Por João da Mata
Alcino Alves
Costa – sobrinho do cangaceiro - poeta Manoel Marques da Sila o Zabelê-, nasceu
em Poço Redondo – SE, e aí viveu intensamente como ativo protagonista e
guardião de sua história contada numa dezena de livros. Filho de Ermerindo
Alves da Costa e de Emeliana Marques da Costa, Alcino foi um político que amava
sua terra e costumes. Foi prefeito por três vezes do município de Poço
Redondo – SE, deixou a política para se dedicar ao estudo do cangaço e das
ricas tradições culturais de sua terra natal amada.
Grande
contador de causos, um caipira como gostava de ser chamado, é referência
obrigatória em se tratando de cangaço. Mesmo sendo um profundo conhecedor da
saga lampiônica, não tinha a presunção daqueles que se consideram dono da
verdade. Gostava de dizer, essa é a minha versão. O seu primeiro sobre o
cangaço, já em terceira edição, teve o prefácio da professora antropóloga
Luitgarde Barros, que escreve: “este livro não é de ficção”, pelo contrário, o
livro tem como objetivo a desmistificação de alguns detalhes envolvendo um dos
fenômenos social mais estudado do Brasil, o cangaço. Alcino é um grande
contador de estórias ou histórias. Seus livros são muito bem escritos e
referenciados com outros escritores da mesma saga. Muitas vezes Alcino corrige
informações contidas em outros livros referencia da saga do cangaço. É um
escritor que escreve com paixão a dura realidade de um nordeste exsicado pelas
longas secas onde sobrevivem as plantas cactáceas: xiquexique, macambira,
quipá, mandacaru, cabeça – de – frade e facheiro. E por que não falar da
arvores sagrada do sertão, o umbuzeiro. Arvore que mata a sede, serve de sombra
e de refúgio para beatos e cangaceiros. A crueldade do bando de Lampião não é
maior que a dos volantes. Muitas vezes existe uma migração de um lado para
outro. Zé Rufino, por parte dos Volantes e, Lampião, por parte dos bandidos,
foram os marechais do sertão e vinha do mesmo tronco familiar. Tanto volantes
quanto os bandidos assustavam e espoliavam os homens que habitavam aquele
estranho e perverso mundo.
Os nazarenos
foram os grandes combatentes dos temidos cangaceiros. Mané Neto, o temido vesgo
de Nazaré – PE, luta contra o bandido Sabonete.
“um bandido
pula para a frente dos inimigos. Está enlouquecido Com um punhal na mão corre
na direção de Mané Véio. Parece que quer sangrá-lo. O cangaceiro está tão
próximo do nazareno que este não tem dificuldade nenhuma em d com um tiro
certeiro na cabeça. O Assecla cai morto aos seus pés”.
Morto de sede o nazareno toma a água com sangue na cabaça do “cabra”. (Fogo de Maranduba. Lampião Além da Versão pp. 168). As Nas Batalhas de Maranduba e Serra Grande os cangaceiros desafiaram seus algozes.
Lampião só
pode surgir num sertão esquecido pelo poder, numa terra desolada e esturricada
por tenebrosas secas, onde reinava os grandes latifúndios governados por
coronéis. Mesmo assim, Lampião teve desavença com poucos coronéis e a sua
presença fez tremer o poder e riqueza dos senhores das terras que remonta às
capitanias hereditárias. O flagelo da seca continua. O sertão é outro e os
deserdados da seca recebem, hoje, uma bolsa- família.
As opçoes de
vida eram poucas e entrar para o exercito ou cangaço eram faces da mesma moeda.
O cangaço também era poder e muitos filhos de famílias entraram para esse mundo
sem nenhuma motivação provocada por mortes ou vinganças. Muitas vezes as
desavenças surgiam por uma intriga, fuxico ou delação (veja o terrível caso da
morte de Zé Vaqueiro ). Cangaceiro detesta fuxico e covardia. Outras vezes as
brigas aconteciam por vinganças entres famílias ou traição. “ O traidor sempre
foi a figura mais odienta dentro do mundo caipira e do meio do cangaceiro. Para
o delator não havia perdão” ( op. Cit. pp. 239).
Um homem
simples apaixonado pela vida e pelas mulheres. A paixão pelo cangaço e Sergipe,
só perdia para elas. Casou muitas vezes e deixou muitas viúvas. Além dos livros
que conseguiu publicar, deixou outros inéditos. Alcino Alves Costa viveu toda a
sua vida num dos principais cenários, palco da saga de Lampião. Ouvindo pessoas
e pesquisando os lugares e refúgios onde foram travadas as batalhas ele pode
reunir muitas histórias e versões contadas dos embates entre coroneis,
volantes, coiteiros e beatos.
Pode não ser a
versão verdadeira, mas é uma versão que precisa ser ouvida e lida. Seus livros
ficam e são imprescindíveis para quem estuda o cangaço e os costumes e cultura
dos nordestinos. “Lampião além da versão – mentiras e mistérios de Angico” (3ª
edição 2011), “O Sertão de Lampião” ( 2ª edição 2008); e “Poço Redondo, a saga
de um povo” ( 2009).
O autor ainda
escreveu um livro que ele considerava o seu melhor trabalho. “Maria do Sertão”,
seu primeiro romance ficional.
História e
Lendas do Sertão, Sertão Viola e Amor, Preces ao Velho Chico entre outros
livros escritos por Alcino Costa, enriquecem a etnografia nordestina e a
cultura brasileira.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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