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sexta-feira, 6 de novembro de 2020

A arca

 
Por Rangel Alves da Costa


 
Eu não quis mais avistar
os lixões com seus pássaros famintos
os silêncios tristes nos olhos dos meninos
 
eu já não suportava alimentar
de restos de restos e putrefatos grãos
os animais que me estendiam as mãos
 
quanto me doía ouvir os lobos
uivando suas fomes em sertões tão pobres
e no alto da montanha a fartura dos nobres
 
então das lágrimas famintas eu enchi o mundo
e toda a lonjura da terra logo se tornou em mar
e todos então correram para a arca alcançar
 
mas somente os pássaros meninos
mas somente os lobos de tristes destinos
e aqueles bichos jogados aos desatinos

estavam salvos ao amanhecer!
 
 
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