Por: Geraldo Maia do Nascimento
Em 23 de julho de 1974, numa terça-feira, morria em Vitória/ES, D. Noemi da Escóssia Nogueira, aos 96 anos de idade. D. Noemi foi a companheira de toda a vida do jornalista João da Escóssia Nogueira, diretor do jornal “O Mossoroense” no período de 1902 a 1917, que além dos afazeres domésticos, acompanhava o marido nas batalhas jornalísticas.
Noemi Dulcila de Souza, posteriormente Noemi da Escóssia, nasceu em Mossoró a 15 de junho de 1876. Casou-se com João da Escóssia, com quem teve 12 filhos, sendo que os dois primeiros, Jeremias da Rocha Nogueira Neto e Isabel, morreram ainda criança. Com o marido, participava da luta diária do jornal que ele herdou do pai. Para ela o jornalismo era “a mais nobre das profissões, por ser dinâmica e ao mesmo tempo uma escola mais profunda do que qualquer universidade, para os que a integram. Dizia ela que “se aprende mais em dois anos de jornalismo do que em 20 numa faculdade de Ciências Humanitárias”. Com a sensatez que lhe era peculiar, e a experiência de toda uma vida, dizia: “A profissão de jornalismo nos ensina a viver e a olhar o mundo através de planos objetivos. Passamos por todas as emoções possíveis: do nojo, ao vermos um cadáver em putrefação dentro de uma sala de autópsia; passamos medo, quando realizamos determinada cobertura de reportagem; passamos ódio, quando descobrimos as injustiças do mundo; e alegria quando vemos um grupo de crianças brincando alheias aos defeitos dos homens, num parque de uma escola”.
Era uma mulher de espírito filantrópico, presidindo por vários anos a Sociedade Damas de Caridade, “além de acompanhar o seu marido no infortúnio de uma paralisia parcial que o atormentou nos dez anos que precederam sua morte em 1919. Viuva, não se deixou abater frente à responsabilidade de educar a todos seus filhos na mesma escola de trabalho gráfico e jornalístico que era portador João da Escóssia. E com os mesmos manteve acesa a chama da imprensa mossoroense através dos anos”, como disse Lauro da Escóssia ao se referir a ela.
Em 1934 D. Noemi deixou Mossoró e fixou residência na capital capixaba, onde residiam três dos seus filhos, e onde viveu até o fim dos seus dias. Era uma mulher notável, de excessiva força de vontade e de grande vocação religiosa.
Nas palavras de Raimundo Nonato, “com os Escóssia “O Mossoroense” transpôs a raia do centenário, comemorado a 17 de outubro de 1972, e relembrado numa promoção de afetuoso reconhecimento pelos serviços prestados pelo velho órgão a Mossoró, à cidade e ao município, sempre colocado no combate leal, na defesa dos seus problemas e dos seus legítimos interesses\"”
Na edição do dia 24 de julho de 1974 de “O Mossoroense”, um dia após a sua morte, uma nota que dizia: “Noemi da Escóssia Nogueira – a velha jornalista incentivadora das gerações que sucederam ao seu marido João da Escóssia, na permanência deste órgão de imprensa, mãe e avó dos que na atualidade arcam com a responsabilidade da sua existência, fechou os olhos ontem para sempre, na resignação dos desígnios traçados por Deus”. E completa Raimundo Nonato: “Com ela desapareceu não só uma existência, porém uma tradição, uma força geradora de entusiasmo, um exemplo de orientação que se refletiu nos filhos, Augusto e Lauro, continuadores históricos da luta do jornalismo mossoroense, que vem dos dias de Jeremias da Rocha Nogueira, e se engrandeceu, admiravelmente, com João da Escóssia, um grande artista e um espírito iluminado pelo idealismo e pelo amor à liberdade”.
Geraldo Maia do Nascimento
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