É prazeroso
ver uma matéria como esta, parte integrante da história do cangaço, da lavra,
muitas vezes, de anônimos jornalistas, retornar ao público em geral, o seu
verdadeiro dono, depois de quase 80 anos de um dormir profundo, num quase
estado de coma, nas velhas folhas dos extintos jornais.
O GOVERNADOR ERONIDES DE CARVALHO PREMIOU AQUELES QUE LIVRARAM O NOSSO SERTÃO DO PERIGOSO BANDIDO JOSÉ BAIANO.
Preocupado em
bem servir ao povo de sua terra, o governador Eronides de Carvalho não perde
oportunidade para demonstrar o zelo com que exerce os árduos misteres
governamentais.
Agora mesmo, Sua Excelência acaba de mandar à Chefia de Polícia distribuir, como
prêmio, 9:000$000 com os seis sertanejos que, sob as ordens de Antonio Pereira,
livraram o hinterland sergipano do famigerado grupo de cangaceiros de José
Baiano.
Além do prêmio oficial acima referido, Sua Excelência autorizou os valentes
homens a venderem o ouro encontrado em poder dos bandoleiros, o que fizeram,
tendo apurado 3:330$000, isto porque preferiram ficar com várias das jóias
apreendidas, e bem assim com o chapéu do bandido José Baiano, todo cravado de
pequenos objetos e moedas de ouro.
Também a importância de 6:025$000, que os bandidos traziam, ficou para ser partilhada entre os seis destemidos benfeitores das plagas sertanejas, por ordem de Sua Excelência, que, por último, resolveu autorizar Antônio de Chiquinha a organizar uma volante composta de 15 homens decididos, para dar caça aos demais grupos de cangaceiros que infestam as caatingas sergipanas e baianas.
Assim fazendo, o governador Eronides de Carvalho fica cada vez mais credor do apreço dos seus conterrâneos para servir aos quais não poupa esforços.
Consoante
prometemos ontem, publicamos a seguir o resultado de exame feito pelo doutor
Carlos Menezes, médico legista da Polícia, nos cadáveres do bandido José Baiano
e seus companheiros de cangaço.
O RESULTADO DO
EXAME DOS CADÁVERES – AS OBSERVAÇÕES DO LEGISTA DA POLÍCIA
Notas para o
auto de exumação e verificação de óbito de José Baiano, Chico Peste, Demudado e
Acilino.
“Em um terreno coberto de capoeira grossa, do lado nascente da estrada que liga Alagadiço a Lagoa Nova, em um antigo formigueiro assinalado por uma fogueira também antiga, foi designado por Antonio de Chiquinha e Pedro Guedes, como sendo o local onde sepultaram os corpos de José Baiano, Chico Peste, Demudado e Acilino, na noite de 7 do corrente, após decapitação post-mortem do primeiro. Ordenou o senhor major chefe de Polícia que fosse a dita sepultura aberta, o que sendo feito por dois trabalhadores voluntários da localidade, e retirada a terra com as devidas precauções, foram encontrados a cerca de cinqüenta centímetros da superfície, dois corpos em adiantado estado de putrefação em decúbito dorsal, e orientados com os pés para o nascente, e, repousada sobre os pés, uma cabeça separada do pescoço por sucessivos golpes de facão. Retirados os corpos e cabeça da sepultura e transportados para uma mesa sumária (duas taboas) foram cuidadosamente despojados da camada de barro pegajoso que os envolvia, desnudados e examinados. A cabeça, de malares fortemente acentuados tendo aderente ao couro cabeludo espessa e longa cabeleira crespa, e a cuja dentadura faltava o incisivo mediano direito superior, estava relativamente conservada, e foi facilmente reconhecida como sendo José Baiano. À base do crânio, aderiram quatro vértebras cervicais, estando a quinta seccionada. Os corpos, cujo tegumento externo tinha sido protegido pelas roupas (mescla azul), foram também reconhecidos como sendo Chico Peste e Demudado, apresentando o primeiro quatro perfurações, feitas com instrumento pérfuro-cortante no hemitórax esquerdo e dorso, e amputação da calote craniana ao nível do sinciput; o segundo apresentava também quatro perfurações do tórax ao nível das linhas axilares médias e posterior esquerda e mamelão esquerdo e uma larga cutilada no flanco esquerdo. Continuada a exumação foram encontrados mais dois corpos, e retirados da sepultura com os mesmos cuidados, limpos e desnudados foram examinados sendo o primeiro, Acilino de tal, recentemente ingressado no bando de José Baiano, e o segundo, decapitado ao nível da quinta vértebra cervical, como o aludido chefe do bando. O primeiro, além da perfuração do tórax e ferimento largo do abdômen, com hérnia do intestino delgado, apresentava um golpe na face posterior do crânio seccionado o occipital, parietais e atingindo a apófise mastóidea esquerda, José Baiano, além de três perfurações do tórax ao nível da região precordial, outra na região subclávia e ainda outra na linha axilar posterior direita, todas penetrantes do tórax e decapitação.
O cadáver de José Baiano vestia túnica mescla, camisa de quadros, culote e calçava meias escuras. Em todos os corpos examinados, isto é, nas roupas dos cadáveres foram constatados eloquentes vestígios de luta.
Recompostos os corpos foram inumados no mesmo local.
Fotos: Antonio
de Chiquinha e companheiros e Zé Baiano e comparsas - extraídas do livro
"Lampião Assaltos e Morte em Sergipe", de Juarez Conrado.
Fonte: facebook
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Caro Corrêa Sobrinho e amigo Mendes, eu não tinha conhecimento dessas informações entre a morte de Zé Baiano e os prêmios que o pessoal ganhou através do Governador Eronides de Carvalho. PARABÉNS PESQUISADOR ANTONIO CORRÊA SOBRINHO por tão valiosas informações passadas para o companheiro MENDES.
ResponderExcluirAntonio José de Oliveira - Bela Vista -Serrinha - Bahia.