão como de janela, tanto de lua grande como de insônia, pois
amor. Amor rasgado, porém verdadeiro.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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