A polêmica
frase "Bela, recatada e 'do lar' nos diz que "... são palavras muito
específicas e que objetificam as mulheres."
Maria Bonita
A autora (1)
dessa frase faz comentários e diz que BELA, simbolicamente, toda mulher tem de
ser bonita. Esse valor é algo muito forte tanto na sociedade ocidental quanto na
oriental. Não importa o que aconteça, mesmo que a mulher tenha acabado de ter
um filho, tem de estar com a barriga sarada duas semanas depois.
O recatada e o
'do lar' vêm de encontro ao 'bela' para formar a imagem de mulher perfeita, que
sabe se colocar no lugar dela e é submissa ao marido. É aquela velha história
de que atrás de um grande homem sempre há uma mulher. Essa escolha de palavras
segundo ela, foi muito infeliz. "Não me espanta a repercussão negativa que
o perfil teve, embora no Brasil, ainda exista aquela imagem de que uma mulher
foi estuprada porque estava de roupa curta", arremata.
No feminismo,
o que se prega é que cada mulher pode fazer o que quiser. Se quer parar de
trabalhar para cuidar dos filhos? Ok. Se quer casar com um homem mais
velho? Ok.
"Ela tem
direito de ser quem quiser, mas não se pode criar uma simbologia de que a
mulher perfeita deve seguir esses parâmetros."
Em uma
sociedade escravagista como a nossa sempre foi perfil da mulher ser uma senhora
de engenho, bonita, escolhida para casar, recatada, pois era preciso ser do
lar, pois era onde as mulheres ficavam limitadas nessa época.
O
livro Bonita Maria do Capitão (2) conta a história de mais uma mulher
que se viu coagida por uma sociedade impositiva que fazia as mulheres
serem "Belas, recatadas e preparadas para lar." - Maria Bonita
preferiu sair do lar imposto pela sociedade, para fazer de seu lar, o mundo
encantado do sertão.
Maria Bonita,
mesmo sendo uma mulher pobre, não muito culta, e como quase todas as mulheres
sertanejas daquela época, estava sendo preparada por seus pais para serem
recatadas donas de casa, cuidar do marido e dos filhos. Mas algo aconteceu em
sua vida que a retirou desse marasmo imposto por uma sociedade que olhava para
as mulheres serem exclusivamente 'do lar'.
Mas essa Maria
não se deixou dominar por isso e sem saber que passaria a ser famosa,
"...abandona o anonimato para pertencer à história do mundo."
"No caso
de Maria Bonita é diferente. Essa "Maria fez de si a própria entrega
para a história. Ela deixa de ser uma promessa e concretiza-se em senhora
de seu destino ao tomar a decisão de abandonar sua família para viver
ao lado do mítico cangaceiro Lampião. Essa Maria é a do Capitão."
Não sei por
que Joaquim Góis, ex-volante em seu livro intitulado Lampião: O último
cangaceiro, que teve a oportunidade de conhecer Maria Bonita em sua casa, onde
morava com seu primeiro marido, resolveu descrever a aparência física dela
antes dela ser a companheira de Lampião!
Lógico que
devemos entender que aqui se aplica o velho ditado que diz que “não existe
gente feia” pois a beleza ou feiura estão nos “olhos” daquele que ver.
Mas segundo
ele, ao entrar na tenda do sapateiro Zé de Nenê, com o propósito de fazer
algumas encomendas, notou uma mulher acabrunhada e sem beleza e escreveu
que "... ao seu lado uma cabocla apagada, rosto de linhas inseguras,
olhar vago e fugidio, corpo solto no desalinho e no mau gosto de um
vestido barato, de chita ordinária, marcado de cores berrantes, costurado à
moda de como costuram as mulheres de fim de rua das cidades pequenas.
Pés grandes, esparramados dentro de duas sandálias grosseiras, e rosto
comprido, moles, desbotadas; mãos de unhas sujas, mãos pequenas,
descuidadas; duas argolas vermelhas de ouro duvidoso caíam-lhe das orelhas;
cabelo de um castanho fosco, penteados em um volumoso cocó, bem
aprumado, um pouco acima da nuca; pescoço curto, queixo atrevido,
boca carnuda escondendo desejos; lábios corados como uma fruta
entreaberta, pedindo caricias; seios bambos, caídos; quadris
batidos; pernas fortes, semblante sem a beleza de um sorriso meigo,
quase duro na sua expressão [...]. De mulheres vulgares como Maria
de Déa, está cheio este sertãozão de meu Deus"
(GÓES, 1966,
p. 212).
O que fez Góes
mostrar uma pessoa que todos tinham como sendo uma bela mulher, dessa forma?
Lembremo-nos
que “não existe gente feia” e que talvez naquele momento em que Góis
entrou no recinto, Maria estivesse abatida talvez por uma situação de
constrangimento e cansada pela vivência com o sapateiro, em constantes
discussões, tivesse relaxado na indumentária e no semblante.
Vemos e
podemos assimilar, que essas palavras, talvez até um pouco desconfortáveis, foi
a visão momentânea do autor. Tudo bem que as sertanejas se arrumavam bem
melhor aos domingos de Missa ou festinhas de largo ou algum outro evento. Mas
se me permitem eu digo que foi uma maldade muito grande de Góes, retratar Maria
Déa dessa forma.
Em reportagem
do Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, edição de 8 de abril de 1967 o
jornalista Luis Carlos Rollemberg Dantas em reportagem sobre o livro de Góis,
diz que além de "liquidar com as intenções de determinadas publicações que
procuram mostrar Lampião como herói" também mostra "... Maria Bonita,
figura transfigurada pela lenda, e restabelecida convincentemente na
realidade" como se Góis retratasse Maria Bonita convincentemente como feia
e desengonçada, e isso fosse a realidade.
Para contrapor
essa ideia vejam essa foto tirada enquanto Maria estava "no lar" -
antes de entrar no cangaço.
Uma bonita
sertaneja com penteado simples e vestido comum, mas que realçava a beleza dessa
mulher. Uma beleza que talvez não aparecesse em instantes de desconforto com a
vida sem atrativos que levava.
Segundo as
autoras do livro Bonita Maria do Capitão, o "... que se pode
crer é que ela apresentava uma aparência comum, sem atrativos físicos que a
colocassem em algum patamar de beleza."
Agora vejam
essa foto feita no cangaço, mostrando o seu eu interior, livre e liberta dos
dogmas criados pela falsa e puritana sociedade. Maria do Capitão em seu sorriso
de alegria, cativou não só a Lampião, como a outros cangaceiros, que
testemunharam sua índole. Essa morena realmente era uma Rainha de seu Rei. Ela
era "Bela e Recatada" e seu Lar, a Caatinga do Sertão Nordestino! Seu
"crime" foi querer viver livremente e podemos afirmar que ela
encontrou a liberdade que almejava, nos braços de "uma fera perigosa"
- mulher nova bonita e carinhosa... faz o homem gemer sem sentir dor!
NOTAS:
1
- Helena Jacob, coordenadora do curso de jornalismo da Faculdade Cásper
Líbero e doutora em comunicação e semiótica pela PUC (Pontifícia Universidade
Católica) de São Paulo
2 -
Autoras: Vera Ferreira e Germana Gonçalves - Parte 1 Vida e Modos de
Maria
Todas as
frases em aspas estão nos livros e citações jornalísticas.
http://meneleu.blogspot.com.br/2017/01/maria-bonita-bela-recatada-e-nao-do-lar.html
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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