*Rangel Alves da Costa
Nesta época do ano, os sertões já começam a se enfeitar com roupagem nova de suas craibeiras. Quando florescem, contrastando com as paisagens entre o esverdeado e o acinzentado, as craibeiras passam a deslumbrar os olhares pela beleza de sua copa tomada de flores amareladas, douradas, que brilham ao sol e se derramam ao leito como majestoso tapete.
Perante as craibeiras nas ruas, avenidas e estradas, o sertanejo até se sente em outro lugar. Difícil é imaginar que de seu chão tantas vezes tão ressequido e tão sofrido, de repente floresça algo assim tão majestoso e encantador. Não só nas craibeiras como em outras árvores de ornamentação que a partir deste mês florescem em cores vivas, lilases, avermelhadas, sempre bem fortes e chamativas. Ora, quem é sempre acostumado com a flor amarelada da catingueira ou a esbranquiçada do mandacaru, logo se sente num mundo diferente.
Mas apenas o mundo sertanejo com suas surpresas e seus encantos. Por isso mesmo que as craibeiras são vistas como simbologias de um outro sertão possível de existir: o sertão bonito, frutificante, grandioso e de inigualável beleza. Também a sensação de que por cima da aridez da terra há muito mais a ser descoberto, tanto na natureza como no próprio homem. O sertanejo poeta de sua própria vida, o sertão poesia na sua própria existência.
E conheço uma craibeira de beleza especial: a craibeira na beira da estrada do Curralinho. Mas não uma simples craibeira, mas a craibeira mais linda e mais suntuosa do mundo, a craibeira mais florida e mais viva da terra. E o que mais desperta aos sentimentos: tamanha beleza em meio a uma paisagem sofrida, de pouca chuva e pouco verde, onde o marrom e o acinzentado se alastram e a poeira do chão se levanta a cada passagem. Mas é nesta moldura que está a craibeira.
O retrato: a estrada de chão batido, entremeada de pontas de pedras e secura, num caminho tipicamente sertanejo, pois ladeado por cercas de arames farpados, plantas rasteiras e ressequidas, tufos de matos, tendo alguma vegetação carcomida de sol pelos arredores, numa angustiante desolação, mas ao mesmo tempo a presença, bem no beiral da estrada, da imponente craibeira. Quem, entre a surpresa e o fascínio, não duvidará de estar em outro mundo que não o sertanejo?
Mas está no sertão, sim senhor. A craibeira é tão sertaneja como o próprio homem da terra, é tão matuta quanto a catingueira, o mandacaru e o xiquexique. Contudo, não é fácil de ser encontrada. Daí sua beleza ainda maior ao surgir como surpresa ao olhar, daí sua magia ao ser avistada até como uma impensável florada sertaneja: flores amareladas, vivas, de um dourado ora mais singelo ora mais suntuoso, sobressaindo perante tudo o que houver na paisagem ao redor.
A verdade é que o florescer das craibeiras se torna a mais bela poesia sertaneja. Mesmo ainda distantes, logo os olhos divisam aquelas cores majestosas tomando a copa das árvores defronte às moradias, casebres longínquos, beiras de estradas, sempre se sobressaindo nas paisagens. Talvez vaidosa demais, mas a verdade é que as craibeiras gostam de crescer afastada de outras árvores, em local onde possam florescer e logo serem reconhecidas pela beleza de suas cores.
A partir de setembro, em plena estiagem, com tudo ao redor acinzentado e quando o clima começa a esquentar ainda mais, eis que elas desafiam a paisagem e irrompem com suas folhas amareladas. E basta o florescer imponente para que tudo se transforme ao redor, vez que as atenções não serão outras que não para a árvore símbolo da beleza em meio ao impensável.
E não obstante as copas douradas, revestidas de um amarelo tão vivo que chega a brilhar à luz do sol, o chão logo abaixo também se transforma num tapete de incomparável formosura. E o mais incrível é que as flores surgem desnudadas de folhas; ou seja, vão desabrochando junto aos galhos e tomam toda a copa das árvores, atraindo pássaros, borboletas, abelhas e principalmente o olho humano.
Eis, assim, retratos de um sertão florido, cativante e belo, pelas floradas das craibeiras.
Escritor
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