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quinta-feira, 30 de agosto de 2018

A FÉ PELA ESTRADA

*Rangel Alves da Costa

Imagino que há coisas muito mais interessantes que a política, políticos, paixões partidárias e fanatismos. Ideologias, alienações e fundamentalismos só servem aos que disto tiram proveito, e jamais aos que matam e morrem por partidarismos.
Não me distancio de tais questões, mas também não quero perder meu tempo em debates e discussões onde cada um só defende o seu imprestável preferido. Também não adiantaria discutir. As paixões são tão doentias que tudo resulta em tempo perdido.
Creio que existem coisas muito mais interessantes que precisam de atenção. Mesmo perante as agruras do mundo e as feridas abertas da realidade, há sempre uma fuga onde seja possível encontrar o que se possa chamar de vida.
Por isso mesmo que prefiro vivenciar retratos do meu sertão, a sentir e usufruir espiritualmente as imagens do meu sertão, a me envolver em discussões intermináveis sobre quais candidatos são piores ou melhores ou mesmo postar imagens daquilo que nada tem a ver com minha realidade.


Sim, ninguém vive sem a política, ninguém pode fugir de políticos, pois o próprio contexto social já é essencialmente político. Infelizmente tudo gira em torna da política, e tanto a política partidária como tudo aquilo que envolve a sobrevivência. Todo aumento de imposto ou de remédio, por exemplo, é um ato político.
A política está na sobrevivência e na própria existência de cada um. As ações políticas governamentais, as políticas públicas, as políticas de inclusão, as políticas sociais e econômicas. Nem sempre dão resultados, mas sempre estão na pauta de cada dia.
O que mais enoja, contudo, é a política partidária. Em tal contexto, a política profissional como expressão maior da hipocrisia, da demagogia, do engodo, da mentira, da improbidade, da ilicitude, da corrupção. Não há, pois, nada mais nojenta que a política partidária.
Contudo, que os abutres comam as carniças e os beija-flores voem pelos jardins. Que as aves agourentas piem os seus presságios e os madrigais ecoem os cantos passarinheiros. Que os espinhos despontem e as flores se sobressaíam às dores. Prefiro ser sertanejo a ser simplesmente eleitor.
Ainda prefiro encantar-me com as coisas simples a espantar-me com o já negativamente conhecido. Tenho olhares para tudo, mas olho ao que me agrada. Meu olha não busca o que deprime, enoja, ludibria. Meu olho busca a luz, a espiritualidade, a plangência da vida.
Enquanto vocês discutem política eu prefiro admirar-me com um retrato tipicamente sertanejo, com uma cena emoldurada na religiosidade de um povo. Uma estrada de chão e na estrada um povo em procissão. Uma imagem santa sendo levada em cima de um carro-de-bois e um povo caminhante extasiado pela fé e abnegação.
O que move um povo a agir assim, a colocar uma imagem santa sobre um carro-de-bois e sair pela estrada em cantos de devoção? O cumprimento de um destino de fé, apenas. Fé que faz curar, fé que faz chover, fez que traz esperança, fé que abre portas e caminhos, fé que alegra o coração e o fortalece para os duros embates da vida no mundo-sertão.


Prefiro, pois, tais fotografias a mil santinhos de candidatos. Todos estes, por serem imprestáveis, logo passarão. Os retratos do meu sertão jamais. Os retratos do meu sertão se eternizam como o próprio sertão. Tudo passa, tudo muda, mas sua raiz ainda fincada debaixo do sol e da lua.
E um povo que sai cortando estradas em procissão, debaixo do sol e pelo simples prazer da devoção. Não há uma gente devotada assim em nenhum outro lugar. Apenas no sertão. No meu sertão.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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