Corriam os anos da década de 1970 e o gênero Artes Marciais se instalava nos cinemas do mundo. No Brasil vira uma febre abrindo espaço para muitas academias e “alguns mestres”. O chique era andar de quimono nas ruas e parar que nem um boneco, com braços e pernas arqueadas. Aqui entre nós, não seria diferente e as telas dos prédios de cinemas de Mossoró se tingiam de sangue nas projeções e de adeptos do karatê e seus congêneres. Grandes nomes conquistaram suas famas através da 7ª Arte, sendo o principal deles Bruce Lee (1940 – 1973), o sino-americano morto no auge da carreira. Apesar da diferença de idades, Carlinhos de João Agostinho era amigo, admirador e fã incondicional de Antôi Baixinho. Para todos os lugares que um ia, o outro queria ir.
Não seria diferente com relação ao cinema. Enquanto o fã era tímido, encabulado ao ponto de não falar, o outro, que nem até hoje, falando pelos cotovelos, independente de evento ou lugar. E numa tarde de domingo, o vesperal do CINE CID trazia mais um título extenso e chamativo: KUNG-FU CONTRA OS 7 VAMPIROS DE OURO.(1984) João de Agostinho era fã incondicional de filmes. Mas, desta vez não indo, comprou ingresso pra dois e deixou Antôi de Pedrinha levar seu caçula ao cinema... E lá foram, numa bicicleta veloz, os dois encangados para centro da cidade, parando apenas na Praça da Matriz. A projeção começa, a estória avança, as tensões aumentam até que chega o momento esperado: o confronto do “artista” com os 7 bandidos. E, para desespero do fã, Antôi baixinho se solta e começa uma narração a cada pancada segura que 1 vampiro recebe:
- TOME, BANDO DE BESTA! TOMEM PEIA! LASCOU-SE! AMANHÃ VÃO TODOS LÁ PRA DR. JOÃO MONTE REMENDAR OS CANINOS... VÃO SAIR TUDO DE BEIÇO INCHADO. TOME! VÃO MORDER PESCOÇO AGORA! ARROCHA KUNG-FU!
Ao seu lado, Carlinho de João Agostinho, morto de vergonha, sem coragem de olhar pra ninguém, pedindo a Deus que o filme acabe e ele corra pra casa, fugindo deste mico. (Causos do Cinema em Mossoró – Carlos Almeida & Kydelmir Dantas).
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