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sábado, 2 de novembro de 2019

ALCINO ALVES COSTA: O CAIPIRA POETA E CANGACEIRO DE POÇO REDONDO – SE ( 1940 – 2012)


Por João da Mata

Alcino Alves Costa – sobrinho do cangaceiro - poeta Manoel Marques da Sila o Zabelê-, nasceu em Poço Redondo – SE, e aí viveu intensamente como ativo protagonista e guardião de sua história contada numa dezena de livros. Filho de Ermerindo Alves da Costa e de Emeliana Marques da Costa, Alcino foi um político que amava sua terra e costumes. Foi prefeito por três vezes do município de Poço Redondo – SE, deixou a política para se dedicar ao estudo do cangaço e das ricas tradições culturais de sua terra natal amada.

Grande contador de causos, um caipira como gostava de ser chamado, é referência obrigatória em se tratando de cangaço. Mesmo sendo um profundo conhecedor da saga lampiônica, não tinha a presunção daqueles que se consideram dono da verdade. Gostava de dizer, essa é a minha versão. O seu primeiro sobre o cangaço, já em terceira edição, teve o prefácio da professora antropóloga Luitgarde Barros, que escreve: “este livro não é de ficção”, pelo contrário, o livro tem como objetivo a desmistificação de alguns detalhes envolvendo um dos fenômenos social mais estudado do Brasil, o cangaço. Alcino é um grande contador de estórias ou histórias. Seus livros são muito bem escritos e referenciados com outros escritores da mesma saga. Muitas vezes Alcino corrige informações contidas em outros livros referencia da saga do cangaço. É um escritor que escreve com paixão a dura realidade de um nordeste exsicado pelas longas secas onde sobrevivem as plantas cactáceas: xiquexique, macambira, quipá, mandacaru, cabeça – de – frade e facheiro. E por que não falar da arvores sagrada do sertão, o umbuzeiro. Arvore que mata a sede, serve de sombra e de refúgio para beatos e cangaceiros. A crueldade do bando de Lampião não é maior que a dos volantes. Muitas vezes existe uma migração de um lado para outro. Zé Rufino, por parte dos Volantes e, Lampião, por parte dos bandidos, foram os marechais do sertão e vinha do mesmo tronco familiar. Tanto volantes quanto os bandidos assustavam e espoliavam os homens que habitavam aquele estranho e perverso mundo.

Os nazarenos foram os grandes combatentes dos temidos cangaceiros. Mané Neto, o temido vesgo de Nazaré – PE, luta contra o bandido Sabonete.

“um bandido pula para a frente dos inimigos. Está enlouquecido Com um punhal na mão corre na direção de Mané Véio. Parece que quer sangrá-lo. O cangaceiro está tão próximo do nazareno que este não tem dificuldade nenhuma em d com um tiro certeiro na cabeça. O Assecla cai morto aos seus pés”.

Morto de sede o nazareno toma a água com sangue na cabaça do “cabra”. (Fogo de Maranduba. Lampião Além da Versão pp. 168). As Nas Batalhas de Maranduba e Serra Grande os cangaceiros desafiaram seus algozes.

Lampião só pode surgir num sertão esquecido pelo poder, numa terra desolada e esturricada por tenebrosas secas, onde reinava os grandes latifúndios governados por coronéis. Mesmo assim, Lampião teve desavença com poucos coronéis e a sua presença fez tremer o poder e riqueza dos senhores das terras que remonta às capitanias hereditárias. O flagelo da seca continua. O sertão é outro e os deserdados da seca recebem, hoje, uma bolsa- família.

As opçoes de vida eram poucas e entrar para o exercito ou cangaço eram faces da mesma moeda. O cangaço também era poder e muitos filhos de famílias entraram para esse mundo sem nenhuma motivação provocada por mortes ou vinganças. Muitas vezes as desavenças surgiam por uma intriga, fuxico ou delação (veja o terrível caso da morte de Zé Vaqueiro ). Cangaceiro detesta fuxico e covardia. Outras vezes as brigas aconteciam por vinganças entres famílias ou traição. “ O traidor sempre foi a figura mais odienta dentro do mundo caipira e do meio do cangaceiro. Para o delator não havia perdão” ( op. Cit. pp. 239).

Um homem simples apaixonado pela vida e pelas mulheres. A paixão pelo cangaço e Sergipe, só perdia para elas. Casou muitas vezes e deixou muitas viúvas. Além dos livros que conseguiu publicar, deixou outros inéditos. Alcino Alves Costa viveu toda a sua vida num dos principais cenários, palco da saga de Lampião. Ouvindo pessoas e pesquisando os lugares e refúgios onde foram travadas as batalhas ele pode reunir muitas histórias e versões contadas dos embates entre coroneis, volantes, coiteiros e beatos.

Pode não ser a versão verdadeira, mas é uma versão que precisa ser ouvida e lida. Seus livros ficam e são imprescindíveis para quem estuda o cangaço e os costumes e cultura dos nordestinos. “Lampião além da versão – mentiras e mistérios de Angico” (3ª edição 2011), “O Sertão de Lampião” ( 2ª edição 2008); e “Poço Redondo, a saga de um povo” ( 2009).

O autor ainda escreveu um livro que ele considerava o seu melhor trabalho. “Maria do Sertão”, seu primeiro romance ficional.

História e Lendas do Sertão, Sertão Viola e Amor, Preces ao Velho Chico entre outros livros escritos por Alcino Costa, enriquecem a etnografia nordestina e a cultura brasileira.


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