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segunda-feira, 22 de abril de 2019

LÍDIA E O MISTÉRIO DO BANCO

*Rangel Alves da Costa

Das três gestões de Alcino Alves Costa na prefeitura de Poço Redondo, no sertão sergipano, além das muitas obras que ainda são avistadas por toda cidade e povoados, alguns bancos de praças foram guardados por moradores assim que administradores posteriores simplesmente resolveram retirar os assentos da administração do saudoso prefeito.
Mas hoje, que eu saiba, em apenas dois lugares tais bancos são encontrados: ao lado da casa de Arnaldo, logo após a ponte, e na calçada da casa de Lídia de Miguel Grassú, na atual Praça Eudócia (ou praça do redondo).
Pois bem. Sempre na brincadeira, toda vez que passo ou chego à casa de Lídia para um proseado (as irmãs e amigas sempre estão ali conversando após o entardecer e nas vagas da noite) e digo que vou levar o banco para o Memorial, logo a dona responde à altura.
De início, ela raivosa, xingava mesmo, dizia que dali aquele banco não saí de jeito nenhum, nem que um trator chegue pra arrancar da calçada e tirar. O trator vai e o banco fica. Mas de uns tempos pra cá deixou de responder com palavras. Agora basta o seu olhar armado com punhal e peixeira pra dar o recado. Diante da fúria, eu logo deixo até de brincar.
Mas qual o motivo de Lídia ter tanto apego a esse banco, vez que apenas uma estrutura em cimento com o nome “Administração Alcino Alves Costa”? Por diversos motivos, creio. Alcino era muito amigo da família Grassú, amigos de todos mesmo. Alcino sempre estava ali na Praça Arnaldo Rollemberg Garcez (nome anterior da Praça Eudócia) conversando com um e outro.


Na última gestão de Alcino, a praça onde mora Lídia era de magistral beleza, toda florida, com fonte luminosa e bancos dignos de uma assentada para um proseado ou uma paquera. Não havia praça mais bonita que aquela onde Lídia tanto acostumou a avistar da cadeira em sua calçada.
Ademais, Lídia também sempre foi muito amiga e apegada a Alcino e seus familiares, como se pertencesse à própria família Marques. Desse modo, quando os bancos foram retirados e a praça totalmente descaracterizada, então a família de Lídia resolveu guardar um daqueles suntuosos assentos como lembrança.
Não só colocou o banco sobre a calçada como providenciou a cimentação dos pés, de modo que ninguém pudesse retirar. Depois Lídia passou a cuidar do banco como se estivesse cuidando de uma flor no jardim. Por isso mesmo que o banco continua tão bem preservado e servindo como viva recordação não só de Alcino como daquele Poço Redondo tão singelo e tão bonito.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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