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quarta-feira, 16 de agosto de 2017

ENTRE LAMPIÃO E PADRE CICERO

CONTROVERSO
Benjamin Abrahão em 1923, já morador da casa do "Padim", elegância bancada com dinheiro dos fiéis;

Biografia conta a incrível trajetória de Benjamin Abrahão o imigrante sírio que se apresentava como jornalista e fotógrafo, foi secretário do religioso e se infiltrou no bando do cangaceiro.

Dono de uma trajetória curta, mas cheia de lances inacreditáveis, o imigrante sírio Benjamin Abrahão, que desembarcou no Recife na primeira década do século passado e morreu em 1938, aos 37 anos, acaba de ganhar uma biografia que faz jus ao seu espírito aventureiro, corajoso e controverso. 

INÉDITO
Livro revela o conteúdo da caderneta de campo de Abrahão e traz entrevista com Luiz Carlos Prestes

O livro chama-se “Benjamin Abrahão – entre Anjos e Cangaceiros” (Escrituras), foi escrito pelo historiador e especialista em cangaço Frederico Pernambucano de Mello, 

Frederico Pernambucano de Melo

e mostra como Abrahão acompanhou as demonstrações de fé e religiosidade que moviam os devotos do padre Cícero, no Ceará, e a violência e o banditismo praticados pelo grupo de Lampião. Dá o devido status a esse personagem que viveu na intimidade dois movimentos populares mais importantes do País.

Padre Cícero Romão Batista era filho da cidade de Crato no Estado do Ceará, mas radicado em Juazeiro do Norte também no mesmo Estado.

Entre os muitos documentos investigados por Mello estão as cadernetas pessoais do retratado, escritas em português e em árabe. Elas foram traduzidas durante três anos com a ajuda de dois professores de árabe e revelam a astúcia de Abrahão. Enquanto amenidades eram anotadas em português, as informações importantes eram escritas em árabe, como registros dos embates com a Coluna Prestes – Lampião havia oferecido seus serviços ao governo para ajudar a combater o avanço comunista no Nordeste. 

NO SERTÃO
O fotógrafo com Maria Bonita e Lampião, em 1936: documentário proibido pelo Estado Novo

Acostumado ao clima de conflitos, Abrahão chegou ao Brasil fugido do alistamento militar obrigatório na Síria durante a Primeira Guerra Mundial. Trazia no bolso uma duvidosa carteira de jornalista. Chegando, trabalhou com os tios como representante comercial e, numa viagem ao sertão, conheceu o padre Cícero. Contou ao religioso que havia nascido em Belém e, portanto, era “conterrâneo de Jesus”. Impressionado, o padre o nomeou secretário particular.


Abrahão aproveitou a fé que movia as pessoas até o santuário e resolveu fazer dinheiro. Quando padre Cícero morreu, passou a vender mechas do cabelo do religioso. A farsa foi logo descoberta, já que o homem santo não tinha tanto cabelo. Sua aproximação de Lampião se deu em 1936, ao encontrá-lo em Juazeiro. De olho no furo, ele tentou registrar as ações do bando. 

Conseguiu uma câmera e fez um documentário nunca exibido porque foi proibido pelo Estado Novo. O cangaceiro tornou público seu apreço por Abrahão ao reconhecer a qualidade do filme, declarando que jamais consentiria que outra pessoa fizesse tal registro de suas atividades. O que permanece sem explicação na vida desse misto de curioso e oportunista é a sua morte. Ele foi vítima de 42 punhaladas, não se sabe se motivadas por vingança amorosa ou política.

http://istoe.com.br/270461_ENTRE+LAMPIAO+E+PADRE+CICERO/

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